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Historiador discute a posição dos intelectuais brasileiros diante da descolonização afro-asiática

por Mauro Bellesa - publicado 24/05/2019 14:20 - última modificação 27/05/2019 17:37

Proclamação da Independência de Moçambique
Samora Machel, líder militar e primeiro presidente de Moçambique, discursa na Proclamação de Independência do país, em 25 de junho de 1975

Quais foram as consequências da aparição do Terceiro Mundo em virtude do processo de descolonização afro-asiática durante a Guerra Fria – para a sociedade brasileira, em particular para seus intelectuais?

Essa questão está no cerne da pesquisa de doutorado que o historiador italiano Flores Giorgini desenvolve no Instituto de Altos Estudos sobre a América Latina do Centro de Pesquisa e Documentação sobre as Américas da Universidade Sorbonne Nouvelle Paris 3.

Ele apresentará a pesquisa no evento A Descolonização Afro-Asiática e a Intelectualidade Brasileira, no dia 10 de junho, às 14h. Sua exposição será comentada pelas professoras Ligia Fonseca Ferreira, da Unifesp e integrante do Grupo de Pesquisa Diálogos Interculturais do IEA, e Leila Leite Hernandez, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Depois dos comentários e apresentações das duas, haverá uma seção para perguntas do público.

No encontro, Giorgini pretende refletir sobre as relações que existem entre o pensamento brasileiro (e seus autores), o espaço atlântico e o continente afro-asiático no contexto da terceira onda de descolonização, iniciada com o fim da Segunda Guerra. "Por meio do estudo destas relações, gostaria de analisar os debates que existiam no Brasil relacionados à descolonização afro-asiática e às consequências destas independências no pensamento brasileiro, bem como os eventuais traços em comum entre as reflexões desenvolvidas nos países em luta pela própria autodeterminação e os países latino-americanos na mesma época."

Flores Giorgini - 2019
O historiador italiano Flores Giorgini

O evento é aberto a todos os interessados (mediante inscrição prévia) e gratuito. Quem não puder comparecer terá a oportunidade de acompanhá-lo ao vivo pela internet (nesse caso, não é preciso se inscrever).

Os organizadores são o IEA, o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, o Polo Brasil (sediado no IEA) do Instituto das Américas (IdA), o Consulado Geral da França em São Paulo e o Instituto Francês do Brasil. O encontro conta com o apoio da Universidade Sorbonne Nouvelle Paris 3.

Terceiro Mundo

A Segunda Guerra Mundial e o começo da terceira onda de descolonização, com as respectivas lutas de emancipação dos países afro-asiáticos, marca uma época de revolução total para as relações internacionais e seus atores, afirma Giorgini.

"O mundo dividido entre o bloco ocidental e o soviético conhece o nascimento do Terceiro Mundo, assim como um processo de reorganização das relações internacionais, que são pensadas cada vez mais a partir da oposição entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos."

De acordo com o historiador, no contexto de tensão internacional da Guerra Fria, a luta contra o colonialismo europeu e a política de “neutralidade positiva” e de não-alinhamento de vários países afro-asiáticos tornam-se fenômenos centrais da cena internacional. "Neste mesmo período, a ideia de subdesenvolvido se afirma no debate mundial após o termo 'underdeveloped' ter sido empregado publicamente em 1949 pelo presidente dos Estados Unidos Harry Truman."

Posição brasileira

Giorgini destaca a postura contraditória do Brasil em relação ao movimento de descolonização afro-asiático, "em particular no que diz respeito ao apoio do governo do país - no âmbito das instituições internacionais mais relevantes da época - às principais potências colonizadoras e ao Portugal de Salazar e sua política ultramarina".

Graça às reflexões de alguns especialistas da história cultural e intelectual da América Latina, sabe-se, segundo ele, que esse período de mudança na cena internacional "representa um momento importante para a compreensão de vários fenômenos centrais da vida cultural da sociedade brasileira no pós-Segunda Guerra".

Ele cita o sociólogo francês Daniel Pécaut, para quem “a exaltação nacional” que caracterizou o debate político e social brasileiro entre 1950 e 1964 estava baseada “em um sentimento [nacionalista] difuso em vários setores sociais” que fazia com que, contrariamente ao que pensavam vários críticos da postura nacionalista, “o privilégio acordado à 'libertação nacional' não tinha nenhum valor de álibi para evitar a luta de classes”. Ainda nas palavras de Pécaut, “o Brasil vivia simplesmente na hora do advento do Terceiro Mundo”


A Descolonização Afro-Asiática e a Intelectualidade Brasileira
10 de junho, 14h
Sala Alfredo Bosi, IEA, rua da Praça do Relógio, 109, térreo, Cidade Universitária, São Paulo
Evento público, gratuito e com inscrição prévia - Para assistir ao vivo pela internet não é preciso se inscrever
Mais informações: com Claudia Regina Pereira (clauregi@usp.br), telefone (11) 3091-1686
Página do evento

Fotos (a partir do alto): Arquivo da ACLLN, Moçambique; Universidade Sorbonne Nouvelle Paris 3