Você está aqui: Página Inicial / NOTÍCIAS / Octavio Paz e a independência intelectual em defesa da liberdade e da democracia

Octavio Paz e a independência intelectual em defesa da liberdade e da democracia

por Mauro Bellesa - publicado 17/08/2014 03:00 - última modificação 29/08/2014 14:50

A trajetória do envolvimento e do posicionamento político do poeta, ensaísta e diplomata mexicano Octavio Paz foi o tema da conferência de Francisco Javier Garciadiego Dantán, diretor do Colegio de México.
Octavio Paz
Octavio Paz em foto de 1988

Octavio Paz (1914-1998) foi um escritor com duas faces (poeta e ensaísta) que viveu simultaneamente em dois séculos 20 – “o mexicano e o mundial, nem sempre coincidentes” – e em três continentes, segundo o historiador Francisco Javier Garciadiego Dantán, presidente do Colegio de México.

Partidário quando jovem das Revoluções Mexicana e Soviética, Paz se desiludiu com elas na metade do século 20 e, “testemunha sempre atenta dos diversos períodos, porém visionário também por sua perspectiva poética, percebeu que a partir do final dos anos 60 o mundo enfrentaria numerosas revoltas de todo tipo, sendo a estudantil a primeira”.

Relacionado

Evento

Texto de referência

No entender de Dantán, é certo que “a Revolução Cubana e logo depois a sandinista fizeram-no desconfiar desse tipo de processo, pois não o considerava a solução para os problemas do homem do último terço do século 20: abandonando sua velha e primeira rebeldia, Paz passou a comprometer-se com os reclamos democráticos”.

A trajetória do envolvimento e do posicionamento político do poeta, ensaísta e diplomata mexicano foi o tema da conferência “Octavio Paz e a Política”, proferida por Dantán no dia 31 de julho, evento organizado pelo IEA-USP e pelo Colegio de México em comemoração ao centenário de nascimento do escritor.

Os comentadores da conferência foram o historiador Carlos Guilherme Mota, diretor da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e primeiro diretor do IEA-USP, e Celso Lafer, presidente da Fapesp, professor titular da Faculdade de Direito (FD) da USP e aluno de Octavio Paz na Cornell University, EUA, em 1966, num curso sobre teoria e prática da poesia a partir do simbolismo. A moderação do evento foi de Jorge Schwartz, diretor do Museu Lasar Segall e professor da FFLCH-USP.

CENÁRIO MEXICANO

Dantán começou sua exposição lembrando que Paz nasceu quando o século 20 histórico mexicano, iniciado com a revolução de 1910, tinha quatro anos de idade, mesmo momento em que começava o século 20 histórico da Europa, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial.

De acordo com o historiador, a infância e juventude de Paz transcorreram em cenários mexicanos e apenas em 1937 ele se interessou pelo que acontecia no exterior. “Viveu seus anos estritamente mexicanos no seio de uma família intimamente vinculada à política e à história do país”.

Carlos Guilherme Mota, Francisco Javier Garciadiego Dantán, Jorge Schwartz e Celso Lafer
Os participantes do evento (a partir da esq.):
Carlos Guilherme Mota (comentador), Francisco Javier Garciadiego Dantán (conferencista), Jorge Schwartz (coordenador) e Celso Lafer (comentador)

Ireneo Paz, o avô, foi um militar nascido em 1836 que se envolveu diretamente nas lutas políticas do século 19, combatendo a intervenção francesa e tornando-se um seguidor de Porfírio Dias (1830-1915), militar e líder político que controlou o México de 1876 a 1911, mesmo no período em que esteve fora da presidência. Segundo Dantán, Ireneo Paz era “mais porfirista que liberal e mais militarista que democrático”.

Por sua vez, Octavio Ireneo Paz, o pai, “foi um homem devorado por suas constantes derrotas políticas e por seu irrefreável gosto pelo álcool”. Para o poeta, “a proximidade com o avô tinha como objetivo suprir a ausência do pai”.

