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Eugênio Bucci investigará telespaço público em projeto como professor visitante

por Mauro Bellesa - publicado 03/11/2007 00:00 - última modificação 02/02/2015 11:33

O espaço público migra para uma nova configuração, mais porosa à ação, à visibilidade, à presença virtual e à condição de falante dos pequenos agrupamentos e mesmo dos indivíduos, segundo o pesquisador.

Que alterações capazes de redesenhar o espaço publico de nossos dias são provocadas pelas novas tecnologias de informação e comunicação? Como elas abrem novas brechas para a formação de entendimentos? Há efetivamente uma retração do poder de influência dos meios de comunicação de massa convencionais sobre a esfera pública?

Para o jornalista Eugênio Bucci, novo professor visitante do IEA, o espaço público migra, velozmente, dos paradigmas que lhe foram dados pelos meios de comunicação de massa em direção a uma nova configuração, mais porosa à ação, à visibilidade, à presença virtual e à condição de falante dos pequenos agrupamentos e mesmo dos indivíduos.

Apesar dessa transformação, Bucci ressalva que os meios de maior alcance, com prevalência da televisão, seguem definindo grandes espaços comuns pela unificação instantânea de imensas audiências. "Muitos estudiosos notam que os meios convencionais encontram recursos de complementaridade com os novos meios."

Diante desse quadro, surge a necessidade de um esforço teórico para a construção de um novo aparato conceitual capaz de analisar as novas faces do fenômeno: "Muito já se falou sobre isso e mais ainda vai se falar: há algo de diferente no espaço público, mas ele não é inteiramente outro. Para pensá-lo e, sobretudo, para pensar suas novas implicações, novas temporalidades e espacialidades, novos meios na indústria do imaginário, e outros aspectos, é que propus ao IEA o projeto de pesquisa 'A Instância da Imagem ao Vivo, o Telespaço Público e a Expansão do Mundo da Vida pelas Novas Possibilidades Tecnológicas'".

O tema interessa a Bucci há alguns anos. Em 1996, ao lançar uma coletânea de críticas de televisão escritas para o jornal "O Estado de S.Paulo", anotou a vinculação direta entre o espaço público e a TV, cuja centralidade no imaginário brasileiro se revelou com bastante força a partir dos anos 70.

Pouco depois, iniciou a pesquisa que resultou na tese de doutorado "Televisão Objeto: a Crítica e suas Questões de Método", defendida em 2002 na Escola de Comunicações e Artes (ECA)da USP. Todo o primeiro capítulo da tese foi dedicado à exploração do conceito de espaço público. "Ao final, deixei sugerida uma superação do conceito por meio da idéia de telespaço público, cujos contornos iniciais foram delineados ao final do capítulo. Nesse estudo, a imagem, ou, mais exatamente, a 'instância da imagem ao vivo' se projetava como a âncora dos processos comunicacionais que aí têm lugar, sem prejuízo da interação intensa e multifacetada que as redes entre pares propiciam na órbita do mundo da vida."

No projeto que desenvolverá no IEA, Bucci dará continuidade ao estudo presente na tese. O reexame dos elementos que estruturavam a tese em torno do espaço público e suas conseqüências deverá originar quatro textos.

O primeiro texto cuidará do desenvolvimento do conceito de telespaço público, em linha com a emergência das novas tecnologias em interação com as práticas sociais. O segundo tratará do tempo e do espaço na era do telespaço público: a "presentificação" da história, ou, em outros termos, a expansão do presente sobre as fronteiras do que costumava ser demarcado como futuro e passado. O terceiro trabalho resultará de uma investigação sobre as relações entre linguagem, imagem, espetáculo e redes eletrônicas, com o objetivo de discutir as novas feições do imaginário, onde as imagens eletrônicas funcionam como língua. O quarto texto investigará onde e como se estabelecem relações de produção na indústria do imaginário, que opera com signos lingüísticos — novos suportes das marcas e das mercadorias — e de valor econômico (Bucci pretende aprofundar a hipótese de que pode-se falar em criação de valor na indústria do imaginário).

Ele pretende organizar, ao longo de 2008, quatro debates para questionamento e verificação das bases da pesquisa que dará origem aos quatro ensaios.

Perfil

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Doutor em ciências da comunicação (área de jornalismo) pela ECA,Eugênio Bucci é bacharel em comunicação social pela mesma escola e em direito pela Faculdade de Direito da USP. Presidiu a Radiobrás de janeiro de 2003 a abril de 2007, foi secretário editorial da Editora Abril, dirigiu revistas mensais como "Superinteressante" e "Quatro Rodas" e atuou como crítico de cultura e televisão nos jornais "Folha de S.Paulo", "O Estado de S.Paulo" e "Jornal do Brasil" e nas revistas "Veja", "Nova Escola" e "Sem Fronteiras". É autor de livros sobre ética do jornalismo, televisão e comunicação. Lecionou ética jornalística na Faculdade de Jornalismo da Fundação Cásper Líbero nos anos de 2001 e 2002.

 

Foto: Mauro Bellesa/IEA