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História e ambiente: um diálogo necessário

por Sylvia Miguel - publicado 15/09/2015 10:30 - última modificação 29/09/2015 10:21

O comportamento histórico e a complexidade socioambiental contemporânea encontram eco na produção historiográfica brasileira. Mas a pesquisa interdisciplinar precisa avançar mais, acreditam historiadores ambientais.

O modo como os historiadores organizam e problematizam as diferentes abordagens sobre a interlocução da história com o meio ambiente será o eixo central do encontro Meio Ambiente e Dimensão Histórica: Perspectivas de Abordagens, que acontece no dia 28 de setembro, das 10h às 18h, na Sala de Eventos do IEA. Organizado pelo Grupo de Pesquisa Meio Ambiente e Sociedade e pelo GT História Ambiental - ANPUH/SP, o debate trará especialistas de diversas instituições.

A partir do final do século 20, a produção historiográfica brasileira sobre meio ambiente se estruturou como linha de reflexão e pesquisa. Segundo Silvia Helena Zanirato, membro do Grupo de Pesquisa do IEA e professora do curso de gestão ambiental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, os desafios postos por grandes alterações socioambientais colocou a história, como ciência, diante da necessidade de novos argumentos explicativos para hábitos historicamente adquiridos pelos sujeitos sociais em sua interação com o ambiente físico.

"A temática ambiental é essencialmente interdisciplinar e somente a somatória de conhecimentos pode favorecer a superação da crise ambiental. O papel da história, nesse contexto, é buscar compreender e explicar os processos que contribuem para essa crise, a qual, sabemos, está baseada no sistema de produção e consumo da Modernidade", afirma Zanirato, uma das coordenadoras do encontro e que participará dos debates na mesa "Conhecimento Histórico e Meio Ambiente: Questões Epistemológicas".

Ela conta que a academia não tem conseguido sensibilizar um público maior sobre a gravidade do problema socioambiental. "Mais do que discutir, precisamos apresentar outras possibilidades que incluam os hábitos de consumo, o estilo de vida e os meios de avançar rumo a uma sociedade menos impactante. Estou alinhada ao pensamento de Mercedes Pardo de que a condição da conservação da natureza não é principalmente física, mas sim, cultural", afirma a historiadora.

"Inegavelmente, após a Segunda Guerra Mundial, com a expansão vertiginosa da sociedade de consumo de massa, foi tomando corpo a percepção e a consciência crescente de um fenômeno complexo, interligado e de dimensões globais. Os problemas intrigavam historiadores, gestores públicos, cientistas, artistas e a população em geral", afirma Paulo Henrique Martinez, professor da Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Assis (SP), que também estará no encontro.

Tais fenômenos, diz Martinez, despontavam nos países industrializados do hemisfério norte sob a forma de poluição, destruição de ecossistemas e ameaças de extinção de espécies da fauna e da flora local. Nos países pobres, os problemas ambientais surgiam na forma de epidemias, desmatamento acelerado e degradação da saúde ambiental nas áreas rurais e urbanas, sobretudo, dos recursos hídricos e com os lixões, afirma.

Para Martinez, a história ambiental abre canais de comunicação e cria situações de diálogo interdisciplinar, como nos estudos sobre urbanização, agricultura familiar e políticas públicas, por exemplo. Porém, a pesquisa interdisciplinar ainda precisa avançar mais. "A pregação pela pesquisa interdisciplinar é insistente mas a operacionalidade ainda é baixa. Permanece mais no campo da retórica do que em experiências e práticas efetivas e concretas", acredita.

Para o professor Janes Jorge, da Unifesp, a historiografia brasileira mantém um diálogo constante com outras áreas do conhecimento e um intenso debate sobre o lugar que a produção histórica ocupa na reflexão sobre o meio ambiente. Porém, ainda há muito o que fazer na pesquisa em história ambiental e na divulgação do conhecimento produzido na área, afirma

"Acredito que as políticas públicas relativas aos recursos hídricos, resíduos, biodiversidade, mudanças climáticas e outros temas ambientais dialogam com o conhecimento científico. Mas ainda são políticas tímidas diante da dimensão do problema", afirma o professor Jorge.

Além de Zanirato, Martinez e Jorge, o encontro terá a presença de Roger Domenech Collacios (UNESP); Dora Shellard Corrêa (UNIFIEO) e José Jonas Almeida (USP).

 


Meio Ambiente e Dimensão Histórica: Perspectivas de Abordagens
Dia 28 de setembro, das 10h às 18h
Sala de Eventos do IEA, rua Praça do Relógio, 109, bloco K, 5º andar, Cidade Universitária, São Paulo (
localização)
Evento gratuito. Aberto ao público, sem inscrição prévia – Transmissão ao vivo pela web
Informações: Sandra Sedini, telefone (11) 3091-1678
Ficha do evento: http://www.iea.usp.br/eventos/meio-ambiente-e-dimensao-historica-perspectivas-de-abordagens