Você está aqui: Página Inicial / NOTÍCIAS / Aumento da alfabetização midiática e informacional nas cidades é objeto de novo centro de pesquisa

Aumento da alfabetização midiática e informacional nas cidades é objeto de novo centro de pesquisa

por Mauro Bellesa - publicado 19/04/2024 11:45 - última modificação 23/04/2024 10:45

O Conselho Deliberativo aprovou em março a criação do Centro Internacional de Inovação e Desenvolvimento de Cidades MIL (CIIDCMIL), associado a uma Cátedra de Cidades MIL Unesco da USP.

Global MILDurante a Semana Global de Alfabetização Midiática e Informacional (AMI) de 2018, na Lituânia, a Unesco lançou o conceito de Cidades MIL (sigla em inglês correspondente a AMI), para estimular as cidades a trilharem um caminho de capacitação, de forma inovadora, de um maior número de cidadãos nessa competência.

De acordo com a Unesco, os cidadãos assim preparados "são capazes de compreender o papel e as funções dos meios de comunicação social e de outros fornecedores de informação e possuem conhecimentos e competências básicas para analisar e utilizar, de forma crítica e eficiente, os meios de comunicação e a informação para a autoexpressão, para se tornarem aprendizes independentes e pensadores críticos, e para  participar plenamente e beneficiar-se da crescente sociedade do conhecimento e da informação".

Dessa forma, as Cidades MIL podem contribuir para aumentar o acesso à informação, estimular o envolvimento cívico, permitir o diálogo intercultural e inter-religioso, combater a desinformação e o ódio e criar oportunidades econômicas, sociais e culturais, ressalta o organismo da ONU.

Lançamento

Leia matéria do Jornal da USP sobre o evento Das Cidades Inteligentes às Cidades MIL da Unesco: Fator Relacional, Visões Nacionais e Internacionais, que acontece no dia 30, às 14, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. Durante a programação do encontro ocorrrerá o lançamento do Centro Internacional de Inovação e Desenvolvimento de Cidades MIL (CIIDCMIL) no IEA.

São essas as diretrizes que norteiam as pesquisas a serem desenvolvidas pelo Centro Internacional de Inovação e Desenvolvimento de Cidades MIL (CIIDCMIL), cuja criação foi aprovada em março pelo Conselho Deliberativo do IEA. O centro deverá funcionar em articulação com uma Cátedra Cidades MIL Unesco na USP (proposta a depender de tratativas institucionais).

Objetivos

Com duração prevista de cinco anos, o projeto tem o objetivo geral de contribuir para a pesquisa, desenvolvimento, expansão e implementação da abordagem Cidades MIL no Brasil, América Latina e Caribe e em países de outros continentes. O centro partirá da criação de um protótipo com aplicação na Cidade Universitária, de forma a ter um caso exemplar para a proposição de metas, ações e acompanhamentos de resultados da implantação das Cidades MIL.

A intenção é promover e compartilhar conhecimentos confiáveis bem como práticas eficientes relacionadas à educação comunicativa e ao pensamento crítico nas diversas áreas das cidades. "A proposta tem como centro o cidadão, mas considera o uso das novas tecnologias, inclusive da inteligência artificial (IA) no sistema urbano em geral", enfatizam os autores da proposta.

A perspectiva é que as metas a serem atingidas estejam em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, com os princípios conhecidos como ESP (sigla em inglês para ambiental, social e governança) e as principais diretrizes de saúde pública para infodemias ou epidemias de informação.

Segundo os pesquisadores, o conceito das Cidades Mil foi plasmado a partir de pontos não contemplados nas cidades inteligentes (smart cities) e avança em questões de inclusão ética, de religião e crenças, de idade e de identificação de instâncias em que categorias de superdiversidade são evidenciadas, de maneira a delinear nessas paisagens socioculturais os mecanismos de abordagem crítica, inovadora e democrática com a integração dessas instâncias.

A proposta baseia-se em indicadores e em métricas para diagnosticar, gerir e integrar bairros, comunidades, cidades, cidades corporativas e cidades universitárias do ponto de vista MIL, com a utilização das tecnologias de forma ética, de maneira a consolidar o respeito e a integração de grupos vulneráveis.