O pai, desde jovem, “mostrou seus interesses políticos e logo também mostrou que eles eram diferentes dos de Ireneo, avo do poeta", tendo se incorporado às forças de Emiliano Zapata, cujos acampamentos se encontravam um pouco mais ao sul de Mixcoac, povoado onde habitava a família.

Dantán detalhou o quadro político e cultural da adolescência e juventude de Otavio Paz: “Se sua infância tinha conhecido a Revolução, sua adolescência transcorreu junto com uma extraordinária instabilidade nacional e mundial”. Foi o período da Guerra Cristera (levante popular contra as disposições anticlericais da Constituição Mexicana) e da violência eleitoral. No âmbito internacional, ocorreu a Crise de 29, que “teve impactos enormes no país e na família de Paz”.

Ainda secundarista, o poeta participou da campanha do escritor, educador e filósofo José Vasconcelos (1882-1959) para a presidência do México. Vasconcelos “seguramente havia compartilhado com o pai de Octavio Paz algumas experiências revolucionárias”, comentou o conferencista.

Dantán explicou que a derrota do vasconcelismo desiludiu os jovens e a gravidade da Crise de 29 levou muitos a pensar no desaparecimento do capitalismo e da democracia. Foi nesse clima e contexto, segundo ele, que Paz e outros de sua geração simpatizaram com as organizações e a ideologia comunistas. Segundo o historiador, um dos primeiros empregos de Paz foi como redator em “El Popular”, o órgão oficial da Confederação de Trabalhadores do México, central operária pró-soviética criada em 1936.

INÍCIOS

De acordo com o conferencista, o início político de Paz coincidiu, cronológica e ideologicamente, com seu início poético: “Sua revista ‘Barandal’ era abertamente pró-soviética, e, além do mais, abertamente o foi sua aventura editorial seguinte, os ‘Cadernos Del Valle de México’”.

Em 1933, publicou seu primeiro livro de poesias, “Luna Silvestre”, com sete poemas de temática amorosa. Sua publicação seguinte, em 1936, “foi uma poesia abertamente política chamada “¡No Pasarán!”, sobre a recém-instalada Guerra Civil Espanhola”.

O ano 1937 foi decisivo na vida do poeta. Abandonou a carreira em direito, casou-se com Elena Garro e publicou seu segundo poemário, “Raíz del Hombre”, “pelo qual mostrou suas duas facetas: a do homem comprometido com seu tempo e a do artista plenamente voltado a sua literatura.”

Francisco Javier Garciadiego Dantán
Francisco Javier Garciadiego Dantán:"Para Paz, tratava-se de questionar a permanência do ‘ogro filantrópico’"

“Motivado pela política social do então presidente Lázaro Cárdenas, Paz se mudou para a zona rural do estado de Yucatán, para colaborar na campanha de alfabetização que fora lançada.” Segundo o conferencista, Paz ficou impressionado com a pobreza dos maias do século 20 e a riqueza arquitetônica e artística dos maias históricos. “Desde então mostrou sua dupla percepção: a visão dicotômica que conservaria ao longo da vida, entre arte e política, entre passado e presente.”

DECEPÇÃO

Em 1937, Paz foi convidado para o Segundo Congresso Internacional de Escritores em Defesa da Cultura, que aconteceria em Valência, uma vez que Madri já estava sendo muito assediada pelas tropas franquistas. A Liga de Escritores e Artistas Revolucionários (Lear) se responsabilizou pela organização da comitiva mexicana. “Paz não integrava a Lear, mas seguramente a publicação de ‘¡No Pasarán!’ justificou sua inclusão na comitiva.”

Na opinião de Paz, de acordo com Dantán, “seu primeiro contato com a política comunista mundial [no congresso] foi suficiente para colocá-lo de sobreaviso a respeito do autoritarismo e da intolerância desta: a cruel censura a André Gide foi uma dura decepção, ainda que todavia não tenha dado lugar a seu desligamento”.

“Paz regressou da Espanha intimamente comprometido com o grupo republicano e com a política cardenista, especialmente com a expropriação petrolífera do início de 1938.” A partir de então, Paz foi um autor constante em várias revistas literárias e em algumas vinculadas ao comunista mexicano pró-soviético Vicente Lombardo Toledano.

