Entranhas da "Revolução Industrial"
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a 02/12/2024 - 16:30
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Evento de lançamento do livro "Civilização e Inovação" (Ed. Annablume), de Ademar Romeiro, professor de economia do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE/Unicamp). O autor será entrevistado pelo jornalista econômico Diego Viana e por José Eli da Veiga, professor sênior do IEA.
As interpretações históricas da Revolução Industrial (RI) contrapõem ênfases nas peculiaridades europeias internas a destaques para suas conquistas coloniais. Neste livro, o professor Ademar Romeiro (IE/Unicamp) reforça a primeira visão, mas em vertente evolucionária darwiniana, centrada em grupos, unidades políticas e organizações corporativas variadas.
Para Romeiro, a RI resultou de uma dinâmica civilizadora única. A partir do fim do Império Romano, uma nova e inédita civilização se define. Algo tão extraordinário quanto uma mutação genética.
Inédita, no sentido de ser permanentemente aberta a inovações de todos os tipos: culturais, institucionais, organizacionais e tecnológicas. Inovações que perturbaram -positiva ou negativamente - ordens estabelecidas.
Em outras civilizações, uma vez consolidada nova ordem social, as elites tendiam a controlar ou bloquear inovações que ameaçassem seus privilégios. A população também tendia a ver tal ordem como natural, frequentemente personificada em mandatários divinos ou semidivinos.
Na Europa foi bem diferente. O dinamismo inovador/transformador europeu resultou de um espaço civilizacional com características políticas e culturais únicas. Um espaço permanentemente fragmentado politicamente, marcado pela competição entre diversas unidades políticas.
Dentro destas, forte competição entre organizações de caráter corporativo: comunas citadinas, associações profissionais, organizações religiosas e universidades. Pensadores, artistas e mercadores circulavam neste espaço, formando uma espécie de cérebro coletivo em expansão e aberto a novas ideias. Como resultado, inovações de todos os tipos não tinham como ser controladas por interesses, velados ou explícitos, na manutenção do status quo.
Um cenário que se compõe com uma cultura progressiva e individualista. Progressiva no sentido de uma visão histórica linear e não cíclica, conferida pelo judaico/cristianismo; individualista pela destruição do familismo multimilenar decorrente de novas regras de casamento proibindo o casamento entre parentes (entre primos), abrindo caminho para a emergência do capitalismo moderno onde as organizações e as transações econômicas não são baseadas em laços familiares.
Após um longo período de formação, que vai da queda do Império Romano no século V até a consolidação da ordem feudal no final do século X, a matriz medieval da civilização europeia se define: família nuclear e corporações em vez de clãs familísticos fornecendo os bens públicos que os estados não tinham condições de suprir.
Uma civilização que nos séculos seguintes vai dando origem a novas ordens sociopolíticas: de feudais a capitalistas territoriais. Estados nacionais monárquicos mais ou menos absolutos e, depois, monarquias parlamentares e repúblicas. No plano cultural, reformas e revoluções se sucedem: a reforma protestante, a revolução científica, a emergência da contracultura como um traço cultural permanente de uma civilização mutante.
Ao substanciar esta visão, o trabalho confirma, também, as teses de Geoffrey Hodgson e Joseph Henrich: processo de mutação societária contínuo, sociopolítico e cultural.
Exposição:
Ademar Romeiro (IE/Unicamp)
Entrevistadores:
Diego Viana (jornalista)
José Eli da Veiga (Programa Professor Senior)
Transmissão:
Acompanhe a transmissão do evento em www.iea.usp.br/aovivo