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Fundação Gates financia projeto de saúde do IEA

por Mauro Bellesa - publicado 18/11/2016 09:55 - última modificação 21/11/2016 11:59

“Avaliação de Novas Alternativas para Aumentar a Precisão na Determinação da Causa de Morte: Uma Abordagem Baseada na Autópsia” é o título do projeto contemplado com recursos da Fundação Bill e Melinda Gates.
Aparelho portátil de ultrassom conectado a celular
Pesquisa utilizará aparelhos de ultrassom conectados
a celulares para guiar coleta de amostras de tecidos

Um projeto sediado no IEA e liderado pelo patologista Paulo Saldiva, diretor do Instituto e professor titular da Faculdade de Medicina (FM) da USP, foi um dos contemplados este ano com recursos da Fundação Bill & Melinda Gates, por meio do programa Grand Challenges Exploration (exploração de grandes desafios).

O projeto destina-se à elaboração e validação de métodos que possibilitem a identificação da causa da morte de pessoas onde há carência de profissionais ou treinamento para isso. Saldiva explica que esses métodos permitirão determinar a causa imediata e a causa básica (doença principal) da morte. “Sem esses indicadores, não é possível definir políticas públicas de saúde ou verificar sua eficiência.”

Intitulado “Avaliação de Novas Alternativas para Aumentar a Precisão na Determinação da Causa de Morte: Uma Abordagem Baseada na Autópsia”, o projeto recebeu US$ 100 mil da Fundação Gates para sua fase-piloto, na qual serão aplicados os métodos a serem desenvolvidos e feitas 1 mil autópsias durante um ano, na cidade de São Paulo.

Se a metodologia dessa fase inicial apresentar elevado índice de confiabilidade, o projeto poderá receber mais US$ 1 milhão da fundação para sua continuidade e ampliação das áreas de pesquisa, uma vez que as iniciativas apoiadas pela entidade devem ser de aplicação mundial. No caso de aprovada sua continuidade, Saldiva informa que a pesquisa será aplicada em outras regiões do Brasil e em alguns países africanos, possivelmente Angola, Moçambique e Cabo Verde.

Interdisciplinaridade

Sob a coordenação de Saldiva, a equipe do projeto é composta por pesquisadores dos Departamentos de Patologia e de Radiologia da FM, do Instituto de Matemática e Estatística - IME e do Serviço de Verificação de Óbitos da Capital, os três da USP, onde serão realizados os exames.

Dado o caráter interdisciplinar do projeto e sua intenção de ter impacto nas políticas de saúde de outros países em desenvolvimento, Saldiva considera que o IEA é a instituição de pesquisa mais apropriada para sediar o trabalho.

Os resultados alcançados resultarão num relatório a ser publicado na mais prestigiosa revista científica possível, de acordo com Saldiva. “A ideia é que esse relatório possa subsidiar a formulação de políticas públicas, daí a importância da participação do Ministério da Saúde no projeto. Além disso, o trabalho poderá resultar num curso para que os profissionais do programa Saúde da Família coletem informações com biópsias guiadas por aparelhos portáteis de ultrassom.”

Pesquisas

Segundo Saldiva, as dificuldades para coleta de informações sobre o motivo da morte por doença devem-se a vários fatores, entre os quais a falta de um médico para determinar a causa da morte ou então à falta de treinamento do profissional existente.

Há também situações em que o corpo foi examinado por um médico, mas não houve registro e coleta de amostras ou as informações não foram concentradas numa base de dados ou ainda o sistema não é transparente.

Uma estratégia é o desenvolvimento de métodos para coleta de amostras com o auxílio de ultrassom: “Pode-se fazer a biópsia de pulmão, fígado ou baço e de órgãos nobres, nos quais não seria possível extrair amostras em vida, sem abrir o corpo e tendo como guia um aparelho de ultrassom ligado ao celular, com supervisão externa”. Se relevante, essa biópsia pode resultar no envio de uma equipe de saúde para fazer o diagnóstico e acelerar o processo de identificação de novos patógenos.

A outra utilidade do projeto será permitir a melhoria dos serviços hospitalares por meio do uso do ultrassom: “Ninguém mais se dispõe a fazer autópsia. Se se quer saber do que morreu uma pessoa, pode-se pedir para a família uma autorização para doação de conhecimento de forma não invasiva, imediata e sem mutilação do corpo.”

Com isso, explica o pesquisador, é possível identificar alvos terapêuticos para tumores de mama e do estômago, por exemplo. Depois, com técnicas de biologia molecular, consegue-se esclarecer como surgiu a doença.

Essa linha de pesquisa será complementada por outro projeto já em andamento na Faculdade de Medicina e também coordenado por Saldiva, o Autópsia Verbal. Ele consiste no desenvolvimento e validação de questionários aplicados aos familiares por agentes de saúde. "As informações coletadas serão comparadas para a formulação de algorítmos que possam determinar com maior precisão a causa básica e a causa imediata de morte, usando como padrão de referência o que será verificado em autópsias reais”, explica.

Fundação Gates

Criada em 2000 e com sede em Seattle, EUA, a Fundação Bill & Melinda Gates é a maior instituição beneficente do mundo. É dirigida pelo fundador e ex-presidente da Microsoft e sua mulher e pelo megainvestidor Warren Buffett.

Além de iniciativas próprias, a fundação também apoia projetos em parceria com outras instituições beneficentes, organizações não governamentais, agências de fomento, universidades, institutos de pesquisa e governos de vários países.

Nos países em desenvolvimento, as ações são direcionadas para a melhoria da saúde da população e para iniciativas que permitam às pessoas deixarem a condição de pobreza extrema e insegurança alimentar. Nos EUA, a fundação busca assegurar às pessoas - sobretudo às mais pobres – o acesso a oportunidades que lhes permitam melhor aproveitamento escolar e melhor qualidade de vida em geral.

O Grand Challenges Exploration é uma das várias linhas de patrocínio da fundação. O projeto coordenado por Saldiva foi selecionado na 17ª rodada do programa, chamada Explore Novas Soluções em Áreas Prioritárias para a Saúde Global. No caso brasileiro, ela consiste numa parceria da Fundação Gates com 17 fundações estaduais de amparo à pesquisa.

Foto: Divulgação/Philips

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