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Claudia Costin analisa desafios para o Brasil na educação do futuro

por Matheus Nistal - publicado 07/06/2023 15:10 - última modificação 25/08/2023 10:49

Especialista em educação, ela acredita que o país deve fazer mudanças em seu sistema educacional

Claudia Costin 19/05/2023
Claudia Costin

A Inteligência Artificial (IA) impõe desafios para a educação no mundo, ao passo que, no caso brasileiro, o sistema educacional ainda enfrenta problemas como analfabetismo, evasão escolar e indisciplina. “Estamos falando de uma educação do futuro enquanto temos problemas do século 20”, afirmou Claudia Costin, CEO do Instituto Singularidades. Para a professora, o único caminho para a educação do país é encarar os desafios do passado e do futuro ao mesmo tempo.

Costin participou do seminário “Educação para o Futuro ou Poderemos Competir com os Algoritmos?”, organizado pela Cátedra Oscar Sala no dia 19 de maio. O evento teve mediação de Virgílio Almeida, titular da cátedra.

Os recentes avanços da IA ameaçam uma grande quantidade de empregos. Segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, aproximadamente dois terços dos postos de trabalho dos países em desenvolvimento podem estar ameaçados pela computadorização e robotização. Para Costin, profissões como jornalismo e advocacia são algumas das quais podem rapidamente sofrer perdas de empregos com o uso da Inteligência Artificial. Essa redução deve acontecer em ondas e acompanhada da criação de novos empregos que vão requerer, segundo a especialista, habilidades “muito mais sofisticadas do que nós usamos hoje”.

Ex-diretora Global de Educação do Banco Mundial, Costin destacou que o sistema educacional deve passar por mudanças para conseguir desenvolver essas capacidades nos alunos e superar os novos desafios dessa realidade. Mas o Brasil ainda não tem tido êxito em problemas já superados por outras nações, como os altos níveis de analfabetismo. Segundo ela, o país não tem tempo para enfrentar cada desafio de uma vez e deve oferecer uma educação que contemple tanto as competências básicas quanto as mais sofisticadas. “Nós somos a décima terceira economia em termos de PIB, não somos um país pobre, temos que fazer as duas coisas ao mesmo tempo”, argumentou.

Para superar esse desafio, a IA pode ser uma grande aliada do professor. As novas tecnologias podem auxiliar na avaliação diagnóstica dos alunos e ajudar a personalizar o processo de ensino, defende.

Costin sugere o modelo de ensino com sala de aula invertida, em que o pedagogo produz ou seleciona materiais didáticos — como vídeos, jogos e textos — para os alunos consumirem e aprenderem o conteúdo em casa. Assim, as salas de aula seriam um espaço voltado para o debate sobre o que foi aprendido com a mediação do professor. Ela acredita que soluções gamificadas não substituem o educador, mas servem como mais uma ferramenta de aprendizagem.

No evento, ela também avaliou que não se deve lidar com IAs como o Chat GPT como um tipo de “cola”. Ela sugere uma abordagem que oriente os alunos a perguntarem algo para o chat, ler a resposta, refletir e fazer elaborações e críticas em cima desse resultado. Costin acredita que tecnologias como essa podem ser uma “oportunidade de ouro” para os educadores.

Sobre os colégios militares que prometem resolver problemas disciplinares, ela se mostrou receosa. Não acredita que os problemas de falta de disciplina se resolvam robotizando os alunos, mas dando a eles protagonismo. "Nós somos bons em sermos humanos e não em sermos robôs”, defendeu.

 

Alfabetização

Costin acredita que é necessário revisar a estratégia de alfabetização usada no Brasil. Há 30 anos, os Estados Unidos abandonou a forma como alfabetizava, chamada de método global, que começava com a palavra inteira e tinha por pressuposto que aprender a ler é inato no ser humano, como aprender a falar. Segundo ela, todas as pesquisas do cérebro discordam disso. Antes da mudança, o país norte-americano tinha índices de alfabetização semelhantes aos atuais brasileiros, contou, ao defender que o Brasil siga na mesma direção: “É necessário ensinar com intencionalidade pedagógica o código letrado, o som das letras e o nome das letras, para que a criança possa se alfabetizar”.

Outro problema enfrentado pela educação brasileira é a pouca prática da escrita nas salas de aula. A especialista argumenta que é necessário uma “revolução da escrita”. Ela explica que existem duas maneiras de comunicar pensamentos no contexto educativo: por meio oral e por meio escrito. Mas os professores não fazem com que os alunos escrevam em todas as disciplinas — apenas em matérias como português, história e geografia — o que, segundo Costin, prejudica o desenvolvimento do raciocínio.