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José Eli da Veiga agora é professor sênior do IEA

por Mauro Bellesa - publicado 14/10/2019 13:45 - última modificação 14/10/2019 13:48

O economista José Eli da Veiga, professor titular aposentado da FEA-USP, agora integra o quadro de pesquisadores do IEA como professor sênior.

Pesquisa e debate público

José Eli da Veiga - 27/5/2019
José Eli da Veiga durante 'Conversa sobre a Historia da Terra', em maio, no IEA

Por trinta anos José Eli da Veiga foi docente do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP. Mesmo tendo se aposentado em 2012 como professor titular, continua a ter intensa atividade na Universidade, na produção de livros e no debate público de questões ligadas ao meio ambiente e sustentabilidade.

Sua formação acadêmica ocorreu na França, de 1969 a 1979, com graduação em agronomia pela Escola Superior de Engenheiros e Técnicos para a Agricultura, mestrado em economia agrícola pela Universidade Paris-Sorbonne e doutorado pela Universidade Paris 1 Pantheon-Sorbone.

Em 1982, passou a lecionar na FEA, onde tornou-se livre-docente em 1993 e professor titular em 1996. Continua como orientador do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da USP, onde já foi também orientador e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental e professor sênior do Instituto de Energia e Ambiente (IEE).

É autor de 25 livros, os mais recentes são: “O Antropoceno e a Ciência do Sistema Terra” (2019), “Amor à Ciência – Ensaios sobre o Materialismo Darwiniano” (2017), “Para Entender o Desenvolvimento Sustentável” (2015), “O Imbrólio do Clima: Ciência, Política e Economia” (2014) e “A Desgovernança Mundial da Sustentabilidade (2013). Organizou ou coorganizou outros seis livros.

Publicou 50 capítulos de livros e 46 artigos em periódicos científicos. É colunista do jornal “Valor Econômico”, da revista “Página 22” e da Rádio USP e já colaborou inúmeras vezes para os jornais “O Estado de S.Paulo” e “Folha de S.Paulo”.

Capítulos de livros, artigos acadêmicos, colaborações com a imprensa, vídeos de eventos e entrevistas estão disponíveis no site de Veiga.

Criar um núcleo de pesquisas sobre as incertezas existenciais e dar continuidade a reflexões epistemológicas sobre suposta superação da dialética hegeliana serão as duas principais atividades do economista José Eli da Veiga como professor sênior do IEA no biênio 2020-2021.

Ao propor a criação do núcleo de pesquisas, Veiga tem como referência várias iniciativas transdisciplinares surgidas entre 2005 e 2014 dedicadas ao estudo de fenômenos capazes de “condenar a vida inteligente na Terra a ficar permanentemente atrofiada, ou mesmo ser aniquilada”.

Cinco exemplos de iniciativas desse tipo são, segundo Veiga: no Reino Unido, o Centro de Estudo do Risco Existencial (CSER), na Universidade de Cambridge, e o Instituto Futuro da Humanidade (FHI); nos Estados Unidos,  o Instituto Futuro da Vida (FLI), o Instituto Risco Catastrófico Global GCRI) e a Universidade Singularidade (SU).

Veiga ressalva, porém, que a noção de risco continua a ser confundida com a de incerteza: “A rigor, riscos podem ser estimados estatisticamente, com base no histórico de ocorrências, enquanto incertezas sobre o futuro só podem ser avaliadas subjetivamente e, no máximo, discutidas em termos metafísicos.”

De acordo com Veiga, o filósofo francês Jean-Pierre Dupuy, que desde 1984 ensina ciência política na Universidade Stanford, nos EUA, é um dos principais mentores dos articuladores de quase todas as instituições desse tipo.

Desde 2002, o âmago das pesquisas de Dupuy está voltado ao perigo atômico e às razões de despreocupação e negligência em que repousa. “Ele procura demonstrar que a ameaça de uma guerra nuclear é tão ou mais séria do que foi o foi ao longo do quase meio século da Guerra Fria, ou mesmo durante a conjuntura que se seguiu aos ataques de 11 de setembro de 2001.”

O livro mais famoso de Dupuy, “Por um Catastrofismo Esclarecido”, foi muito mal interpretado desde que foi lançado em 2002, afirma o novo professor sênior. “Muitos comentadores acharam que a forma de catastrofismo ali defendida seria equivalente a se tomar a catástrofe como certeza, só que isso seria um absurdo, segundo Dupuy”, explica Veiga, que cita observação feita pelo filósofo em seu livro mais recente: “Se o desastre é inexorável, só se pode desistir. Gostaria que tivessem entendido o oposto: longe de ser uma certeza, a ocorrência da catástrofe deve ser considerada indeterminada, sendo tal indeterminação a forma mais radical de incerteza”.

Epistemologia

Em paralelo ao trabalho de constituição do núcleo de pesquisas, Veiga dará continuidade a investigações que tiveram seus resultados parcialmente expostos em livros recentes. “Na atual etapa, o principal será avançar na reflexão – de caráter essencialmente epistemológico – sobre as próprias noções de ‘sistema’ e de ‘complexo’, especialmente quando relacionadas a uma pretensa superação da dialética hegeliana por uma dita ‘dialógica’.”

Há mais de dez anos, Veiga trabalha com a hipótese de que estejam errados todos os que tentaram inventar alguma coisa nova sobre a dialética, tanto aqueles que propuseram algo que iria além dela, “como as tais ‘dialógicas’ de Mikhail Bakhtin, Edgar Morin ou Heinz von Foerster”, quanto os que sugeriram algo mais modesto, limitado ao estabelecimento das bases lógicas para uma dialética completamente distinta da de Hegel.

A partir desse hipótese, Veiga planeja revisar as obras de todos os que pretendem ter descoberto formas de ir além da dialética de Hegel, trabalho já iniciado no caso de Morin.

“Nas palavras de Morin, ‘dialógica’ é a unidade complexa entre duas lógicas, entidades ou instâncias complementares, concorrentes e antagonistas, que se nutrem uma da outra, se completam, mas também se opõem e se combatem”, afirma o economista. Seria algo distinto da dialética hegeliana, “na qual as contradições encontrariam sua solução, se superariam e se suprimiriam em unidade superior”. Na dialógica, antagonismos permaneceriam constitutivos das entidades ou fenômenos complexos, comenta.

“Não parece razoável, contudo, a afirmação de que na dialética hegeliana as contradições seriam sempre antagonismos que encontrariam sua solução em unidade superior”, afirma.

Extensão

Além da criação do núcleo de pesquisa sobre incertezas existencial e da investigação sobre suposta superação da dialética hegeliana, ele pretende prosseguir com a organização de eventos na mesma linha dos que realizou nos últimos dois anos no IEA e com outras atividades de extensão, como a coluna semanal que assina na Rádio USP (93,7), contribuições à plataforma Sustentáculos, colaborações com jornais e revistas (principalmente as colunas no jornal “Valor Econômico” e na revista “Página 22), entrevistas e livros.