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Grupo de Pesquisa Nutrição e Pobreza emite nota sobre situação do povo Yanomami

por Fernanda Rezende - publicado 26/01/2023 15:55 - última modificação 02/02/2023 16:24

Logos 20 anos Gp Nutrição e Pobreza e IEAO Grupo de Pesquisa Nutrição e Pobreza do IEA emitiu uma nota de repúdio à situação de subnutrição em que se encontra o povo Yanomami. Para os pesquisadores, a situação é resultado do "descaso com a gestão pública e o flagrante descompromisso com o direito à vida".

Alertam que a situação vivida por esses povos originários é diferente da subnutrição urbana, pois está em um contexto de avanço do garimpo e da contaminação da água por mercúrio, acompanhada ainda da malária e de outras doenças evitáveis.

Leia a nota na íntegra:

As faces da fome no Brasil: uma urgência que nos envergonha

Notícias recentes sobre o aumento da fome e das hospitalizações de crianças por subnutrição em nosso país têm revelado uma realidade que nos envergonha como nação. Até o início deste século, o Brasil trabalhou de forma consistente para combater a subnutrição e seus efeitos, profundamente ligados a uma sociedade em que a iniquidade na distribuição da riqueza está na raiz desta triste realidade.

Um conjunto robusto de medidas, entre as quais a implantação de programas de transferência de renda, ampliação do acesso à escolarização em todos os níveis, fortalecimento da assistência social e da assistência à saúde, aperfeiçoamento de políticas de alimentação e nutrição caminharam ao lado de medidas regulatórias com foco na justiça social e na promoção do bem-estar coletivo. O resultado deste esforço tirou o Brasil do mapa da fome em 2014, após anos de queda expressiva da pobreza e da subnutrição, especialmente entre as crianças.

O Grupo de Pesquisa Nutrição e Pobreza, como um dos muitos espaços em que a discussão da temática e a proposição de ações contribuem para organizar a participação da sociedade, da gestão pública e da academia na defesa da boa alimentação para todas e todos, vem manifestar sua indignação frente ao anúncio das mortes por fome e subnutrição no povo Yanomami e a grave violação de direitos dos povos tradicionais que temos acompanhado nestes dias.

O que ocorre no país resulta do descaso com a gestão pública e flagrante descompromisso com o direito à vida e o pleno desenvolvimento das pessoas, que assistimos nos últimos anos.

O avanço do garimpo e da contaminação da água por mercúrio, além da malária e de outras doenças evitáveis em comunidades Yanomami caracteriza um cenário distinto do que se encontra na subnutrição urbana - e portanto demanda ação especializada.

Urge a retomada de um conjunto de medidas, muitas já experimentadas, que passam pela reorganização da agenda intersetorial de combate a todas as formas da má-alimentação e da pobreza e dos mecanismos de participação social, sobretudo por meio dos Conselhos de Segurança Alimentar e Nutricional municipais, estaduais e da reinstalação do CONSEA nacional, extinto em janeiro de 2019.

O Brasil sabe como combater a fome; estão recompostas as condições políticas para que o trabalho seja retomado.

Nos alinhamos a todas e todos que estejam comprometidos com a erradicação da fome e todas as formas de má nutrição de nossa sociedade.

25 de janeiro de 2023

Grupo de Pesquisa Nutrição e Pobreza - Instituto de Estudos Avançados - USP