Em 2018, máquinas já são capazes de prever as condições climáticas, comprar e vender no mercado financeiro, redigir análises econômicas, conduzir veículos sem intervenção humana, diagnosticar doenças com alto índice de precisão, traduzir línguas em tempo real, sentenciar pessoas em casos criminais e jogar xadrez melhor do que um ser humano. Isso tudo é possível graças ao uso dos algoritmos, que tornam o conceito de inteligência artificial (IA) cada vez mais próximo.
As possibilidades e desafios dessa tecnologia serão tema do encontro A Máquina, Inteligência e Desinteligência: Utopia e Entropia à Vista, que acontece de 21 a 23 de novembro no Itaú Cultural, parceiro do IEA na iniciativa. [As inscrições estão encerradas; mais informações podem ser obtidas no site do Itaú Cultural ou pelo telefone (11) 2168-1876.]
Dividido em cinco painéis temáticos, o seminário discutirá a presença da IA na biologia, medicina, cultura, direito e futuro da computação. Também haverá conferências com dois expoentes internacionais da área: Michael Resch, diretor do High Performance Computing Center Stuttgart, da Universidade de Stuttgart, Alemanha, e o futurista Anders Sandberg, do Future of Humanity Institute, da Universidade de Oxford, Reino Unido. [Veja mais detalhes na programação.]
Um dos focos centrais de todas as abordagens é o algoritmo e as questões que levanta no campo da ética. “Através do autoaprendizado, máquinas são capazes de reconhecer padrões em grandes volumes de dados, podendo apontar soluções numa infinidade de situações, como quem admitir numa instituição, quem demitir, quem promover etc. Mas elas podem também ter dúvidas sobre as escolhas a fazer, uma qualidade que as aproxima do comportamento humano”, explica José Teixeira Coelho Neto, coordenador do Grupo de Estudos Humanidades Computacionais do IEA, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e organizador acadêmico do seminário.
De acordo com ele, as máquinas estão prestes a dotarem-se do que se denomina de consciência. “Nesse contexto, não é apenas o desaparecimento de empregos que estará em jogo; é a própria ideia de ser humano que passa por exame e eventual processo de redefinição”, diz.
Teixeira Coelho exemplifica: a morte pode em breve ser uma opção, não mais uma inevitabilidade (para aqueles que puderem pagar por isso), e toda a estrutura que define os seres humanos e as relações entre eles e a natureza serão radicalmente alteradas. A realidade virtual provavelmente irá redefinir a experiência humana e as noções de corpo e fisicalidade. Mentiras simples e puras e uma insistência na relatividade da verdade, ou indiferença em relação a ela, podem alterar o conceito de história e as relações sociais. “A inteligência aumentada está próxima, mas também, no mesmo processo, estão a desinteligência e a desintegração do que é conhecido como sociedade”, conclui Teixeira Coelho.
Programação
21 de novembro |
14h-14h30 |
Abertura
- Eduardo Saron
Diretor-superintendente do Itaú Cultural há 16 anos, Saron também dirige a Associação Nacional de Entidades Culturais Não Lucrativas (ANEC), além de ser vice-presidente da Fundação Bienal de São Paulo e conselheiro do Museu de Arte de São Paulo (Masp), do Instituto CPFL, da São Paulo Companhia de Dança e do Conselho Nacional de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
- Guilherme Ary Plonski
Mestre, doutor e livre-docente em engenharia de produção, Plonski é vice-diretor do IEA, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) e da Escola Politécnica (Poli) e coordenador científico do Núcleo de Política e Gestão Tecnológica. Foi diretor superintendente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), pesquisador visitante no Center for Science and Technology Policy do Rensselaer Polytechnic Institute, nos EUA, e presidente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores.
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14h30-16h |
Biologia
O recurso à inteligência artificial com todo seu aparato (algoritmos, computação exponencializada) promete mudanças de profundidade para os organismos vivos. A possibilidade de edição do código genético abre perspectivas para a criação de um novo ser vivo, de um novo ser humano. Especialistas da computação preveem a possibilidade de abolição da morte que, de inevitável, passaria a opcional (pelo menos para os dotados de recursos). Um novo conceito de ser humano é possível, uma nova ideia de natureza parece despontar. A fome universal parece afastada, mas ainda há dúvidas sobre os riscos ao meio ambiente. Sob que aspectos o novo quadro na biologia poderia influir na cultura humana de modo geral?
Expositores
- Marcos Buckeridge
Professor do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências (IB) da USP e presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp), Buckeridge coordena o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (desde 2009) e o Programa USP Cidades Globais do IEA. Também participa das equipes editorias de revistas internacionais sobre fisiologia vegetal e bioenergia.
