Carta aos estudantes que ocuparam a Reitoria da USP

Foi uma enorme dor ver o que aconteceu no "interieur" [termos francês para "interior", usado aqui em referência ao pensamento de Walter Benjamin]. Vocês conseguiram transformar uma ideia justa —  o fim do sistema autoritário de eleição para reitor — em fechamento autorreferencial, incapacidade de elaborar uma política comunicacional adequada à cultura digital, escritos com um alto nível de repressão sexual, instinto explícito de morte, método de luta desvinculado de finalidade política e conservadorismo territorial, sem entender o que significa "coisa pública". E agora? Por que vocês não aceitam que a política precisa experimentar outros movimentos? Que cada luta antecipa o futuro-presente no processo, e não destrói a esperança ou as divergências? O problema não está em defender o que aconteceu, pelo contrário: está em finalmente fazer uma crítica sobre tudo o que aconteceu para que não aconteça de novo; e então imaginar um movimento aberto, que recuse a violência mortífera, a autoclausura e o sexismo machista. A forma de ocupação contínua pertence ao passado. Uma política comunicacional de movimento é "des-ocupante", quer "des-ocupar" cada repressão sexo-política e cada dicotomia reproduzida. Agora é o momento da imaginação exata, como diria Adorno.

Massimo Canevacci