Ubias elege o 'Medo' como tema comum para IEAs em 2017
Fobos, deus do medo, de acordo com mosaico do século 4º |
A rede internacional Ubias (University-Based Institutes for Advanced Study) elegeu o "Medo" como Tema do Ano para 2017. Os institutos de estudos avançados (IEAs) integrantes da rede realizarão eventos para a discussão dos aspectos políticos, sociológicos, psicossociais, neurológicos, biológicos e culturais do medo.
A escolha do tema deu-se em reunião dos diretores de institutos realizada em junho no IEA da Universidade de Birmingham, Reino Unido. É a segunda vez que a Ubias escolhe um tópico de trabalho comum anual. Em 2016, o tema foi "A Mídia e o Controle de Dados".
De acordo com o Comitê Diretivo da rede, o objetivo da adoção de um tema anual de importância global é estimular a produção de novas ideias e fortalecer a comunicação entre os IEAs. A expectativa é que cada instituto realize eventos (únicos ou em série) próprios ou em parceria com outros IEAs.
Os eventos poderão ser conferências públicas, seminários, mesas-redondas ou workshops, formatados de forma a respeitar o perfil de cada instituto, a expertise disponível e os interesses específicos da comunidade acadêmica em que ele atua. No caso de eventos de iniciativa de um único instituto, espera-se que pesquisadores de outros IEAs sejam convidados a participar das discussões.
Um fenômeno predominante
A proposta para que o medo fosse o Tema Anual de 2017 foi apresentada pelo IEA da Universidade de Freiburg, Alemanha. Na justificativa, a direção do instituto argumentou que o medo está se tornando um fenômeno predominante no mundo de hoje: "A linguagem do medo se destaca nos noticiários e na linguagem cotidiana: mesmo as questões diárias são abordadas através de uma narrativa de medo: 'política do medo', 'medo do crime', 'medo do terrorismo', 'medo do futuro'".
"O medo não está apenas associado a ameaças com alto poder catastrófico, como ataques terroristas, o aquecimento global, a Aids e outras potenciais pandemias. A maioria das pessoas também se preocupa com os numerosos 'medos silenciosos' da vida cotidiana."
Além de ser uma questão social, o medo é também um fenômeno de grande interesse biológico e neurológico, de acordo com os autores da proposta. "A resposta ao medo (principalmente fugir, esconder-se ou imobilizar-se) têm desempenhado um papel importante na evolução, uma vez que as respostas comportamentais adequadas ao medo servem à sobrevivência."
Esse aspecto ressalta a importância da análise dos processos biológicos que ocorrem numa situação de medo: liberação de hormônios como adrenalina e cortisol na corrente sanguínea, aceleração da frequência cardíaca, dilatação das pupilas e elevação da pressão arterial. "Além disso, o fenômeno neurológico do transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) demonstra que o medo pode deixar traços duradouros no cérebro."
Um recente aumento nos estudos sobre as emoções tem ajudado a relançar o interesse pelo tema, mas a ampla presença e papel do medo na sociedade contemporânea continuam a ser negligenciados pelas ciências sociais, na opinião dos dirigentes do IEA de Freiburg.
Uso político
Eles destacam que o medo, por ser uma emoção fortemente pré-consciente e poderosa, tem uma maneira pré-racional de delimitar e afetar o pensamento. "As implicações políticas e sociológicas desse processo neurológico podem ser vistas na forma como alguns políticos usam o medo das pessoas em relação aos 'outros' para arregimentá-las."
A proposta aprovada sugere uma série de questões a serem abordadas nos eventos dos IEAs:
- há sociedades mais temerosas do que outras?
- a atual preocupação com o medo emergiu da era de ansiedade do século 20?
- o que acontece no cérebro - do ponto de vista biológico e neurológico - de quem está com medo?
- quando sentir medo faz sentido?
- por que algumas pessoas são mais propensas ao medo e à ansiedade do que outras?
- como chegamos a entender o medo especificamente e como sua normalização hoje ajuda a nossa sobrevivência (caso isso seja verdade)?
- como o medo se tornou uma emoção tão importante - talvez até definidora - dos tempos atuais?
Foto: Detalhe de mosaico do acervo do Museu Britânico