Você está aqui: Página Inicial / NOTÍCIAS / Como transformar o ensino básico

Como transformar o ensino básico

por Thais Cardoso - publicado 10/09/2013 10:21 - última modificação 10/09/2013 10:21

Professor da UFPE mostra o que é necessário para acabar com o círculo vicioso da educação brasileira e afirma que modelo de aula precisa mudar

Professor da UFPE mostra o que é necessário para acabar com o círculo vicioso da educação brasileira e afirma que modelo de aula precisa mudar


MG_9896_edit.jpg Que a educação brasileira precisa de mudanças não é novidade para ninguém. Mas afinal o que pode ser feito para transformar essa realidade?

Essa foi uma das questões abordadas em evento promovido pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA) Polo São Carlos da USP no dia 29 de agosto. O convidado a palestrar foi o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e ex-secretário estadual da Educação no Estado, Anderson Stevens Leônidas Gomes.

Segundo Gomes, o ensino básico brasileiro vive hoje um círculo vicioso. “A formação inicial do professor é inadequada. Depois, tenta-se consertar com a formação continuada, mas ela também é inadequada. Os salários também não são atrativos. Consequentemente, esse professor não vai proporcionar um bom aprendizado ao estudante, e assim por diante”.

O docente explica que, no ensino fundamental, a taxa de evasão chega a 10% nos anos finais e a taxa de distorção ano/série, ou seja, a quantidade de alunos que está na série que não corresponde à sua idade, é de quase 30%. No ensino médio, a evasão é praticamente a mesma, enquanto a distorção ano/série chega a 34,5%. “É esse o perfil dos alunos que estão vindo para a universidade”, alerta ele.

Gomes destaca que a pós-graduação brasileira tem alcançado bons resultados porque a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) criou um sistema eficaz de avaliação e cobrança nos anos 80. “No ensino fundamental, isso começou recentemente, com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Ele pode não ser o melhor, mas é um índice razoável”, afirma.

O professor lembrou que há 20 anos, a maior parte da população com emprego formal mal tinha o ensino fundamental completo. Hoje, a maioria desses profissionais possui no mínimo o ensino médio completo. “A China, por exemplo, está precisando de profissionais com ensino médio e investe pesado nesse grau de educação. O Brasil também tem essa necessidade, mas quando ouvimos que sobram vagas no Pronatec [Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, criado pelo governo para ampliar a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica], dá pra perceber que tem alguma coisa errada”, diz Gomes.

Segundo ele, há um conflito entre habilitação e habilidade, pois as escolas que usam o método de aula expositiva estão formando para informar, e não formando para o mundo. “As disciplinas e cursos não trabalham de forma integrada. O aluno estuda célula, mas não sabe a relação que ela possui com o átomo, por exemplo. Também falta capacitação aos professores para usarem ferramentas pedagógicas”, alerta.

Ele afirma que, para resolver esse problema, é necessário investir em uma formação inicial sólida nas instituições de ensino superior; tornar o salário inicial do professor atraente e a carreira promissora, com base no desempenho; dar boas condições de trabalho, trazendo o ambiente escolar para o século XXI; e, por fim, permitir que a sala de aula saia da escola, ou seja, que as aulas se estendam a outros ambientes externos, como museus e exposições.

“Na aula, atualmente, o professor apenas informa. Ou seja: enche o quadro de informações e resolve problemas. Mas o correto seria o aluno vir informado de casa e usar a sala de aula apenas para fazer a assimilação desse conhecimento”, diz.

O docente apresentou seu trabalho à frente da Secretaria de Educação de Pernambuco, onde mudou o ambiente escolar, investindo em tecnologia e paisagismo para as escolas e implantando programas que auxiliam no desenvolvimento do professor e do aluno, como o “Ganhe o Mundo”, em que os estudantes participavam de intercâmbio em outros países.

Para Gomes, porém, ainda que se aplique um modelo semelhante ao de Pernambuco na educação brasileira, os resultados não serão imediatos. “Você não faz nada em educação em menos de dez anos. É o período de um ciclo que precisa ser fechado”.