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Iniciados os trabalhos da Intercontinental Academia em Nagoya

por Sylvia Miguel - publicado 10/03/2016 13:50 - última modificação 11/03/2016 12:12

Jovens pesquisadores e diretores de institutos avançados de diversos países se reúnem para a segunda fase do projeto, entre os dias 6 e 18 de março.
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Grupo da ICA em Nagoya, Japão.

A segunda fase da Intercontinental Academia teve suas atividades iniciadas no dia 6 de março, em Nagoya, no Japão. Até o dia 18, os 13 jovens pesquisadores participantes darão continuidade aos trabalhos iniciados em abril de 2015 em São Paulo, com vistas à preparação de um curso online sobre o tema “tempo”. Quando finalizado, o Massive Open Online Course (Mooc) será disponibilizado gratuitamente em uma plataforma virtual, possivelmente a Coursera. Esta fase é organizada pelo Institute for Advanced Research (IAR) da Nagoya University. A primeira esteve sob a coordenação do IEA-USP.

A cerimônia de abertura, realizada no dia 7 de março na Universidade de Nagoya, foi presidida por Hitoshi Sakakibara, da mesma instituição, e contou com a participação do reitor daquela universidade, Seiichi Matsuo. Também participaram o professor Martin Grossmann, ex-diretor do IEA-USP e membro científico do projeto; Carsten Dose, diretor executivo do  Freiburg Institute for Advanced Studies (Frias); e Hisanori Shinohara, diretor do Institute for Advanced Research (IAR) da Universidade de Nagoya. Após os trabalhos iniciais, o grupo de pesquisadores realizou um tour de reconhecimento no campus Higashiyama.

O físico Hideyo Kunieda, conselheiro e vice-reitor da Universidade de Nagoya, Japão, ministrou a conferência de abertura. No início de sua fala, Kunieda destacou o lema do brasão da USP, “Sciencia Vinces” (vencerás pela ciência), chamando a atenção da importância dessa mensagem para os dias atuais. Kunieda esteve em São Paulo participando da primeira fase da Intercontinental Academia e ministrou uma conferência sobre o tema Tempo na Astronomia.

Hideyo Kunieda

O físico Hideyo Kunieda apresenta um panorama da pesquisa na Universidade de Nagoya

Ao apresentar um panorama sobre a pesquisa realizada na Universidade de Nagoya, Kunieda destacou o fato de que seis professores daquela instituição foram laureados recentemente com o Prêmio Nobel.

Pesquisa premiada

Em 2001, Ryoji Noyori foi homenageado com o Nobel de Química e, em 2008, foi a vez de Osamu Shimomura, que conquistou o prêmio na mesma área. Em 2008, os professores Makoto Kobayashi e Toshihide Maskawa dividiram o Nobel de Física com Yoichiro Nambu, da Universidade de Chicago. O físico Toshihide Maskawa e o químico Ryoji Noyori ministraram palestras no dia 7 de março. A transmissão online não foi disponibilizada devido a questões de direitos autorais.

Em 2014, outro Nobel de Física chegou à Universidade de Nagoya, desta vez pelas mãos de Isamu Akasaki e Hiroshi Amano. O prêmio foi dividido também com o professor Shuji Nakamura, da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, Estados Unidos. A luz LED branca, popular por ser uma fonte econômica de luz, foi a criação desse trio de cientistas.

Kunieda chamou a atenção para o fato de que certos estudos levam décadas para chegar a ser um invento relevante. Daí a importância dos jovens pesquisadores para a pesquisa do futuro. “Mas o papel de um grande mentor (orientador) também é fundamental”, disse.

O tempo nas ciências

A Intercontinental Academia (ICA) é um programa de pesquisa internacional criado no âmbito da University-Based Institutes for Advanced Study (Ubias), rede que reúne 36 institutos de estudos avançados de universidades de todos os continentes.

A ideia de criação de um projeto que congregasse jovens talentos de todo o mundo em trabalhos com duração de dois anos surgiu durante uma reunião do Comitê de Coordenação da Ubias, realizado no Instituto de Estudos Avançados Jawaharlal Nehru, em Nova Delhi, Índia.

O IEA-USP e o IAR-Nagoya são os responsáveis pela primeira edição, que está produzindo estudos colaborativos interdisciplinares sobre os conceitos de tempo nas várias ciências.

A segunda edição da ICA, também desenvolvida em duas etapas, está trabalhando o tema dignidade humana. A primeira fase teve início no dia 6 de março em Jerusalém, Israel, e vai até o dia 20 de março. A segunda etapa vai de 1 a 12 de agosto, em Bielefeld, Alemanha.