- Alexandre Dias Porto Chiavegatto Filho
Doutor em saúde pública com pós-doutorado na Universidade de Harvard, EUA, Chiavegatto Filho é professor da área de estatística de saúde do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. Na mesma unidade, dirige o Laboratório de Big Data e Análise Preditiva em Saúde (Labdaps) e coordenada cursos sobre o uso do R (linguagem de programação e ambiente computacional) para a análise de dados e sobre machine learning em saúde.
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16h-16h30 |
Intervalo |
16h30-18h |
Direito
As aplicações da tecnologia digital vão muito além da simples eliminação do papel e dos processos de estocagem de processos e jurisprudência. Não se trata mais de escanear textos e torná-los mais facilmente guardados e acessíveis. Algoritmos, já neste momento, substituem a figura do juiz no sentenciamento de condenados, retirando-lhes um direito que até aqui era tão evidente que parecia desnecessário evidenciá-lo: o de ser julgado por seus pares, outros seres humanos, e de receber uma sentença proferida por outro ser humano que, dentro dos limites estabelecidos pela lei, julga de acordo com suas convicções íntimas, convicções de um ser humano. As transformações na área do direito e da Justiça já são de grande alcance e tudo indica que essa tendência será aprofundada. Como a população cresce e os interesses em conflito também, diante de uma estrutura judicial que por toda parte não acompanha esse crescimento, o recurso à inteligência artificial é inevitável. O que fazer? E sob que aspectos as transformações no direito e na Justiça podem afetar a ideia geral de cultura?
Expositores
- Luli Radfahrer
Professor de comunicação digital da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP há 21 anos, Radfaher é consultor em inovação digital de empresas de vários países. É autor do livro "Enciclopédia da Nuvem", em que analisa 550 ferramentas e serviços digitais para empresas. Foi colunista do jornal "Folha de S.Paulo" e atualmente analisa as principais tendências da tecnologia em participações semanais na programação da Rádio USP e da Rádio Bandeirantes.
- Juliano Souza Albuquerque Maranhão
Professor do Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade de Direito (FD) da USP, Maranhão realizou pesquisa de pós-doutorado na Faculdade de Ciência da Computação da Universidade de Utrecht, Holanda. É pesquisador da Fundação Alexander von Humboldt e professor convidado da Universidade de Frankfurt, Alemanha. Atualmente desenvolve pesquisa nas áreas de teoria do direito, lógica deôntica, teoria da argumentação, inteligência artificial e direito digital.
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18h-19h30 |
Intervalo |
19h30-21h |
Conferência
Conferencista
- Michael Resch
Estudou matemática na Universidade Técnica de Graz, Áustria, onde trabalhou no Joanneum Research Associaton. Depois passou a integrar a equipe do Centro de Computação de Alta Performance (HLRS na sigla em inglês) da Universidade de Stuttgart, Alemanha. Tornou-se professor assistente da Universidade de Houston, EUA, em 2002. No ano seguinte, assumiu a direção do HLRS, que possui o supercomputador Hermit, um dos mais velozes sistemas civis de computação da Europa.
Conferência
Conferencista
- Anders Sandberg
É pesquisador do Instituto Futuro da Humanidade da Universidade de Oxford, Reino Unido. Sandberg obteve seu doutorado em neurociência computacional na Universidade de Estocolmo, Suécia, com pesquisa sobre modelagem de redes neuronais da memória humana. Sua pesquisa em Oxford está centrada no gerenciamento de riscos de baixa probabilidade e alto impacto, estimando as capacidades de futuras tecnologias e futuros de prazo bastante longo.
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22 de novembro |
14h30-16h |
Medicina
1. Aplicação da inteligência artificial ao campo da medicina modificando as condições e possibilidades de diagnóstico: aspectos positivos e negativos.
2. O papel do médico, consequências para a formação do médico (o preparo humanístico do médico será afetado? O algoritmo pode receber comandos voltados para a perspectiva humanística da profissão? Em que consistiria isso? A formação do profissional requerido pelas novas técnicas de computação (especialistas no diagnóstico por imagem apontam a insuficiência de preparo do médico para a interpretação adequada das imagens; acurácia das imagens atuais).
3. A mudança previsível será profunda? Em algumas áreas (por ex., música) aventa-se a possibilidade de extinção da sala de concerto, sendo a performance musical acessada por realidade virtual sem necessidade de deslocamento da pessoa e com possibilidade de desfrutar o espetáculo mesmo em companhia de outras pessoas que se encontrem não ao lado físico da pessoa: no passado, tratava-se de levar as pessoas até os lugares e as coisas, agora os lugares e as coisas vêm até as pessoas. Qual o cenário para a medicina?
4. Sob que aspectos as transformações na medicina podem afetar a ideia geral de cultura?
Expositores
- Paulo Saldiva
É diretor do IEA e professor titular do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP. Suas pesquisas tratam de anatomia patológica, fisiopatologia pulmonar, doenças respiratórias e saúde ambiental, ecologia aplicada, cidades e saúde humana, humanidades e antropologia médica. Faz parte da Academia Nacional de Medicina. Integrou o Comitê Científico da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard, EUA, e o Comitê de Qualidade do Ar da Organização Mundial da Saúde (OMS).
