Morre Ignacy Sachs, teórico do ecodesenvolvimento, aos 96 anos
- Ignacy Sachs durante sua conferência A Grande Transição: As Biocivilizações do Futuro, no IEA, em 10 de dezembro de 2008
O ecossocioeconomista franco-polonês Ignacy Sach, renomado brasilianista e um dos principais teóricos do ecodesenvolvimento, morreu nesta quarta-feira, 2 de agosto, em Paris, aos 96 anos. Sachs era professor emérito do Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS, na sigla em francês), onde fundou o Centro de Pesquisa sobre o Brasil Colonial e Contemporâneo em 1985.
Ele colaborou com o IEA em diversas ocasiões desde 1989, quando fez sua primeira conferência no Instituto: Padrões de Industrialização nos Países em Desenvolvimento. A última participação em eventos foi no seminário A Rio+20 e a Entrada no Antropoceno, em 2011. Sachs foi um dos pesquisadores que mais contribuiu com a revista Estudos Avançados, onde publicou 13 artigos.
O economista Luiz Carlos Bresser-Pereira lembra em artigo na Revista de Economia Política, em 2013, que Sachs, com Maurice Strong e Marc Nerfin, "ajudou a redigir a declaração final da Conferência das Nações Unidas de Estocolmo, de 1972, a partir da qual a proteção do ambiente se transformou em um problema e um objetivo mundial". No entanto, Bresser-Pereira destacar que, antes disso, Sachs foi "um dos pioneiros da teoria econômica estruturalista do desenvolvimento (development economics) — uma teoria econômica desenvolvimentista que teve seu auge nos anos 1950, entrou em crise a partir de meados dos anos 1970 — quando a teoria econômica dominante se torna neoclássica e neoliberal — mas está reemergindo nos anos 2000 com o nome de macroeconomia estruturalista do desenvolvimento".
Nascido em Varsóvia, Polônia, em 1927, Sachs chegou ao Brasil em 1941 como refugiado da Segunda Guerra. Permaneceu no país até 1954, onde se graduou em economia pela Faculdade de Ciências Econômicas e Políticas do Rio de Janeiro (hoje Cândido Mendes). De volta à Polônia, trabalhou no Instituto de Relações Internacionais. De 1957 a 1960, esteve na Índia como funcionário da embaixada polonesa, período em que realizou seu doutorado na Escola de Economia da Universidade de Délhi.
Ao retornar à Polônia, foi encarregado de criar um centro de pesquisas sobre economias dos países subdesenvolvidos, na Escola de Planejamento e Estatística, em Varsóvia. Em 1968 foi lecionar na França, a convite de Ferdinand Braudel. Acabou se tornando um dos professores da EHESS, criada oficialmente em 1975.
Alguns dos seus principais livros são "Extrativismo na Amazônia Brasileira: Perspectivas sobre o Desenvolvimento Regional" (1994), "Estratégias de Transição para o Século 21: Desenvolvimento e Meio Ambiente" (1993), "Rumo à Ecossocioeconomia — Teoria e Prática do Desenvolvimento" (2007) e a autobiografia intelectual "A Terceira Margem - Em Busca do Ecodesenvolvimento" (2009).
No lançamento do último na França, em 2008, disse que o titulo refere-se à posição que adotou em sua trajetória para encontrar soluções viáveis para a atualidade mundial. No mesmo ano, inaugurou um novo grupo de pesquisa interdisciplinar sobre o Brasil na EHESS.