No entanto, o assassinato de Trotsky, em agosto de 1940, “deu lugar ao início de seu desencanto, que seguramente se agravou em razão de seu rompimento com Pablo Neruda”, então radicado no México. “Deixou de publicar nos jornais de ‘esquerda’ e começou a escrever para o diário ‘Novedades’, propriedade de um renomado empresário vinculado ao governo pós-revolucionário.”

DIPLOMACIA

Na época, Paz recebeu uma bolsa da Fundação Guggenheim e se radicou nos Estados Unidos até 1943. Pouco depois iniciou sua carreira diplomática, “situação que o obrigou a acelerar seu afastamento do comunismo”. Nessa época, começou a escrever sobre a política internacional.

Comissionado na França de 1946 a 1951, teve contato com os surrealistas, alguns dos quais, como Breton e Artaud, havia conhecido no México. “O impacto do surrealismo em sua obra é inquestionável e o levou a afastar-se da arte nacionalista e revolucionária mexicana.”

Seus anos como diplomata o obrigaram a enterrar seu radicalismo ideológico. A política, e em particular a diplomacia, começou a ser uma responsabilidade profissional, disse Dantán. Foi então que Paz “começou a distinguir entre realidade e ideologia, entre possibilidade e esperança”.

Esse primeiro emprego estável, possibilitou-lhe “esquecer as angústias da sobrevivência cotidiana e escrever com mais regularidade, mas sem pressa.” O resultado foram duas de suas maiores obras: em 1946, “Libertad bajo Palabra”, primeira coletânea poética; em 1947, o ensaio “El Laberinto de la Soledad”, “uma audaciosa análise sociopsicológica da natureza do mexicano”.

ORIENTE

Em 1959, um ano divisor de águas para Paz, publicou a versão definitiva de “Libertad bajo Palavra” e voltou a sair do país em missão diplomática, com uma breve estada em Paris e depois atuando no Japão e na Índia. “No Oriente, tudo seria descobrimento e experimentação. É indubitável que Paz adquiriu uma segunda perspectiva cultural na Índia; mais ainda, desenvolveu uma nova sensibilidade.”

“Em termos gerais, talvez se possa dizer que Paz foi o primeiro intelectual mexicano autenticamente universal, pois Alfonso Reyes [1889-1959] nunca se interessou pela cultura oriental e Vasconcelos teve uma relação ríspida com a cultura ocidental.”

A carreira diplomática de Paz terminou abruptamente em outubro de 1968. Quando soube da cruel repressão aos estudantes que tinham se reunido na Praça de Tlatelolco, apresentou sua renúncia ao posto de embaixador na Índia. “Seguramente, esse foi o maior conflito em toda sua biografia política e intelectual. Sua renúncia deve ser vista como elemento decisivo para a redefinição das relações entre os intelectuais e o governo mexicano.”

Esse rompimento permitiu-lhe “dedicar mais tempo à sua poesia, ter mais soltura para sua obra ensaística e mais liberdade e independência para suas análises políticas”. Voltou ao México dois anos depois, após passar por universidades americanas e europeias, “nas quais seu ato de rebeldia contra o governo lhe rendeu enorme visibilidade e prestígio”.

Carlos Guilherme Mota
Carlos Guilherme Mota: "A principal lição deixada por Paz é a defesa da independência intelectual"

RETORNO

De volta ao México, Paz dedicou o restante da vida a escrever e a “ter uma vida pública muito ativa, com opiniões sobre os principais problemas nacionais e internacionais”.

Era um dos que defendiam mudanças políticas e sociais profundas e pacíficas. Em 1971, fundou a revista “Plural”, dedicada à cultura e à política e patrocinada pelo jornal “Excélsior”, o maior do México.

