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Cátedra apresenta relatórios com indicadores educacionais de municípios parceiros

por Thais Cardoso - publicado 07/06/2023 15:48 - última modificação 07/06/2023 15:48

Francisco Morato e Jundiaí receberam a equipe no final de maio, em iniciativa que conta com o apoio da Fapesp

As redes de ensino de Jundiaí e Francisco Morato, no interior de São Paulo, receberam em primeira mão análises que podem ajudar a reduzir a desigualdade entre escolas e avançar na aprendizagem dos estudantes. A entrega aconteceu entre os dias 24 e 25 de maio, como parte da parceria com a Cátedra Sérgio Henrique Ferreira do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto da USP. A iniciativa conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Por meio da parceria, a equipe da Cátedra utilizou métodos estatísticos para analisar cinco indicadores dos municípios e compreender quais as principais potencialidades e pontos a avançar em cada um. Para qualificar a leitura dos dados, o relatório foi apresentado pessoalmente pelo titular da Cátedra, Mozart Neves Ramos, às secretárias municipais de Educação e suas equipes técnicas. “Queremos pensar em conjunto com as lideranças locais quais são as informações mais estratégicas para a tomada de decisão, e apoiar o desenho de
políticas públicas que tenham base nessas evidências”, afirmou Mozart.

“Para nós foi muito positivo o resultado da nossa aproximação com a Cátedra, eu sempre defendi que a academia tem que estar mais próxima da política pública, não adianta estudiosos produzirem suas teses e sem conhecer nossa realidade”, disse a Secretária Municipal de Educação de Francisco Morato, Lélia Hartmann. “Já esse trabalho com a Cátedra contribuiu demais, é muito relevante. Tenho certeza de que para a nossa equipe já provocou uma transformação, só de criar esse vínculo e a relação com tudo o que o grupo fez”.

Na primeira parte do relatório, é apresentada a porcentagem de variância, que mostra como as escolas da rede se diferenciam em relação ao desempenho médio, e qual o indicador mais responsável por esta variação. Como a desigualdade entre escolas é multifatorial, ou seja, pode acontecer por conta de diversos fatores, em geral são muitas informações para se analisar, e pode ser difícil chegar a uma conclusão sobre o que está gerando essa diferença de desempenho e como revertê-la.

Por isso, a pesquisa utiliza uma técnica chamada de análise de componentes principais, que tem o objetivo de concentrar em poucas dimensões as informações de grandes conjuntos de dados. Neste caso, são analisadas as porcentagens de estudantes com aprendizado adequado em Língua Portuguesa, em Matemática, a nota padronizada da escola, a taxa de aprovação (fluxo escolar) e a distorção idade-série (quantos estudantes têm dois ou mais anos de idade acima do esperado para cada série), compilados em uma matriz de apenas duas dimensões.

Em Jundiaí, por exemplo, 39 escolas tinham todas as informações destes 5 indicadores para a análise do ano de 2019, sendo que a taxa de variância foi de 34%, representada em um gráfico que indica a posição de cada escola com desempenho acima e abaixo da média da rede. No estudo, foi possível identificar que o desempenho em Matemática foi o maior responsável pela desigualdade entre as escolas, e que três unidades de ensino tiveram um desempenho mais distante do restante do grupo naquele ano. A mesma análise é feita para outros anos também, possibilitando identificar as escolas que tiveram maiores avanços, ou perdas de desempenho ao longo do período.

Na segunda parte do relatório, um mapa georreferenciado mostra visualmente a localização de cada escola e qual seu nível em relação à média do município, permitindo um olhar sistêmico e que pode indicar escolas em condições socioeconômicas parecidas, ou com características locais semelhantes, mas com resultados muito diferentes. Em situações como esta, por exemplo, pode ser interessante promover o diálogo e a troca de experiências entre as duas unidades, visando aproximar o resultado entre elas.

“Quando o relatório coloca no mapa do território fica bem nítido com as evidências aquilo que nós percebíamos pela vivência, pois os indicadores de uma região da cidade são todos melhores do que da outra área, que tem um grau elevado de vulnerabilidade. Agora para nós a grande pergunta é: o que vamos fazer além do que já fazemos para melhorar os resultados desta área que apresenta mais dificuldades?”, analisou Lélia Hartmann.

O terceiro recorte do relatório é o mapa de radar, que apresenta as cinco dimensões analisadas em um comparativo com a média do Estado de SP e com o Brasil, permitindo uma leitura contextual e com referências para além do município. “É um privilégio ter um estudo assim tão organizado e que vai nos auxiliando a saber o que fazer, sem achismos”, afirmou a secretária de Educação de Jundiaí, Vastí Ferrari Marques. “Podemos procurar entender melhor a realidade das escolas que estão demonstrando maiores desafios, olhar para aspectos de gestão e para a interlocução com a Educação Infantil, pois é importante acabar com a ruptura entre esses segmentos, que muitas vezes pode causar dificuldades de aprendizagem ao longo do Fundamental”, completou.

Outro caminho a partir dos mapas, segundo ela, é promover um mergulho nas escolas com bons resultados para identificar aspectos que podem ser referência para as demais, tanto na organização da rotina escolar quanto no entendimento do currículo e adoção de melhores práticas pedagógicas ou demais fatores que podem ser significativos para provocar uma melhoria nos indicadores.

“Aqui em Francisco Morato a gente vem trabalhando com foco em melhorar os resultados, mas no nosso dia a dia estamos com muitas atribuições, então ter um grupo de pessoas que quer pensar junto e trazer um olhar diferenciado contribui demais, é muito inspirador quando o Mozart traz o olhar dele, com todos os critérios da análise e abre para nós várias possibilidades”, afirmou Lélia. Segundo ela, os dados serão levados a todos os diretores escolares e as análises do relatório vão compor a elaboração do Projeto Político-Pedagógico da
rede.

Segundo Mozart, o objetivo agora é que as equipes municipais façam suas leituras dos números e apresentem algumas ideias de ação com as quais a Cátedra possa seguir contribuindo em busca de aprimorar os resultados. “A ciência dos dados ajuda a dar mais visibilidade para as situações que podem ser referenciais, entender quais os esforços necessários para aprimorar os resultados das escolas que ainda estejam mais para trás, e além disso como elevar o desempenho do conjunto todo”, reforçou Mozart.

Outros três municípios participantes do projeto apoiado pela Fapesp ainda receberão seus relatórios no mês de junho. Além de ter as análises personalizadas, as redes parceiras da Cátedra também recebem acesso a outros materiais e cursos produzidos pela equipe, participam de eventos, reuniões técnicas e outras atividades em conjunto com os municípios parceiros e outras organizações.

Secretarias de Educação de municípios de médio porte que não fazem parte da rede de colaboração da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira e tenham interesse em participar, podem entrar em contato pelo e-mail iearp@usp.br.

Texto: Marília Rocha - Assessoria de Comunicação da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira