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Entre a modernidade e o desenvolvimento

por Thais Cardoso - publicado 17/04/2015 17:45 - última modificação 10/08/2015 16:08

Quarto evento do Ciclo de Palestras Ciência e Riqueza Social com José Galizia Tundisi mostra que, embora o Brasil tenha acesso a tecnologias, ainda está longe de ser um país desenvolvido; solução, segundo ele, está na inserção de mais ciência na educação

tundisi_2.jpgO Brasil atualmente está em uma encruzilhada: é um país moderno, porém não é um país desenvolvido. Mas o que deve ser feito para superar isso? Essa foi a principal questão abordada no quarto evento do Ciclo de Palestras Ciência e Riqueza Social, realizado na noite desta quinta (16), no Museu da Ciência Mário Tolentino. A palestra, promovida pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA) Polo São Carlos, pelo Núcleo de Apoio à Pesquisa em Software Livre (NAPSoL) e pelo Museu da Ciência Mário Tolentino, reuniu cerca de 80 pessoas.

O palestrante, o pesquisador do Instituto Internacional de Ecologia (IIE) José Galizia Tundisi, exemplificou a diferença entre desenvolvimento e modernidade com um dado bem próximo do dia a dia do público. “Temos no Brasil mais pessoas com telefone celular do que com saneamento básico. Ora, o celular é uma modernidade, mas o saneamento é desenvolvimento porque tem grande importância para a vida e para a saúde das pessoas. Essa diferença entre modernidade e desenvolvimento não está clara nem mesmo para muitas de nossas autoridades”, alertou ele.

Tundisi mostrou diversos exemplos de como o mundo está se tornando complexo. “Tudo está aumentando ao longo do tempo: a população, o consumo de água, alimentos, combustíveis, a produção, o envelhecimento, a urbanização e até a disseminação de doenças. As pessoas não estão preparadas para compreender esses aumentos exponenciais e toda essa velocidade. Se alguém com gripe estiver em um avião em deslocamento, em poucas horas a doença pode se espalhar por diversos países. O mundo muda muito e esse processo está cada vez mais rápido”, explica.

O pesquisador lembrou também que a economia mundial está completamente integrada, já que um mesmo produto pode ter cada parte fabricada em diferentes países. “Hoje, um país nem sempre detém uma cadeia produtiva completa. Um avião pode ser feito no Brasil e ter uma asa fabricada na Espanha, o motor na Inglaterra. No futuro, teremos uma economia mundial profundamente interconectada, até porque há uma rede de comunicação eletrônica de alcance global. Vemos um crescimento rápido e insustentável, mas ao mesmo tempo também há o desenvolvimento de novas tecnologias biológicas, genéticas e de ciência dos materiais – e isso depende da pesquisa e do desenvolvimento científico e tecnológico”.

A importância das pesquisas científicas na vida das pessoas, segundo Tundisi, é muito maior do que se imagina. Ele conta que quando assumiu a presidência do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), há cerca de 20 anos, solicitou aos assessores um levantamento dos recursos financeiros que eram trazidos para a cidade de São Carlos pelos professores e pesquisadores. “Naquela época, eles traziam, entre projetos, pesquisas e bolsas, cerca de 20% do orçamento municipal, que era de R$ 100 milhões. Ou seja: só os pesquisadores traziam R$ 20 milhões para São Carlos. Imagine quanto não deve ser esse valor hoje”, diz.

Para vencer o atraso do País em termos de desenvolvimento e fazer com que os brasileiros participem do que chamou de “mente global”, o pesquisador reforçou a importância da educação. “É preciso aumentar a capacidade das pessoas de entender os processos complexos que ocorrem em todo o mundo. Para isso, é necessário desenvolver o lado direito do cérebro, expandir a capacidade cognitiva. É necessário ter uma educação gerenciada, um professor que consiga transmitir essa capacidade e assim preparar crianças e jovens para entender a complexidade. Uma parte do planeta não entende nada disso e apenas sobrevive. Já a outra – muito pequena – entende e pode contribuir”, afirma.

Tundisi finalizou lembrando as palavras do atual ministro da educação Renato Janine Ribeiro, que acredita na educação como libertação. “É preciso incluir mais ciência no ensino, mais novas tecnologias e educar para que os jovens entendam os sistemas complexos. Se educarmos da forma correta, vamos liberar esse cérebro para entender melhor o mundo em que vivemos e como participar dele. Desenvolvimento é progresso intelectual, avanço e cultura. Modernização é só atualização e aumenta a dependência da sociedade”, concluiu.

Ciclo de Palestras

Com o objetivo de mostrar a ciência desenvolvida nas universidades e institutos de pesquisa e como isso impacta a economia e a vida dos cidadãos, o Ciclo de Palestras Ciência e Riqueza Social traz, a cada quinze dias, sempre às quintas-feiras, diversos professores e pesquisadores para interagir com a comunidade. O evento é promovido pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA) Polo São Carlos da USP, pelo Núcleo de Apoio à Pesquisa em Software Livre (NAPSoL), com sede no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, e pelo Museu da Ciência Mário Tolentino.