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Conferência da Intercontinental Academia propõe reflexão filosófica sobre tempo e eternidade

por Flávia Dourado - publicado 29/04/2015 18:30 - última modificação 10/08/2015 15:03

O filósofo Sami Pihlström, diretor do Collegium Helsinque de Estudos Avançados, na Finlândia, tratou da metafísica do tempo e da temporalidade.
Sami Pihlström via videoconferência
O filósofo Sami Pihlström, durante a videoconferência que fez a partir do Collegium Helsinque de Estudos Avançados, Finlândia

Em videoconferência da Intercontinental Academia (ICA) realizada no dia 20, Sami Pihlström, professor de filosofia da religião na Universidade de Helsinque, na Finlândia, abordou as noções de tempo e eternidade na perspectiva filosófica.

Pihlström, que é também diretor do Collegium Helsinque de Estudos Avançados da Universidade, dedicou sua exposição mais a suscitar tópicos de reflexão para os participantes da ICA que a oferecer respostas. Ele deu início a sua fala levantando dois problemas filosóficos centrais sobre a metafísica do tempo e da temporalidade: "O que é o tempo? O tempo é fundamentalmente real ou é apenas uma forma do homem categorizar a realidade?"

De acordo com o conferencista, essas questões conduzem a duas grandes concepções do tempo: a do realismo, que vê o tempo como "uma característica básica do universo espaço-temporal", dotada de uma verdade objetiva; e a do idealismo transcendental kantiano (elaborado pelo filósofo alemão Immanuel Kant), segundo a qual o tempo é uma construção subjetiva das faculdades cognitivas humanas, derivada da intuição.

Essas concepções, por sua vez, trazem à tona o embate entre realismo X antirrealismo no que diz respeito à existência de "valores-verdade objetivos e independentes da mente" subjacentes às afirmações históricas. Na avaliação de Pihlström, essas duas correntes filosóficas têm posições opostas: enquanto a primeira afirma que o passado é objetivamente determinado, a segunda nega a existência de uma realidade objetiva em qualquer dimensão temporal.

ETERNIDADE

A segunda parte da exposição de Pihlström concentrou-se na reflexão sobre a relevância e a coerência científica e filosófica do conceito de eternidade. "Existe ou pode existir alguma coisa eterna?", indagou.

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Segundo o conferencista, os filósofos antigos, como Platão e Aristóteles, sustentavam que o mundo natural tinha uma existência eterna; o monoteísmo judaico-cristão, por outro lado, crê que o mundo tal como o conhecemos tem um início (o tempo da criação) e um fim (o tempo do apocalipse).

Mas, embora acreditem na finitude do mundo, afirmou Pihlström, o judaísmo, o cristianismo e outras religiões creem na vida eterna, vista "como uma continuação infinita da existência corpórea ou incorpórea, provavelmente de uma forma muito diferente da existência terrena".

Para ele, a ideia de vida eterna remete ao que o filósofo inglês Bernard Williams denominou "tédio da imortalidade" — um estado de profunda desmotivação diante da infinitude do tempo. Isso porque, sem restrições temporais, os seres imortais poderiam fazer qualquer coisa a qualquer momento, o que os levariam a adiar indefinidamente as ações. "Não haveria motivação para nada", enfatizou.

ATEMPORALIDADE

Por outro lado, ressaltou Pihlström, a concepção de eternidade pode ser interpretada não como a existência imortal num tempo infinito, mas como atemporalidade. De acordo com ele, "a própria vida pode ser vista como uma subespécie da eternidade, ainda que não se acredite em qualquer extensão infinita da existência temporal".

O conferencista ponderou que, neste caso, a vida eterna corresponderia a viver o momento presente, tal como propõe o filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein na obra "Tractatus Logico-Philosophicus". "Infelizmente, essa ideia pode ser facilmente banalizada na literatura de autoajuda e na cultura popular", avaliou.

Em alusão à filosofia da religião inspirada nas ideias de Wittgenstein, da qual o filósofo britânico Dewi Zephaniah Phillips é o principal expoente, Pihlström disse que a preocupação religiosa, sobretudo a cristã, com a questão da imortalidade/eternidade começa com a afirmação radical da própria finitude e imortalidade humana. "Somente desistindo da busca pela continuidade infinita da vida pode-se adotar a perspectiva da eternidade que uma ética adequada para a vida exige", concluiu.

Foto: Leonor Calazans/IEA-USP