XXV Seminário Internacional de Filosofia, História e Sociologia da Ciência e da Tecnologia
Detalhes do evento
Quando
a 04/04/2014 - 12:30
Onde
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Participantes
Coordenador: Pablo Mariconda (IEA).
Conferencista: Helena Mateus Jerónimo
Coordenador: Pablo Rúben Mariconda
A catástrofe continuada: o acidente de Fukushima e as incertezas das centrais nucleares
Quando ocorrem catástrofes como a que assolou o Japão no dia 11 Março de 2011, em que uma calamidade natural precipitou o acidente na central nuclear de Fukushima, o segundo mais grave acidente da história das centrais nucleares depois de Chernobyl, caem por terra as previsões e as probabilidades ínfimas dos riscos e o balanço entre custos e benefícios com que estão ocupados os peritos em segurança dos sistemas técnicos da sociedade contemporânea.
O 11 de Março deu a ver, uma vez mais, que, nas sociedades contemporâneas, onde a nossa vida individual e social decorre largamente sob as condições e dependência de densas e emaranhadas redes de meios tecnológicos interdependentes, muitas das vulnerabilidades e das ameaças não são fáceis de localizar nem predizer, e são incalculáveis e não compensáveis. Mas o que o desastre do Japão tornou ainda mais flagrante foi que essas vulnerabilidades e ameaças podem implicar-se umas com as outras, pois procedem das inúmeras contingências provocadas por acontecimentos naturais ou pela acção técnica, que podem interagir com sistemas potencialmente destrutivos de que a produção de energia através de centrais nucleares é, porventura, um exemplo extremo. Fukushima reproduz em grande escala uma disposição forte dos desastres das nossas sociedades sujeitas às circunstâncias da tecnoesfera em vigor: as catástrofes naturais tendem a ser acompanhadas por consequências também calamitosas nos diversos planos em que decorre a vida humana. O tsunami que assolou o Japão tomou também a configuração de um tsunami ecológico, social, económico, político. O desastre de Fukushima pode ser pensado não como um desastre do Japão, mas da nossa civilização tecnológica.
Compreendemos melhor o projecto intelectual de pensadores como Jacques Ellul, Günther Anders ou Hans Jonas se percebermos que o interesse que dedicaram ao entendimento do fenómeno tecnológico moderno é, antes do mais, uma indagação sobre a perda da capacidade de regular a complexidade do sistema tecnológico e a dificuldade de reconhecer a nossa ignorância e a incerteza que sempre existiu. Mas quantos mais problemas decorrem daquele sistema tecnológico, mais a ele se apela enquanto solução única capaz de os dirimir. A ocorrência de acidentes, em menor ou maior escala, com efeitos mais ou menos globais, aniquiladores, de longo-prazo e irreversíveis, vem depois contrariar esta mentalidade do tudo-sob-controlo, assente em grande medida no dogma da infalibilidade tecnológica. Não só não eliminámos a incerteza como a sociedade tecnológica nos traz uma incerteza que se assemelha ou é mesmo mais gigante do que as antigas incertezas das forças naturais. Ocupados com os cálculos dos riscos, não encaramos a incerteza como certa. Assumir a incerteza significa levar a sério o princípio da precaução e a regulação da tecnologia.
Bibliografia
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Martins, Hermínio (2011), Experimentum Humanum: Civilização Tecnológica e condição humana, Lisboa, Relógio d’Água.
Narbona, Cristina and Jordi Ortega (2012), La Energía después de Fukushima, Madrid, Turpial.
Perrow, Charles (1999 [1984]), Normal Accidents: Living with High-Risk Technologies, New York, Basic Books.
Inscrições
Através do e-mail leila.costa@usp.br
Organização
Programação
Evento com transmissão em: http://www.iea.usp.br/aovivo