Na primeira metade dos anos 70, o México “viveu uma grave indefinição: a classe política não sabia que caminho tomar rumo ao futuro imediato e a oposição oscilava entre a violência e a organização política independente e pacífica”. Paz optou pela última opção e, contradizendo seu perfil apartidário, apoiou a criação do Partido Mexicano dos Trabalhadores, do qual logo se desligou, “diante das divergências demonstradas já no início do movimento e pelo receio que sempre teve da militância partidária”.

O conferencista lembrou que o afastamento definitivo de Paz do governo do presidente Luis Echeverría Álvares aconteceu quando o governo usou, em meados de 1976, um conflito trabalhista como pretexto para apoiar uma mudança na direção do jornal “Excélsior”, o que afetou a revista “Plural”.

Se Echeverría queria calar a crítica, o efeito foi o inverso: “Parte dos produtores do jornal fundou a revista ‘Proceso’, com uma posição crítica radical e personalista; Paz e seus companheiros de ‘Plural’ criaram ‘Vuelta’. Os dois grupos acabaram se distanciando, com ‘Proceso’ exacerbando suas posições e  Paz e ‘Vuelta’ dedicando-se não só a crítica aos regimes autoritários e ditatoriais da América Latina, começando pelo México, mas também a seus regimes e aos movimentos opositores de esquerda”.

Na verdade, o ponto central da discórdia foi o apoio ou a crítica a Cuba: “O ambiente intelectual mexicano praticamente se dividiu em dois, e assim se manteria até a morte de Paz; a divisão inclusive transcendeu sua morte e se mantém hoje em dia”.

CONFRONTOS

Dantán citou alguns episódios que exemplificam o grau de confronto entre os dois grupos. Um deles foi quando Paz completou 70 anos e a rede Televisa fez uma série de programas sobre ele e o governo organizou uma calorosa celebração. Nessa ocasião, “intelectuais e políticos de esquerda criticaram a proximidade entre Paz e a Televisa, assim como sua simpatia pelo presidente De la Madrid”.

Durante os anos 80, segundo o conferencista, Paz e seu grupo defendiam que a ideologia do nacionalismo revolucionário, caracterizada pela tentativa de redefinir a estrutura social do país por meio de uma política econômica estatista, era cada vez mais anacrônica em relação às mudanças pelas quais o mundo passava: “O que buscavam era que o Estado mexicano fosse delimitado, passo imprescindível para a democratização do país”.

As críticas a ele se acentuaram pouco depois, quando Paz recebeu o Prêmio da Paz do Comércio Livre Alemão na Feira do Livro de Frankfurt e, no seu discurso, criticou o governo sandinista da Nicarágua. “As respostas da esquerda mexicana foram assombrosamente violentas.”

Em 1988, foi criticado pela esquerda por ter comemorado o surgimento da oposição eleitoral no país e criticado a negativa de Cuauhtémoc Cárdenas (candidato da situação) em reconhecer os resultados oficiais das eleições, que apontaram sua derrota e foram considerados uma fraude pela esquerda. Na ocasião, de acordo com Dantán, Paz assinalou que a democratização do México não aconteceria se a esquerda triunfasse, “cujo projeto governamental lhe parecia mais uma ameaça”.

Os anos 90 foram os da consagração mundial do escritor, que em 1990 recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. O período também é marcado por mais polêmicas e pelo início do declínio físico de Paz. Em 1989, outro motivo de conflitos foram as críticas de Paz a Fidel Castro “por seus 30 anos de domínio absoluto do regime”.

Celso Lafer
Celso Lafer: "A paixão de Paz era a liberdade"

No princípio da década, houve o último debate público de Paz. Trata-se do apoio governamental ao “Colóquio de Inverno”, em que houve uma diferenciação entre os que sustentavam posições liberais, a favor de um Estado limitado, e aqueles que oscilavam entre o estatismo e a esquerda. “Para Paz, tratava-se de questionar a permanência do ‘ogro filantrópico’.” As consequências do debate envolveram o escritor, que renunciou ao cargo honorário que tinha no Conselho Nacional para a Cultura e as Artes, “organismo criado pelo presidente Carlos Salinas de Gortari para aproximar os intelectuais e artistas do aparelho governamental”.

