Psicanálise e Teoria Política Contemporânea
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a 19/11/2015 - 18:00
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Ainda que a psicanálise tenha nascido da clínica das neuroses, Freud não reduziu sua invenção a um método de cura das doenças mentais, como atesta a formação da Sociedade Psicológica das Quartas-feiras, a qual, já em 1902, reunia um seleto grupo de interessados na psicanálise para discutir suas relações com a mitologia, a literatura e a história das religiões. Freud, inclusive, deu um lugar importante em sua obra para trabalhos que dialogam com campos externos ao saber médico; a política, no entanto, ficou marcada pela indiferença. Indiferença não significa que a política esteve ausente da constituição da teoria psicanalítica, senão que os pensadores desse campo não foram chamados ao debate pelo fundador da teoria do inconsciente. A política foi apenas citada como um ofício impossível, e mesmo quando Freud tratou sobre temas caros aos pensadores políticos — tais como a civilização, a lei ou os fundamentos libidinais da liderança — ele não os tomou como interlocutores.
Apesar disso, o alcance da teoria do inconsciente para as questões políticas não foi negligenciado pelas gerações de pensadores que se seguiram a Freud. Certos “movimentos" intelectuais foram mesmo decisivamente impactados por debates seja diretamente com a obra freudiana, seja com os desdobramentos e releituras dadas a ela por Jacques Lacan.
A aproximação explícita entre a teoria política contemporânea e a psicanálise recebe suas primeiras inspirações dos frankfurtianos Herbert Marcuse, Max Horkheimer e Theodor Adorno, ainda enquanto Freud era vivo. A eles se pode juntar Walter Benjamin.
Mais tarde, a geração de intelectuais franceses das décadas de 60 e 70, entre eles Félix Guattari, Georges Bataille, Gilles Deleuze, Jacques Derrida, Jean-François Lyotard, Louis Althusser e Michel Foucault, ensaiam críticas e pontos de fuga que instalam possibilidades de pensar com e contra a psicanálise, no seio de suas respectivas proposições, pretensões e ambições teóricas.
Ensaios teóricos e mesmo obras inteiras de pensadores políticos — como Cornelius Castoriadis, Ernesto Laclau, Norbert Elias, Slavoj Zizek e Zygmunt Bauman — colocaram as psicanálises de Freud e de Lacan no centro de suas referências e pensamento. Muitas dessas obras são impossíveis de compreender devidamente sem a psicanálise. Lembramos, ainda, as aproximações importantes em obras específicas de Alan Badiou, Claude Lefort, Giorgio Agamben, Jacques Rancière, entre outros. Em suma, o espólio freudiano foi especialmente vasto e rico para o pensamento politico, e hoje, na pena desses pensadores, pode-se dizer que Freud e a psicanálise definem formas de pensar o político no seio da teoria política.
O propósito deste colóquio é dar início a esse debate, congregando os trabalhos de pesquisadores que têm explorado os desdobramentos das relações entre a psicanálise e a teoria política contemporânea, a fim de aprofundar e destacar conse- quências importantes dessas pesquisas e debates, já em curso, no seio desse enorme manancial interpretativo.
Para isso, neste primeiro momento, propomos debates sobre teóricos já conhecidos por suas interlocuções com a psicanálise, nomeadamente, Norbert Elias e Walter Benjamin, bem como uma conferência e uma mesa que tematizam o pensamento de Hannah Arendt, tensionando-o com o de Freud e o de Lacan. Pois, embora Hannah Arendt não tenha sido uma leitora da obra de Freud (a despeito da versão alemã do livro "Totem e Tabu" de Freud compor sua biblioteca privada), ela tem sido uma pensadora sucessivamente lida, citada e/ou estudada por psicanalistas dentro e fora do Brasil.
Esperamos, com este colóquio, dar os primeiros passos para a aproximação entre pesquisadores e psicanalistas interessados em um pensamento psicanalítico instruído pela teoria política contemporânea, bem como em uma teoria política que, diante da urgência e impossibilidade de interpretar o mundo, produz deslocamentos teóricos e metapsicológicos fundamentais.
Inscrições
Evento com inscrição via e-mail para psicanaliseteoriapolitica@gmail.com
Apoio
Instituto de Estudos Avançados
Programação
16/11/15, segunda-feira, 19h
Palestra Pré-Colóquio:
“Agir, Perdoar, Prometer: Subjetividade e Comunidade em Hannah Arendt"
Expositor: Adriano Correia
Coordenador: José Sérgio Fonseca de Carvalho
Debatedor: José Moura
19/11/15, quinta-feira, das 10h às 18h
Mesa 1
10h - 12h: "Incidências do pensamento de Freud na obra de Norbert Elias"
Tatiana Savoia Landini, André Oliveira Costa, Paulo Cesar Endo
Mesa 2
14h - 16h: ”Recordação, tempo e trauma: Walter Benjamin leitor de Freud"
Márcio Selligmann-Silva, Aléxia Cruz Bretas, Paulo Cesar Endo
Mesa 3
16h - 18h: ”Diálogos sobre liberdade: Hannah Arendt e Jacques Lacan"
José Sérgio Fonseca de Carvalho, Gabriela Costardi
Evento com transmissão em: http://www.iea.usp.br/aovivo