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Análise básica sobre a crise econômica

por Flávia Dourado - publicado 01/08/2009 00:00 - última modificação 21/08/2015 17:34

"Estudos Avançados" nº 66 dá sequência ao dossiê sobre crise internacional publicado na edição passada da revista.

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Marco Antônio Coelho*

No momento, os especialistas lançam exaustivos estudos sobre as causas da crise econômica mundial e os dirigentes dos países, em desespero, atropelam-se para tentar reativar a economia. Análises são feitas para verificar se já chegamos ao fundo do poço e se há indícios de que as agruras chegaram ao fim.

Reuniões internacionais vão se sucedendo e até agora apenas há divergências a respeito do que deve ser feito, seguindo-se o método do uso da tentativa e erro.  Crescem as discordâncias se a solução será encontrada num debate no G-8, ou se agora a solução deve ser acertada no G-20, onde está incluído o Brasil. Apreciando o panorama mundial podemos parafrasear a frase de Machado de Assis: "A confusão é geral". Ou seja, os que dirigem a economia na totalidade dos países vão adotando medidas que colidem umas com as outras e os resultados positivos não aparecem. Apenas num ponto há consenso — jogar trilhões de dólares no saco sem fundo do sistema bancário.

As dificuldades para se encontrar uma solução para crise econômica são compreensíveis. Desde o sucedido entre 1929 e 1936 nunca se viu crise  tão profunda e tão complexa. Daí o fato de "Estudos Avançados" editar um novo dossiê sobre o tema. Nele, inicialmente destacamos o estudo do prof. Bresser-Pereira sobre o ideário político e ideológico que presidiu a conduta dos dirigentes  que comandaram a economia nos principais países, nos últimos anos. Ou seja, adotaram as teses do neoliberalismo que fundamentam um assalto ao Estado em nome do mercado e eventualmente atacam também o mercado. O resultado, portanto, foi e é a crise que recai principalmente sobre as populações mais pobres e economicamente mais fracas, ampliando em escala nunca vista o desemprego e a multiplicação dos  excluídos na sociedade.

No ensaio da professora Leda Paulani está uma questão fundamental. Ela afirma ter havido uma alteração profunda na forma de funcionamento do capitalismo, fazendo com que o regime de acumulação do capital seja dominado pela valorização financeira. No texto estão dados concretos comprovando como, de 1980 a 2006,  o PIB mundial cresceu 4,1 vezes, enquanto a riqueza financeira no mesmo período cresceu 13,9 vezes. Em outras palavras, nesse período o crescimento da riqueza fictícia ocorreu numa velocidade muito maior do que o  crescimento da riqueza real – representada pelas instalações, máquinas, equipamentos, obras civis, tecnologia etc. e tudo o mais que permite a produção de bens e serviços. Daí as dificuldades para agora se retomar o desenvolvimento da economia real, particularmente nos Estados Unidos e nos países europeus.

Os ensaios publicados no dossiê mostram os efeitos da crise na economia brasileira. O prof. Marcio Pochmann registra o fato de que o funcionamento do  mercado de trabalho foi desfavorável àqueles que dependem do próprio trabalho para sobreviver. Apesar disso a pobreza nas seis regiões metropolitanas não vem aumentando, graças à elevação do valor real do salário mínimo e à existência de uma rede de garantia de renda social.

Também apresentamos  depoimentos  de extraordinária importância focalizando  questões essenciais sobre a realidade brasileira. O prof. Guilherme Dias fez um balanço crítico dos principais problemas da agricultura e da pecuária  em conseqüência da crise econômica que atingiu profundamente a exportação de alimentos que exportamos. Esse pesquisador da FEA defende a tese de que a crise determina significativas mudanças tecnológicas, o que não será fácil em razão das divergências em nossos meios rurais.  Em  entrevista, o prof. Ricardo Abramovay mostrou a necessidade de a crise exigir um debate em torno de    desafios inéditos e imprevisíveis  na relação entre a sociedade, a economia  e a natureza.

Além de divulgar  ensaios de economistas italianos – Pierluigi Ciocca e Ignazio Visco -  o dossiê Crise Internacional II fornece  dados estatísticos precisos, transmite uma informação idônea e uma interpretação aprofundada do quadro mundial que estamos vivendo.

Nesta edição de "Estudos Avançados" os leitores encontrarão também um outro dossiê — "Cidade e Exclusão" —, com textos resultantes de um estudo pioneiro de urbanística comparada que o IEA promoveu em colaboração com o programa "Social Exclusion, Territories, Urban Policies in India and Brazil".

* Editor executivo de "Estudos Avançados".