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Quem tem medo dos livros?

por Rafael Borsanelli - publicado 19/07/2017 14:40 - última modificação 16/08/2017 07:34

Detalhes do evento

Quando

de 17/08/2017 - 10:30
a 17/08/2017 - 12:00

Onde

Sala de Eventos do IEA, Rua da Praça do Relógio, 109, Bloco K, 5° andar, Butantã, São Paulo

Nome do Contato

Telefone do Contato

(11) 3091-1686

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"Quem tem medo dos livros?" A esta pergunta, o escritor Marie-Joseph Chénie, imortal autor de Chant du départ, respondeu: “É aos livros que devemos a Revolução”. É verdade, porém, que ele viveu o Terror de 1793 e que seu irmão André nele perdeu a vida.

Com esse mesmo leitmotiv, podemos lembrar a obra Le Chrétien catholique inviolablement attaché à sa religion (O cristão católico inviolavelmente atado à sua religião), escrita por um jesuíta suíço, o padre Nicolas de Diesbach, em 1771. Segundo sua concepção, o texto impresso se apresenta como uma arma terrível a serviço do Demônio. Tal perspectiva sobreviveu ao tempo e às revoluções, bastando lembrar que o Index librorum prohibitorum se manteve vivo desde a metade de 1559 até 1966; ou que o abade Louis Bethléem pôde publicar, na França, em 1904, seu famoso catálogo, Romans à lire et romans à proscrire (Romances para ler e romances para proscrever), título que se tornou livro de cabeceira de todos os educadores do mundo católico até 1945 e inspirou o abade Georges Sagehomme, a manter, de 1931 a 1956, um Répertoire que continha 16.700 autores e 70.000 romances ou peças de teatro. Ele perseguia o Mal por toda a parte em que se escondia e o enxergava evidentemente primeiro nos escritos dos autores ímpios.

Esses e outros exemplos nos conduz a inquirir sobre a relação entre o livro e o medo. A censura e o poder. Num só termo, a temática nos leva a refletir sobre o papel e o lugar do impresso nas sociedades contemporâneas, a partir de uma perspectiva histórica.

O conferencista Jean-Yves Mollier dedicou sua carreira à história do livro, da edição e das práticas de leitura na França do século XIX ao século XXI. Dentre seus livros, O Dinheiro e as Letras (História do Capitalismo Editorial), publicado e traduzido em diversos países, inclusive no Brasil (Edusp, 2010), marcou toda uma geração de pesquisadores. Embora as questões econômicas que envolvem o universo da cultura não constituíssem uma temática totalmente inovadora, a obra abria um caminho novo no campo da economia do livro, ao analisar o desenvolvimento editorial da França, de 1830 a 1914 sob a ótica do mercado e do desenvolvimento do capitalismo editorial. Essa perspectiva permitiu ao autor ir além, no sentido de compreender os conglomerados midiáticos e o espaço dado ao livro impresso na economia contemporânea.

Paralelamente a essa temática, podemos salientar a importância dos livros Imprensa e Poder na França do Século XX (Editora Unifesp, 2014) e Edição e Revolução, organizado em colaboração com Marisa Midori Deaecto (Ateliê Editorial, 2013) no debate sobre o lugar do impresso na cena política contemporânea, o que nos leva a questionar sobre o poder dos livros. Nesse sentido, a questão “Quem tem medo dos livros?”, além de estimular algumas questões sobre o “medo”, propõe-se a colocar a mídia impressa – e, particularmente o livro – como um protagonista dessa história mais ampla de poder e censura.

O medo é o tema do ano escolhido pela rede internacional Ubias (University-Based Institutes for Advanced Study). Os institutos de estudos avançados integrantes da rede realizarão eventos para a discussão dos aspectos políticos, sociológicos, psicossociais, neurológicos, biológicos e culturais do medo.

Conferencista

Jean-Yves Mollier (Universidade de Versalhes Saint Quentin en Yvelines)

Coordenadora

Marisa Midori Deaecto (ECA e IEA - USP)

Inscrições

Evento público e gratuito | Em francês com tradução simultânea | Com inscrição encerrada

Organização

Instituto de Estudos Avançados

Evento com transmissão em: http://www.iea.usp.br/aovivo