No entanto, nessa fase final da vida, “por um momento ressurgiu nele a esperança na rebelião; compreensivelmente, o filho de um zapatista recebeu com certa simpatia a eclosão da rebelião neozapatista no sudeste do México no início de 1994”.

INDEPENDÊNCIA

Nos seus comentários à conferência, Carlos Guilherme Mota disse que Dantán apresentou “uma nova visão de Octávio Paz, revelando como o intelectual transitou em dois séculos, iluminando nossas culturas com intensa atividade e espírito de independência”.

“Além da questão social sempre presente, impressiona no trabalho de Paz suas preocupações com a história, com a sociologia, com a poética, com a linguagem, com a inserção sofisticada da vida social e do cotidiano nas estruturas maiores de seu tempo, que ainda é o nosso”, disse o historiador brasileiro. Mota destacou que Paz, “além das heranças da revolução em seu país, soube como poucos dialetizar os grandes acontecimentos mundiais e suas refrações na América Latina e também dialogar com os principais estudiosos e literatos de seu tempo”.

“Ele ampliou – como poucos o fizeram – os próprios conceitos de cultura, de crítica e de história, ao resgatar e estudar, criticar, combater ou aprovar posições de grandes explicadores, escritores e produtores culturais”. Ao mesmo tempo, as críticas de Paz “ao marxismo dogmático, ao populismo e ao autoritarismo em geral foram a razão de muitas incompreensões e críticas ásperas”, destacou Mota, para quem a principal lição deixada por Paz é a defesa da independência intelectual.

Na sua participação como comentador, Celso Lafer destacou que Dantán, ao discutir na conferência os tempos e cenários em que viveu e atuou Octavio Paz, “proporcionou uma chave para o entendimento da relação do poeta com a política”.

Lafer disse que Paz não só tratou, como seu avô e seu pai, da circunstância mexicana em todas as suas dimensões, mas, em contrate com seus dois ancestrais, também tratou do mundo, “com uma abrangência que não tiveram, como notou o conferencista, dois grandes intelectuais mexicanos da geração anterior à sua, José Vasconcelos e Alfonso Reyes”.­

REBELDIA

A qualificação de Paz como “um homem rebelde e um escritor independente”, feita por Dantán, foi frisada por Lafer. Este sugeriu que o escritor “foi um rebelde, porque nunca foi conformista, mas subjacente à sua análise política está o jogo da revolta, da rebeldia, da revolução e do reformismo, uma moldura que ajuda a explicar o seu itinerário”.

Segundo Lafer, “a análise política de Octavio Paz está ligada à sua condição de poeta. Isso provém da sua percepção de que o pacto verbal antecede o pacto social e por isso a análise política passa pelo restabelecimento dos significados e a crítica das máscaras do poder e da política como o teatro dos espelhismos”.

Para exemplificar com palavras do próprio Paz, Lafer leu trecho de conferência do escritor em Sevilha, em novembro de 1991, sobre a democracia: “Não sou historiador nem sociólogo, nem politicólogo: sou um poeta. Meus escritos em prosa estão estreitamente associados a minha vocação literária e as minhas preferências artísticas. Prefiro falar de Marcel Duchamp ou de Juan Ramón Jimenes que de Locke e de Montesquieu. A filosofia política sempre me interessou, porém nunca tentei nem tentaria escrever um livro sobre a justiça, a liberdade ou a arte de governar. Não obstante, publiquei muitos ensaios e artigos sobre a situação da democracia em nossa época: os perigos externos e internos que a ameaçaram e a ameaçam, as dúvidas e provas a que ela enfrenta”.

Segundo Lafer, a paixão de Paz era a liberdade, “pois, como disse no discurso de agradecimento ao receber o Prêmio Tocqueville em 1989, desde cedo compreendeu que a defesa da poesia é inseparável da defesa da liberdade e esta requer, numa dialética de complementaridade, a democracia: ‘sem liberdade a democracia é despotismo; sem democracia a liberdade é uma quimera’”.

Fotos (a partir do alto): primeira - John Leffmann; demais - Sandra Codo/IEA-USP