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Teoria sobre relação entre hormônio do sono e defesa do organismo é tema da conferência de Regina Markus

por Flávia Dourado - publicado 28/04/2015 15:55 - última modificação 10/08/2015 15:10

Em conferência da Intercontinental Academia (ICA) sobre o eixo temático "Tempo", a bióloga Regina Markus apresentou sua teoria sobre o papel da melatonina na resposta imunológica do corpo.
Conferência Regina Markus - 2
A bióloga Regina Markus, do
Instituto de Biociências da USP

A bióloga Regina Markus falou aos participantes da Intercontinental Academia (ICA) sobre a relação entre a melatonina, hormônio que regula o sono, e a ativação do sistema imunológico na conferência Pare, Pare, Pare... Uma Pausa Necessária no Fluxo do Tempo, realizada neste domingo, dia 26.

A exposição de Markus, que é membro do comitê científico do IEA para a ICA, concentrou-se na organização temporal dos ciclos biológicos influenciados pela variação de luz e, particularmente, na teoria do Eixo Imune-Pineal, desenvolvida pelo seu grupo de pesquisa no Laboratório de Cronofarmacologia do Instituto de Biociências (IB) da USP, o qual chefia.

Segundo a teoria, quando o organismo é desafiado por um agente patológico, como vírus, fungo ou bactéria, e precisa se defender rapidamente, o corpo força uma parada transitória do relógio circadiano do corpo, responsável por sincronizar os ritmos internos e o ambiente exterior. Nesse momento de pausa, a regulação das funções biológicas diurnas e noturnas torna-se secundária e dá lugar à resposta imune inata.

Markus apresentou uma série de experimentos conduzidos in vitro (no ambiente controlado do laboratório) e in vivo (em tecidos de organismos vivos) no seu laboratório, os quais mostram que a parada transitória do relógio circadiano é possível graças à comunicação bidirecional entre o sistema imunológico e a pineal — glândula localizada na região central do cérebro, encarregada da sincronização dos ritmos do corpo com os chamados ciclos claro/escuro.

Em condições normais, em que o organismo não está sob ameaça, quando anoitece a escuridão estimula a pineal a produzir a melatonina. O hormônio, conhecido como "hormônio do escuro" ou "hormônio do sono", cai na corrente sanguínea e informa todas as células que é noite, abrindo caminho para o estado de sonolência. Em contrapartida, quando amanhece, o aumento da intensidade da luz inibe a glândula e a produção da melatonina cessa, permitindo que o corpo desperte e torne-se ativo para o dia.

Essa mediação hormonal entre corpo e mente regula o relógio biológico, possibilitando que o organismo faça os ajustes necessários para a manutenção dos ciclos vitais de 24 horas.

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Entretanto, na presença de uma ameaça externa, a produção da melatonina é alterada e o ajuste fino entre ritmos biológicos e luminosidade ambiental é interrompido.

Para chegar a esta conclusão, Markus partiu da hipótese de que as funções do "hormônio do escuro" vão além da regulação do sono e se estendem à defesa do organismo, mais especificamente à atuação na barreira hematoencefálica — mecanismo químico que filtra o que pode chegar ao cérebro.

A barreira funciona como uma porta: quando fechada, impede que os leucócitos (células de defesa do organismo) migrem da corrente sanguínea para os tecidos sadios e gere uma resposta imune indevida, que Markus chama de "inflamação espúria".

A pesquisadora explicou que a melatonina é um elemento central no funcionamento dessa barreira: o hormônio inibe a permeabilidade da camada celular dos vasos sanguíneos, impedindo que os leucócitos atravessem para os tecidos desnecessariamente.

Mas, se receptores da pineal recebem a informação de que um agente infeccioso entrou no organismo, a glândula bloqueia a síntese da melatonina. Na ausência do hormônio, a barreira hematoencefálica se abre e permite que as células de defesa passem da corrente sanguínea para o tecido lesionado. Criam-se, assim, as condições necessárias para que o corpo reaja rapidamente à ameaça de um patógeno, dando início à primeira fase da resposta imune inata.

Por outro lado, se os níveis de melatonina no sangue são reduzidos, então a regulação dos ciclos claro/escuro fica comprometida e o corpo não consegue sincronizar os ritmos internos com os período diurno e noturno.

Segundo Markus, é por isso que o relógio biológico fica desajustado quando estamos doentes. "Nessa primeira parte da resposta imunológica, o organismo precisa parar no tempo para se recuperar. É o que acontece quando estamos resfriados e não conseguimos dormir à noite, mas ficamos sonolentos durante o dia."

Fotos: Leonor Calazans/IEA