Historiador discute a posição dos intelectuais brasileiros diante da descolonização afro-asiática
Quais foram as consequências da aparição do Terceiro Mundo – em virtude do processo de descolonização afro-asiática durante a Guerra Fria – para a sociedade brasileira, em particular para seus intelectuais?
Essa questão está no cerne da pesquisa de doutorado que o historiador italiano Flores Giorgini desenvolve no Instituto de Altos Estudos sobre a América Latina do Centro de Pesquisa e Documentação sobre as Américas da Universidade Sorbonne Nouvelle Paris 3.
Ele apresentará a pesquisa no evento A Descolonização Afro-Asiática e a Intelectualidade Brasileira, no dia 10 de junho, às 14h. Sua exposição será comentada pelas professoras Ligia Fonseca Ferreira, da Unifesp e integrante do Grupo de Pesquisa Diálogos Interculturais do IEA, e Leila Leite Hernandez, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Depois dos comentários e apresentações das duas, haverá uma seção para perguntas do público.
No encontro, Giorgini pretende refletir sobre as relações que existem entre o pensamento brasileiro (e seus autores), o espaço atlântico e o continente afro-asiático no contexto da terceira onda de descolonização, iniciada com o fim da Segunda Guerra. "Por meio do estudo destas relações, gostaria de analisar os debates que existiam no Brasil relacionados à descolonização afro-asiática e às consequências destas independências no pensamento brasileiro, bem como os eventuais traços em comum entre as reflexões desenvolvidas nos países em luta pela própria autodeterminação e os países latino-americanos na mesma época."
O evento é aberto a todos os interessados (mediante inscrição prévia) e gratuito. Quem não puder comparecer terá a oportunidade de acompanhá-lo ao vivo pela internet (nesse caso, não é preciso se inscrever).
Os organizadores são o IEA, o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, o Polo Brasil (sediado no IEA) do Instituto das Américas (IdA), o Consulado Geral da França em São Paulo e o Instituto Francês do Brasil. O encontro conta com o apoio da Universidade Sorbonne Nouvelle Paris 3.
Terceiro Mundo
A Segunda Guerra Mundial e o começo da terceira onda de descolonização, com as respectivas lutas de emancipação dos países afro-asiáticos, marca uma época de revolução total para as relações internacionais e seus atores, afirma Giorgini.
"O mundo dividido entre o bloco ocidental e o soviético conhece o nascimento do Terceiro Mundo, assim como um processo de reorganização das relações internacionais, que são pensadas cada vez mais a partir da oposição entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos."
De acordo com o historiador, no contexto de tensão internacional da Guerra Fria, a luta contra o colonialismo europeu e a política de “neutralidade positiva” e de não-alinhamento de vários países afro-asiáticos tornam-se fenômenos centrais da cena internacional. "Neste mesmo período, a ideia de subdesenvolvido se afirma no debate mundial após o termo 'underdeveloped' ter sido empregado publicamente em 1949 pelo presidente dos Estados Unidos Harry Truman."
Posição brasileira
Giorgini destaca a postura contraditória do Brasil em relação ao movimento de descolonização afro-asiático, "em particular no que diz respeito ao apoio do governo do país - no âmbito das instituições internacionais mais relevantes da época - às principais potências colonizadoras e ao Portugal de Salazar e sua política ultramarina".
Graça às reflexões de alguns especialistas da história cultural e intelectual da América Latina, sabe-se, segundo ele, que esse período de mudança na cena internacional "representa um momento importante para a compreensão de vários fenômenos centrais da vida cultural da sociedade brasileira no pós-Segunda Guerra".
Ele cita o sociólogo francês Daniel Pécaut, para quem “a exaltação nacional” que caracterizou o debate político e social brasileiro entre 1950 e 1964 estava baseada “em um sentimento [nacionalista] difuso em vários setores sociais” que fazia com que, contrariamente ao que pensavam vários críticos da postura nacionalista, “o privilégio acordado à 'libertação nacional' não tinha nenhum valor de álibi para evitar a luta de classes”. Ainda nas palavras de Pécaut, “o Brasil vivia simplesmente na hora do advento do Terceiro Mundo”
A Descolonização Afro-Asiática e a Intelectualidade Brasileira
10 de junho, 14h
Sala Alfredo Bosi, IEA, rua da Praça do Relógio, 109, térreo, Cidade Universitária, São Paulo
Evento público, gratuito e com inscrição prévia - Para assistir ao vivo pela internet não é preciso se inscrever
Mais informações: com Claudia Regina Pereira (clauregi@usp.br), telefone (11) 3091-1686
Página do evento
Fotos (a partir do alto): Arquivo da ACLLN, Moçambique; Universidade Sorbonne Nouvelle Paris 3