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XXV Seminário Internacional de Filosofia, História e Sociologia da Ciência e da Tecnologia

por Cláudia Regina - publicado 19/02/2014 11:35 - última modificação 10/05/2018 14:25

Detalhes do evento

Quando

de 20/03/2014 - 09:30
a 20/03/2014 - 12:30

Onde

Sala de Eventos do IEA, Rua Praça do Relógio, 109, bl. K, 5º andar, Cidade Universitária, São Paulo, SP

Nome do Contato

Telefone do Contato

(11) 3091 1681

Participantes

Conferencista: Helena Mateus Jerónimo (ISEG - Universidade de Lisboa / Pesquisadora Visitante FAPESP).
Coordenador: Pablo Mariconda (IEA).

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Conferencista: Helena Mateus Jerónimo

Coordenador: Pablo Rúben Mariconda

A peritagem científica: suas especificidades no saber e na ação

A reflexão sobre os conceitos de risco e os vários tipos de incerteza convida a pensar o lugar, o desempenho e o sentido da peritagem científica. A peritagem científica é uma atividade de interface entre o mundo científico e o mundo da decisão. Na hipótese interpretativa de Philippe Roqueplo (1997), sociólogo francês com estudos relevantes nesta área, é precisamente a inscrição no dinamismo do processo decisório que caracteriza e define a peritagem científica e os peritos. Neste sentido, a expressão de um conhecimento científico só adquire valor de peritagem quando é convocado para clarificar, justificar ou fundamentar, mesmo que parcialmente, uma decisão. Trata-se de um conhecimento que serve a decisão, embora não constitua a própria decisão. Parece, assim, justificado que nos interroguemos sobre várias questões pertinentes. O que é que caracteriza a actividade do perito, por comparação ao do cientista? Qual é a incumbência do aconselhamento científico quanto à decisão política, dado que a ciência, para além dos seus limites cognitivos e éticos, nos coloca em plena controvérsia em termos de opções entre horizontes de perigos, riscos e incertezas? Ao procurar obter legitimidade através do recurso ao conhecimento científico, não se depararão as instâncias políticas com as insuficiências de legitimidade da própria ciência?


Com base na literatura sociológica existente sobre a peritagem científica, argumento que a posição do perito não pode ser entendida sem referência ao contexto da sua convocação, da ligação à decisão política e dos constrangimentos indexados a essa finalidade. Nas atuais condições de busca e dependência de soluções de base científica, as exigências e expectativas depositadas na expertise científica por parte dos responsáveis políticos em decisões tecnicamente complexas e da sociedade em geral colidem com os limites intrínsecos do seu aconselhamento, com a interpenetração de juízos normativos e variáveis contextuais, com os conflitos entre peritos e com o reconhecimento das incertezas e da ignorância no que concerne a sistemas tecnocientíficos complexos ou a problemas ambientais e de saúde pública.


A partir destas considerações, procuro refletir sobre o modo como a peritagem científica enfrenta encruzilhadas específicas, o que nos incita a reavaliar as capacidades, equilíbrios e tensões na relação entre ciência e política. Em primeiro lugar, exporei argumentos que mostram como a peritagem científica se constitui como uma instância que amplifica a já inerente complexidade das relações entre ciência, sistemas tecnológicos e valores sociais e políticos. Em segundo lugar, ilustrarei, tendo por base vários estudos de caso, que, no quadro dessa complexidade, a peritagem científica possui uma significativa multiplicidade de formatos. Por último, analisarei a tendência das comissões de peritos para subsumir as incertezas inerentes a muitos dos fenômenos para os quais são mobilizados e se confinarem à linguagem probabilística do risco. Se a complexidade congênita é algo inerente no âmbito da relação entre as esferas entretecidas, mas que têm domínios de responsabilidade distintos, para seguir a indicação de fundo de Max Weber, impõe-se uma reflexão sobre as dificuldades experimentadas por uma entidade cuja multiplicidade de formatos é indicativa da sua oscilação entre o prolongamento de certas orientações vigentes no atual sistema científico-técnico e a abertura a princípios, valores e tecnologias que oferecem soluções alternativas aos problemas mais graves no âmbito social, econômico, ecológico e energético. Convocada no seio destas orientações vigentes, as dificuldades que o processo de peritagem científica conhece só podem ser solucionadas no contexto de uma reestruturação das lógicas convencionais que dirigem as nossas sociedades, sob pena de não ir muito mais além de um labor pericial adequado ao status quo.

Assista ao vídeo do evento:
A peritagem científica: suas especificidades no saber e na ação

Bibliografia

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Cerezo, José A. López y Marta I. González Garcia (2002), Políticas del Bosque: Expertos, Políticos y Ciudadanos en la Polémica del Eucalipto en Asturias, Madrid, Cambridge University Press e OEI.

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Godard, Olivier, Claude Henry, Patrick Lagadec, e Erwann Michel-Kerjan (2002), Traité des Nouveaux Risques: Précaution, Crise, Assurance, Paris, Gallimard.

Jasanoff, Sheila (1990), The Fifth Branch: Science Advisers as Policymakers, Cambridge, Mass., e London, Harvard University Press.

Jerónimo, Helena Mateus (2011), “El peritaje científico en la era de la tecnociencia y de las incertidumbres: multiplicidades, posibilidades y límites”, in Teresa González de la Fe e Antonio López Peláez (orgs.), Innovación, Conocimiento Científico y Cambio Social: Ensayos de Sociología Ibérica de la Ciencia y la Tecnología, Madrid, CIS, pp. 53-68.

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Nelkin, Dorothy (1975), “The political impact of technical expertise”, Social Studies of Science, 5, pp. 35-54.

Nowotny, Helga (2003), “Democratising expertise and socially robust knowledge”, Science and Public Policy, vol. 30, n.º 3, June, pp. 151-156.

Roqueplo, Philippe (1997), Entre Savoir et Décision, l’Expertise Scientifique, Paris, INRA Editions.

Roy, Alexis (2001), Les Experts Face au Risque: le Cas des Plantes Transgéniques, Paris, PUF.

Sempere, Joaquim (2007), “El saber científico-técnico en la constitución de la sociedad civil”, in Manuel Pérez Yruela, Teresa González de la Fe e Teresa Montagut (orgs.), Escritos Sociológicos: Libro Homenaje a Salvador Giner, Madrid, Centro de Investigaciones Sociológicas, pp. 301-313.

Trépos, Jean-Yves (1996), La Sociologie de l’ Expertise, Paris, PUF.

Weingart, Peter (1999), “Scientific expertise and political accountability: paradoxes of science in politics”, Science and Public Policy, vol. 26, n.º 3, June, pp. 151-161.

Inscrições

Através do e-mail leila.costa@usp.br

Evento com transmissão em: http://www.iea.usp.br/aovivo