O Instituto Israel para Estudos Avançados da Universidade Hebraica de Jerusalém e o Centro para Pesquisas Interdisciplinares (Zentrum für interdisziplinäre Forschung - ZiF) da Universidade de Bielefeld são os organizadores da segunda edição.

Programação completa

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Mais informações:

http://intercontinental-academia.ubias.net

A captação de jovens talentos está entre as estratégias de internacionalização da universidade, mostrou. A instituição promove simpósios estudantis, oferece cursos de curta e média duração, visitas de curta e longa duração, intercâmbios entre pesquisadores, acordos de cooperação e outras ações.

Entre os projetos inovadores da Universidade de Nagoya está o Center for Integrated Research of Future Electronics (CIRFE), centro cujas pesquisas já resultaram numa economia de 7% nos gastos com eletricidade no Japão, e o Institute of Innovation for Future Society, voltado à pesquisa aplicada envolvendo diversas áreas, mostrou.

“Coragem intelectual”

Em sua fala, Grossmann relembrou a aula magna do ex-reitor da USP e atual presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), José Goldemberg, ministrada durante o primeiro encontro da ICA em São Paulo. Perguntado sobre qual deveria ser o perfil de um jovem pesquisador para enfrentar os desafios da carreira e da universidade do futuro, Goldemberg respondeu, na ocasião: “Ele deve ser agressivo”.

Martin Grossmann Nagoya

Martin Grossmann, membro do comitê científico da ICA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Segundo o ex-diretor do IEA, o significado de “ser agressivo”, no mundo da ciência, poderia ser traduzido em “ousadia”, ou, “ter coragem intelectual”, frase que coincide com o lema da Universidade de Nagoya: “cultivar a coragem intelectual”, lembrou.

A interdisciplinaridade é essencial para a universidade do futuro, ressaltou Grossmann, ao falar das pesquisas praticadas no IEA. Ouvir o outro, mesmo que de campos disciplinares diferentes, é algo fundamental para o avanço da ciência, disse.

“Como uma rede de jovens pesquisadores poderá ter alguma relevância diante de uma instituição secular como a universidade? A resposta é promovendo pesquisas e encontros interdisciplinares, que permitam associar ciência, cultura e tecnologia”, destacou Grossmann.

Facilitar o diálogo interdisciplinar

A Universidade de Nagoya tem desempenhado um papel de liderança e apoio decisivo para as atividades do Ubias, disse Carsten Dose, do Freiburg Institute for Advanced Studies (Frias). “Esta é uma instituição líder em escala global e, portanto, estar aqui na segunda fase da ICA é um privilégio”, disse Dose.

Carsten Dose Nagoya

Carsten Dose, do Freiburg Institute for Advanced Studies (Frias)

“A ICA nos faz lembrar o que é essencial para nossos institutos, que é congregar jovens pesquisadores num trabalho que permite facilitar o diálogo entre diferentes disciplinas e diferentes países”, disse.

Ele lembrou as vantagens de ter institutos de estudos avançados coligados a universidades, pois essas unidades possuem bases que permitem facilitar a ciência mais livremente, de uma forma que as instituições convencionais não conseguem, falou.

Numa mensagem direta aos jovens pesquisadores da ICA, disse desejar que fosse mantida a "ambição" e a busca de "novas ideias para fazer a Intercontinental Academia avançar sempre".

 

Hisanori Shinohara

Hisanori Shinohara, do IAR-Nagoya, apresenta as atividades do instituto

 

 

IAR em expansão

O diretor do Institute for Advanced Research (IAR) da Universidade de Nagoya, Hisanori Shinohara, apresentou os princípios, as atividades e a estrutura do organismo. “Trabalhamos com um quadro enxuto, como requer as instituições modernas, mas pretendemos expandir durante minha gestão, não só em termos de recursos humanos, como também em orçamento”, disse.

Comunicar à comunidade acadêmica as pesquisas de excelência produzidas na Universidade de Nagoya e no IAR; dar suporte substancial às pesquisas de excelência; e promover a independência de destacados pesquisadores são os princípios que regem o IAR, disse.

O conselho consultivo acadêmico do IAR possui 13 membros, incluindo os seis cientistas agraciados com o Nobel. O instituto possui atualmente seis projetos de pesquisa em andamento. Sua linha de atuação busca encorajar e promover atividades interdisciplinares informais, promover encontros entre jovens pesquisadores e acadêmicos de renome, promover intercâmbios de pesquisa com instituições internacionais e gerenciar um programa de bolsas de pesquisa, resumiu.