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Naomar de Almeida Filho é o novo titular da Cátedra de Educação Básica do IEA

por Nelson Niero Neto - publicado 18/05/2020 14:50 - última modificação 18/05/2020 16:17

Ex-reitor das Universidades Federais da Bahia e do Sul da Bahia, epidemiologista quer explorar as relações da área com a educação superior e discutir seus principais desafios

Naomar de Almeida Filho
O epidemiologista Naomar de Almeida Filho, novo titular da Cátedra de Educação Básica
No início deste mês, a Cátedra de Educação Básica da USP, parceria do IEA e do Itaú Social, passou a ter um titular para orientar e liderar as atividades nos próximos 12 meses. O primeiro catedrático é Naomar de Almeida Filho, epidemiologista com uma trajetória ligada à gestão de instituições de ensino superior. Por 12 anos, ele esteve à frente de universidades federais — a da Bahia (UFBA), entre 2002 e 2010, e a do Sul da Bahia (UFSB), que ajudou a implantar, entre 2013 e 2017.

Seu esforço em renovar e reestruturar os modelos de ensino das duas instituições foi o que eventualmente o colocou em contato com o IEA. Em 2015, Naomar foi convidado a participar do debate “O Futuro das Universidades”, que reuniu reitores, ex-reitores e especialistas em educação para discutir os desafios e as expectativas para o sistema de ensino superior.

“Minha contribuição neste debate se deu em relação à interface da universidade com a educação básica”, relembra. “Ou seja, a formação de professores, no ensino superior, para a atuação na educação básica”.
Ciclos
A Cátedra organizou seu primeiro ciclo, “Ação e Formação do Professor”, no primeiro semestre de 2019. No semestre seguinte, foi realizado o ciclo "A Escola: Espaços e Tempos das Ações Docentes". O próximo encontro do ciclo “Fundamentação dos Conteúdos da Educação Básica”, o terceiro organizado pela Cátedra, ocorrerá no dia 23 de maio, às 9h. Com a pandemia causada pelo coronavírus, todas as atividades foram transferidas para o ambiente virtual. Faça sua inscrição aqui.

Em 2018, Naomar retornou ao IEA para ser um dos coordenadores do Grupo de Trabalho “A USP Diante dos Desafios do Século 21”, ao lado de Luiz Bevilacqua. Em 2019, tornou-se professor visitante, com o projeto “Desenvolvimento de Modelos Inovadores de Educação Superior: Foco na Formação Geral Universitária em Saúde”.

A presença no IEA levou-o a participar das reuniões e atividades da Cátedra, contribuindo com discussões em relação à fragmentação disciplinar nas escolas e à inter-transdisciplinaridade, entre outros temas. Agora, como titular da Cátedra, ele espera aproveitar o espaço de reflexão e debate propiciado pelo Instituto para seguir explorando os desafios da área e suas possíveis soluções.

Nesse contexto, Naomar considera a falta de qualidade da educação básica pública como um dos principais desafios da área no país. “Uma falta de qualidade que não é geral, e sim diferencial, uma vez que o ensino básico é segregado em recortes de classe social, origem étnica e território”.

No que se refere à formação de professores, por exemplo, Naomar identifica uma lacuna nas universidades brasileiras. “As universidades focam na formação para as áreas profissional e científica, ou mesmo para a sua própria reprodução, no estudante que após fazer mestrado e doutorado volta como professor universitário”.

Quando uma instituição pública forma professores para a educação básica, explica Naomar, a qualificação oferecida é alta, pois mesmo priorizando a formação profissional em detrimento da formação docente, as universidades mantêm em geral um ensino de qualidade. Ao entrar no mercado de trabalho, o professor formado na universidade pública eventualmente é atraído pelos melhores salários e condições de trabalho do ensino privado. “É um paradoxo. Os professores do ensino privado são formados pela universidade pública, enquanto os do ensino público, pelas instituições privadas. Isso reproduz um sistema perverso, fomentando desigualdade pela educação”.

Ensino superior

Para Naomar, a Cátedra tem condições de ajudar a repensar o modelo de ensino das universidades, o que, por sua vez, teria consequências positivas na formação de professores para o ensino básico. O modelo vigente dos cursos e suas grades curriculares, por exemplo, são engessados e não estimulam a formação geral, o encontro de saberes e a interdisciplinaridade, afirma. “É um modelo que não cabe mais no mundo contemporâneo”.

Por isso, reforça que a Cátedra pode ser um espaço de reflexão para criar novos modelos que superem essa questão. “Um curso interdisciplinar, bem diferente do modelo fixo existente nas universidades, seria um exemplo.” Quando reitor da Universidade Federal da Bahia, Naomar implantou esse modelo de formação geral na graduação com os bacharelados interdisciplinares.

Já na Federal do Sul da Bahia, Naomar desenvolveu uma ideia parecida, com as licenciaturas interdisciplinares. Em vez do foco em apenas uma disciplina, os futuros professores do ensino básico passaram a ter sua formação entre cinco grandes áreas: as quatro do Enem — Ciências Humanas e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Matemática, Computação e suas Tecnologias; e Linguagens, Códigos e suas Tecnologias — e uma área que foi criada especificamente para o projeto, Artes e suas Tecnologias.

A ideia vai ao encontro de um de seus objetivos, que é estreitar os laços da Cátedra com instituições de formação de outros estados brasileiros. “Esta é uma das experiências que queremos revisar e aperfeiçoar na Cátedra”, diz Naomar, “e é também uma maneira de atender à legislação recente sobre a organização curricular no ensino fundamental e médio”.

Naomar também pretende reforçar outros dois projetos de atuação que a Cátedra iniciou no ano passado. O primeiro é um esforço de curadoria e pesquisa para sistematizar boas práticas e experiências inovadoras no ensino básico. A segunda é a organização de ciclos de atividades, para difundir e debater temas de interesse da área da educação.

Neste semestre, está ocorrendo o ciclo “Fundamentação dos Conteúdos da Educação Básica”, o terceiro organizado pela Cátedra. Naomar considera que essas atividades têm sido muito produtivas ao conseguir explorar e debater importantes temas da área, como os valores da educação, as metodologias que podem contribuir para a atuação do docente, as políticas educacionais e a valorização do professor. “Outro resultado que valorizo muito é a evolução do próprio desenho das atividades, inicialmente com seminários presenciais, mas agora temos encontros, cursos, colóquios e foros. Agora, com a pandemia do coronavírus e a transferência para o ambiente virtual, podemos alcançar ainda mais interessados”.

Foto: Leonor Calasans/IEA-USP