O CIIDCMIL tem como foco específico a articulação de um grupo interdisciplinar que adote como prioridade de reflexão “a transformação de espaços urbanos em espaços interativos, resilientes e não vulneráveis a impactos negativos do avanço tecnológico, da alta virtualidade da vida cotidiana e do intenso efeito das fake news, que afetam decisões e pensamentos, levando à desconexão de políticas públicas inclusivas e consoantes com uma vida participativa consciente".

Para que que esse espírito de “Cidadão MIL” emerja, o centro defende a criação de espaços de gestão mais transparentes e conectados com as necessidades e percursos dos indivíduos, consideradas as diferenças entre eles, além de serem locais de experimentação de um envolvimento contributivo dos cidadãos. Dois aspectos devem ser considerados para a construção desse espírito, afirmam: estudos com base em métricas, incluindo a coconstrução de uma rede alimentadora de um observatório de evolução de métricas de acompanhamento dos efeitos de pequenas intervenções; no aspecto do envolvimento contributivo, devem ser levadas em conta as práticas vivenciadas e a percepção de que a diferença importa nessa coconstrução urbana.

Organização

O coordenador do CIIDCMIL é Mitsuru Hanaze, professor titular do Departamento de Publicidade, Relações Públicas e Turismo da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e coordenador geral do Centro de Estudos de Avaliação e Mensuração em Comunicação e Marketing (Ceacom), sediado na escola. A vice-coordenação e a coordenação executiva são desempenhadas por Felipe Chibás Ortiz, professor do Programa em Integração da América Latina (Prolam) da USP e também integrante do Ceacom.

Além de Hanaze e Ortiz, fazem parte do núcleo acadêmico do projeto, pela USP, outros professores da ECA, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), além de integrantes da UFMT, UFRN e Universidade Católica de Brasília. Alguns desses docentes e outros da ECA, FEA e FAU participam como supervisores ou representantes de grupos de pesquisa.

Os grupos de pesquisa produzirão dados quantitativos relacionados às regiões de seu trabalho de campo (23 países das Américas, Caribe, Europa, África e Oriente Médio), alimentando uma plataforma de integração do conhecimento geral relativo às métricas de interesse do projeto. Cada equipe cotejará seus dados regionais com a cidade de São Paulo e coordenará a comparação com a dinâmica da Cidade Universitária.

Temas e linhas de pesquisa

Os trabalhos temáticos serão organizados em quatro linhas de pesquisa e atuação:

  • Cidades Mil : espaços urbanos segundos os princípios da Unesco (e-governo participativo e mobilidade urbana):
  • comunicação e educação com MIL;
  • saúde integral e educação MIL;
  • inteligência artificial e startups MIL.

Essas linhas se desdobram em uma dúzia de enfoques mais específicos, entre os quais figuram: o uso de IA na educação, na eficiência energética, na mobilidade urbana e na governança de prefeituras, hospitais, bairros e comunidades; sistemas de informação e aplicativos para saúde; e modelos de negócios inovadoras para organizações e startups em Cidades MIL.

Cronograma

Os trabalhos do projeto serão divididos em três fases. Na primeira delas (até março/2025), serão implantados o CIIDMIL e a Cátedra MIL Unesco da USP, com a realização de um evento de divulgação das duas iniciativas. Também serão iniciadas no período as pesquisas a serem aplicadas na Cidade Universitária.

A segunda fase (março/2025 a março/2026) será dedicada à implantação do projeto-piloto de cidade MIL na Cidade Universitária e em outros espaços urbanos, a produção de um curso Mooc (sigla em inglês para curso online aberto e massivo) de formação de consultores em Cidade MIL e palestras e seminários de divulgação.

Os três últimos anos do projeto (março/2026 a março/2029) serão dedicados à terceira fase, voltada a implementação do projeto em outros campi e cidades. Isso compreenderá a capacitação, assessoria e consultoria para cidades que desejarem implantá-lo e puderem custear o trabalho. O período também será voltado à publicação de livros e artigos sobre Cidades MIL.

Ilustração: adaptada do postar da Global Media and Information Literacy (MIL) Week 2018/Unesco