A cultura indígena bororo entre a tradição e a mudança
As tensões entre a manutenção dos costumes, valores e religião dos Bororo e as transformações culturais contemporâneas serão discutidas no seminário Cosmologia Bororo: A Cultura Indígena entre Tradição e Mudança, que acontece no dia 8 de abril, às 14 horas, na Sala de Eventos do IEA.
Os expositores serão Kleber Meritororeu, professor da Escola Estadual Indígena "Sagrado Coração de Jesus", da Aldeia Meruri, no município General Carneiro (MT); e Félix Adugoenau, coordenador da Coordenadoria de Educação Escolar Indígena (CEI) da Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (Seduc/MT) e mestrando em educação pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Meritororeu e Adugoenau, ambos nativos bororo, vão falar sobre a experiência de cultivar e preservar a visão cosmológica de seu povo — os valores, os costumes, a filosofia, a religião e a língua — num contexto de abertura cada vez maior à cultura ocidental globalizada.
As apresentações de Meritororeu e Adugoenau serão debatidas por pesquisadoras com experiência no estudo etnográfico sobre os Bororo: a antropóloga Betty Mindlin; a também antropóloga Sylvia Novaes, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, que participará por videoconferência; e Flávia Kremer, doutora em antropologia social e mídias visuais pela University of Manchester, Reino Unido, onde investigou as relações entre gênero, etnografia e tecnologias digitais na cultura bororo.
ABORDAGEM
De acordo com Massimo Canevacci, professor visitante do IEA e organizador do encontro, abordar o tema a partir do ponto de vista dos Bororo possibilita colocar em prática a autorrepresentação — estratégia metodológica proposta pelo antropólogo, segundo a qual as pesquisas etnográficas devem ser mais dialógicas e reflexivas, de modo a romper a dicotomia entre sujeito (quem representa) e objeto (aquele que é representado).
"Só os Bororo podem, através da autorrepresentação política e comunicacional, decidir como enfrentar essas tensões; só eles têm o direito de representar a si mesmos, de mudar o comportamento e de reafirmar a própria cultura frente ao movimento de aculturação e perda da identidade", explica.