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Carolina Escobar trata da importância da regularidade dos ritmos biológicos para a saúde

por Mauro Bellesa - publicado 24/04/2015 11:25 - última modificação 12/02/2016 11:51

A fisiologista Carolina Escobar, da Universidad Nacional Autónoma de México, falou dos fatores que alteram os ritmos biológicos.
Carolina Escobar
A fisiologista Carolina Escobar,
da Universidad Nacional Autónoma de México

Para a fisiologista Carolina Escobar, da Universidad Nacional Autônoma de México (Unam), o tempo está inserido no ser humano, é intrínseco à vida.

No início de sua conferência na Intercontinental Academia, no dia 21, ela contestou a observação feita pelo físico Eliezer Rabinovici na conferência que este fez no dia 20, quando disse que a reação dos homens pré-históricos ao pôr-do-sol era o pânico. Carolina disse que a evolução biológica dotou os seres vivos de um relógio interno que permite uma antecipação às situações: "Quando o sol se põe, os animais estão preparados para isso e sabem como devem se portar, inclusive para se proteger de predadores".

De acordo com Carolina, observar a passagem do tempo não explica a vida, pois o corpo muda constantemente no decorrer da flecha do tempo (progressividade do tempo em direção ao futuro), estando exposto à mudança durante os ciclos diários, as fases da Lua e a translação da Terra em torno do Sol, com diferenças entre o período diurno e o noturno, na temperatura, na umidade, nos ventos e em outras variáveis.

Ela exemplificou com as mudanças de plantas e animais em cada estação do ano. Citou a variação de peso de pássaros em função das necessidades de migração, capacidade de encontrar alimento, reprodução etc. "Se os animais não tivessem o tempo dentro de si, não sobreviveriam."

Segundo a expositora, os habitantes das altas latitudes (zonas temperadas e polares), que estão suscetíveis a mudanças marcantes entre as estações, apresentam maior incidência da "depressão de inverno" que os habitantes das zonas tropicais. "Os seres humanos não migram e pagam um preço por isso." Segundo ela, experimentos com maior exposição dessas pessoas à luz demonstraram a diminuição da depressão.

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Carolina explicou que o hormônio melatonina (produzida pelo organismo apenas à noite) regula o sono e desempenha papel fundamental para a bioquímica cerebral, inclusive na disponibilidade da serotonina, neurotransmissor responsável pelo estado de vigília.

Como as noites são mais longas no inverno das altas latitudes, há maior produção de melatonina, com a redução da atividade bioquímica ligada ao estado de alerta, o que acaba levando à ansiedade e depressão. O mesmo processo desencadeia também a síndrome metabólica e as pessoas ganham peso.

De acordo com Carolina, há indícios de que as próprias fases da Lua, com variação na luminosidade noturna, afetam alguns ritmos do organismo, como o ciclo menstrual das mulheres, que tendem, segundo algumas evidências, a sincronizar com o ciclo de 28 dias da Lua.

A regularidade com que os olhos percebem a alternância de claro e escuro do dia e da noite é importante para o funcionamento do cérebro e demais órgãos. A fisiologista disse que em muitos idosos que raramente saem de casa, onde ficam expostos à luz artificial durante o dia e parte da noite, há alteração na ativação dos ciclos de sono e vigília. Segundo a pesquisadora, quando expostos a uma luminosidade adicional durante o dia, esses idosos começam a dormir melhor e a ser mais ativos.

Carolina considera que uma das principais causas da dessincronização dos ritmos biológicos dos seres humanos é o fato de os indivíduos estarem cada vez menos expostos à natureza e com excessiva atividade noturna. As consequências disso, explicou, são as doenças gastrointestinais, distúrbios psíquicos, câncer, estresse, falta de concentração, obesidade, ansiedade e depressão. Estabelece-se um ciclo pernicioso: "As doenças mudam os ritmos biológicos e esses ritmos alterados levam a doenças".

A importância da correta convivência com o ciclo claro-escuro do dia e da noite para o desenvolvimento do organismo foi demonstrada por experimento que a equipe de Carolina fez na unidade de terapia intensiva neonatal de um hospital mexicano. Parte dos bebês prematuros teve a cabeça coberta parcialmente com uma cúpula durante as noites, para que seus olhos recebessem menor luminosidade, uma vez que a UTI fica totalmente iluminada 24 horas por dia.

Foto: Leonor Calazans/IEA-USP