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Livro analisa trajetória de manuscrito de escolas jesuíticas baianas

por Mauro Bellesa - publicado 04/05/2022 12:05 - última modificação 06/05/2022 10:37

O livro "Apologia das Letras Humanas - A Educação Retórico-Poética em Dois Colégios Jesuíticos da Bahia" (Edusp, 320 páginas, R$ 68), organizado por Marina Massimi e Alcir Pécora, foi lançado em evento online no IEA no dia 27 de abril.

Manuscrito 58 da Biblioteca Comunal de Urbania
Páginas iniciais do Manuscrito 58 da Biblioteca Municipal de Urbania, Itália
Há alguns anos, na Biblioteca Municipal de Urbania (antiga Castel Durante), comuna histórica com 15 mil habitantes no centro da Itália, foi encontrado inesperadamente um manuscrito produzido no século 18 na Bahia. Verificou-se que o manuscrito continha uma coletânea de exercícios retóricos em latim produzidos por professores e alunos do Seminário de Belém da Cachoeira e do Colégio dos Jesuítas da Bahia.

O estudo do manuscrito deu origem ao livro "Apologia das Letras Humanas: A Educação Retórico-Poética em Dois Colégios Jesuíticos da Bahia" (Edusp, 320 páginas, R$ 68), lançado em evento online no IEA no dia 27 de abril.

Capa do livro "Apologia das Letras Humanas" - 200px

De acordo com os organizadores da obra, a historiadora da psicologia Marina Massimi, professora sênior do IEA, e o professor de teoria literária Alcir Pécora, do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, "o manuscrito, em perfeito estado de conservação, atraiu nossa curiosidade de pesquisadores; queríamos entender seu conteúdo e também desvendar o percurso histórico que o levou à Itália".

Os cinco ensaios reunidos no livro, escritos por especialistas em teoria literária, educação, arquitetura, arte e história colonial propostos, são uma contribuição para compreender a natureza do manuscrito, bem como os processos históricos em que foi criado, transmitido e preservado.

Os dois primeiros ensaios compõem a Introdução da obra. No primeiro, "Um Manuscrito entre Dois Mundos na Biblioteca Municipal de Urbania", do crítico literário Feliciano Paoli, ex-diretor da biblioteca, historia a chegada do manuscrito e seus portadores, os jesuítas, à região italiana das Marcas, onde ficaram alojados depois de sua expulsão do Brasil.

O segundo texto da Introdução é de Marina Massimi, que tem entre suas especialidades os saberes psicológicos dos jesuítas e no IEA coordena o Grupo de Pesquisa Tempo, Memória e Pertencimento. Ela apresenta uma "reconstrução histórica do percurso do manuscrito, desde o local e as circunstâncias de sua elaboração, passando pelas travessias que o deslocaram para a Itália, até finalmente os eventos fundamentais referentes à sua alocação e preservação na biblioteca de Urbania", informa a Apresentação.

Os três ensaios que se seguem são:

  • "O Manuscrito de Urbania: Um Caso de Educação Retórico-Poética nos Seminários Jesuítas à Época de seu Fechamento no Brasil", de Alcir Pécora;
  • Relacionado

    Lançamento do livro "Apologia das Letras Humanas: A Educação Retórico-Poética em Dois Colégios Jesuíticos da Bahia" - 27 de abril

    "'A Arte por Onde Devem Estudar os Seminaristas do Seminario de Bethlem...', ou o Dia a Dia dos Meninos no Seminário de Belém da Cachoeira", de Evergton Sales Souza e Moreno Laborda Pacheco, ambos da UFBA;
  • 'Um Jardim Oriental-Ocidental: A Experiência Global do Artista Jesuíta Charles Belleville (Wei-Kia-Lou) na Rota França-China-Brasil e a Decoração do Seminário de Belém da Cachoeira no Recôncavo Baiano', de Renata Maria de Almeida Martins.

Pécora aborda o manuscrito a partir da teoria literária, considerando-o em suas circunstâncias históricas de produção letrada, e em particular no quadro da educação retórico-poética das institucionais jesuíticas.

O conhecimento do cotidiano dos estudantes do seminário de Belém da Cachoeira na época em que foi produzido o manuscrito é o tema do ensaio de Souza e Pacho. Para isso, valem-se de uma obra praticamente ignorada até recentemente: "Arte por Onde Devem Estudar os Seminaristas do Seminario de Bethlem...", escrita no fim da década de 1730 pelo padre José Bernardino.

Marina Massimi e Alcir Pécora - 2019
Marina Massimi e Alcir Pécora, organizadores: ''Queríamos entender o conteúdo do manuscrito e desvendar o percurso histórico que o levou à Itália''

Renata apresenta um estudo de parte do espaço no qual o manuscrito foi elaborado, incluindo as relações entre a produção artística nele presente as composições poéticas dos alunos. "Espaço e tempo são as coordenadas que permitem uma compreensão adequada da fonte, dos atores e das circunstâncias históricas que possibilitaram sua preservação", ressaltam os organizadores.

Além desses cinco ensaios, o livro contém a transcrição do manuscrito, feita pelo mestre em latim Felipe de Medeiros Guarnieri , do Colégio Pentágono, e a tradução de epigramas seletos, realizada pelo especialista em letras clássicas Brunno Vinicius Gonçalves Vieira, da Unesp.

O objetivo da publicação desses anexos é possibilitar ao público brasileiro conhecer tanto diferentes interpretações dos papéis, como ter acesso à própria fonte documental para futuros estudos críticos, afirmam Massimi e Pécora.