Universidade e democracia
As universidades públicas brasileiras são sacudidas periodicamente por greves de docentes, funcionários ou estudantes. Cada greve tem um caráter único, que depende da história dos movimentos anteriores e do entorno político, social e econômico do momento. A greve nas universidades públicas paulistas neste ano se caracterizou pela pouca participação de docentes, alunos e funcionários e pelo uso, mais uma vez, da violência por parte de grupos pouco representativos – felizmente – de funcionários e estudantes.
A violência se expressou com mais clareza nos piquetes autoritários que impediram o ingresso das pessoas na reitoria, no edifício da Antiga Reitoria e na Prefeitura do *campus* da USP em São Paulo, num claro desrespeito a princípios elementares e universalmente aceitos da democracia. Piquetes igualmente violentos foram usados como forma de intimidação nos campi de Piracicaba, São Carlos e Ribeirão Preto. As reitorias da Unicamp e da Unesp foram invadidas e parcialmente depredadas.
O ápice dessas demonstrações de absoluto desrespeito à democracia teve como palco o Plenário da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, quando uma turba desceu das galerias e chegou a conflito físico com deputados estaduais.
Como é possível que, na universidade, onde a reflexão racional e o diálogo devem imperar, uma "racionalidade" baseada no confronto e na violência seja utilizada como instrumento de pressão numa negociação salarial? Se isso não pode ser aceito em nenhuma esfera da vida social, menos ainda pode sê-lo na universidade, cuja missão precípua é formar cidadãos com competências específicas e que no futuro desempenharão papel de relevância e liderança na sociedade, com todas as responsabilidades éticas e sociais que tais posições exigem. Devemo-nos perguntar que cidadãos formaremos
Alfredo Bosi, Ana Lydia Sawaya, Celso Grebogi,
Hernan Chaimovich, João Steiner e Yvonne Mascarenhas
* Publicado no jornal "Folha de S.Paulo" na edição de 5 de agosto de 2004, página A3.