- Edson Amaro Jr.
Doutor pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), onde tornou-se livre docente em 2007, Amaro Jr. é professor do Departamento de Radiologia da mesma faculdade e honorary lecturer do King's College da Universidade de Londres, Reino Unido. A ressonância magnética funcional é sua principal área de atuação. É médico radiologista do Hospital das Clínicas da FMUSP, além de coordenador científico do Instituto do Cérebro e neurorradiologista do Hospital Israelita Albert Einstein.
- Carlos Stein Naves de Brito
Realiza pesquisa de pós-doutorado em neurociência teórica na Unidade de Neurociência Computacional Gatsby da University College London, Reino Unido. Stein graduou-se em engenharia da computação no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e obteve o título de mestre em bioinformática pela USP. Tem experiência em fisiologia e atua em pesquisas sobre coerência parcial direcionada, conectividade funcional e ressonância magnética funcional.
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16h30-18h |
Cultura
O conjunto formado por computação, inteligência artificial e algoritmo compõe uma nova narrativa cultural ao lado das – e provavelmente em substituição às, ou pelo menos em complementação significativa – narrativas tradicionais de cunho religioso, sociológico, psicológico, filosófico. Em que consiste essa narrativa, quais suas unidades de significação, como se articulam para a produção do novo sentido?
Expositores
- Marcos Cuzziol
Graduado em engenharia mecânica pelo Instituto de Ensino de Engenharia Paulista, com mestrado e doutorado em artes pela Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP, Cuzziol é gerente do Núcleo de Inovação do Itaú Cultural, desenvolvedor de games e sócio-fundador da Perceptum Software Ltda. Atua principalmente na pesquisa sobre: games; realidade virtual; comportamento artificial; e arte e tecnologia.
- Professor emérito da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, coordenador do Grupo de Estudos Humanidades Computacionais do IEA e coordenador do curso de especialização em gestão e política cultural do Observatório Itaú Cultural. É doutor em teoria literária e literatura comparada, com pós-doutorado na Universidade de Maryland, EUA. Foi diretor do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP e curador-coordenador do Museu de Arte de São Paulo (Masp).
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19h30-21h |
Conferência
Conferencista
- Michael Resch
Estudou matemática na Universidade Técnica de Graz, Áustria, onde trabalhou no Joanneum Research Associaton. Depois passou a integrar a equipe do Centro de Computação de Alta Performance (HLRS na sigla em inglês) da Universidade de Stuttgart, Alemanha. Tornou-se professor assistente da Universidade de Houston, EUA, em 2002. No ano seguinte, assumiu a direção do HLRS, que possui o supercomputador Hermit, um dos mais velozes sistemas civis de computação da Europa.
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23 de novembro |
9h-12h |
O Futuro da Computação
A próxima etapa da computação, seu significado e aplicações nas Humanidades
O atual edifício digital de computação está prestes a alterar-se radicalmente com a introdução gradativa da computação quântica. Novos conceitos sobre a ideia de realidade e novas possibilidades de exploração do universo apresentam-se com rapidez. O painel explorará as possibilidades e impasses da nova tecnologia e suas influências para o campo das humanidades.
Expositores
- Marcos Cuzziol
Graduado em engenharia mecânica pelo Instituto de Ensino de Engenharia Paulista, com mestrado e doutorado em artes pela Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP, Cuzziol é gerente do Núcleo de Inovação do Itaú Cultural, desenvolvedor de games e sócio-fundador da Perceptum Software Ltda. Atua principalmente na pesquisa sobre: games; realidade virtual; comportamento artificial; e arte e tecnologia.
- Helena dos Santos
Socióloga, professora da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, Helena é pesquisadora do Centro de Estudos das Artes, das Tecnologias e das Ciências da Comunicação (CETAC.media) da mesma universidade. Nesse centro, dedica-se à sociologia da cultura e das artes, analisando: práticas e públicos; produção e criação; e políticas. Também atua em outras instituições portuguesas, como o Instituto de Cinema e Audiovisual, o Instituto Português de Museus e a Direção Geral de Artes.
- Fátima São Simão
Graduada pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto, Portugal, com mestrado em gestão e política cultural pela City Universidade de Londres, Reino Unido, Fátima é diretora de desenvolvimento do Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (Uptec). No parque, ela é também coordenadora executiva da incubadora de indústrias criativas (Uptec Pinc), que atualmente apoia o desenvolvimento de mais de 30 startups de arquitetura, design, audiovisual e comunicação.
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A Máquina, Inteligência e Desinteligência: Utopia e Entropia à Vista
21 a 23 de novembro
Instituto Itaú Cultura, aveninda Paulista, 149, São Paulo
Inscrições encerradas
Mais informações: www.itaucultural.org.br; telefone (11) 2168-1876
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