Pesquisa resulta em base para a composição de uma ópera
| Rodolfo Nogueira Coelho de Souza |
Em 2016, pela primeira vez a produção de uma obra musical foi a meta de trabalho de um pesquisador do IEA. Rodolfo Nogueira Coelho de Souza, professor do Departamento de Música da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), participou do Programa Ano Sabático do Instituto para produzir os fundamentos de uma ópera, com a peculiaridade de utilizar princípios matemáticos para isso.
Em termos de criação artística, a participação de Souza soma-se ao trabalho desenvolvido no IEA pelo poeta e tradutor José Paulo Paes (1926-1998), que em 1988, como professor visitante, traduziu coletânea de poemas do americano William Carlos Williams (1883-1963). Como pesquisador do Instituto na área da música, ele tem como precedente o maestro e compositor Hans-Joachim Koellreutter, que ministrou curso de estética também no final dos anos 80.
"Ambicioso demais”. Esse foi o diagnóstico feito por Souza depois dos primeiros meses de trabalho no projeto "Invenção de uma Ópera: A Máquina de Pascal em Pernaguá - Uma Pesquisa de Arte Experimental e Inovação em Sonologia”: “Compositores normalmente necessitam de dois a três anos para concluir a composição de uma ópera. Um ano [duração do programa], ainda que de trabalho intenso, não é o suficiente”.
Ainda assim, Souza conseguiu estabelecer as fundações para as próximas fases do projeto. As principais questões conceituais foram resolvidas, segundo ele. “O libreto, feito em parceria com Luci Collin, professora do Departamento de Letras da UFPR, está pronto, e a música de diversas cenas foi escrita, seja na versão com acompanhamento orquestral, seja em redução para piano, para acelerar o processo.”
O resultado final do projeto será a montagem da ópera por alguma companhia, mas isso ainda não está no horizonte das preocupações de Souza, uma vez que a conclusão da composição deve levar ainda um ou dois anos e, depois de concluída, uma opera demanda algum tempo até que seja encenada.
Todavia, um fragmento da música será apresentado no dia 6 de maio, no Teatro da Reitoria da UFPR, em evento em homenagem à obra de Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), uma vez que o personagem principal da ópera de Souza, chamado Faustino, “tem forte relação intertextual” com o ‘Fausto’, drama trágico do escritor alemão.
Por ter sido o único pesquisador de um campus do interior do Estado na primeira edição do Programa Ano Sabático, Souza teve de desenvolver seu projeto alternando o uso de equipamentos do Laboratório de Teoria e Análise Musical (Lateam) na FFLCLRP-USP com viagens frequentes ao IEA para interagir com os demais pesquisadores do programa.
Para Souza, a principal diferença entre a realização de um projeto em período sabático no IEA e um projeto nas condições usuais foi a convivência com um grupo interdisciplinar [demais sabáticos], "que trocou experiências de modo generoso, propiciando visões diferentes” daquelas que ele possui.
Além do libreto e da música de diversas cenas, o período sabático também permitiu a Souza a redação de alguns artigos. Os dois já publicados são: “Sinestesia como Condição para a Linguagem: Uma Conjectura” (“Percepta – Revista de Percepção Musical”, v. 3, nº 2, 2016) e “Discrete and Combinatorial Mathematics, Geometry and Mathematics of Continuous Functions Used in Some of My Compositional Projects” (“MusMat – Brazilian Journal of Music and Mathematics”, v. 1, nº 1, dezembro de 2016)
Ele deve submeter outros artigos a periódicos da área. "São textos dedicados a aspectos da tecnologia musical utilizados na composição da ópera e um texto sobre a pesquisa para a revista “Estudos Avançados”, do IEA."
Foto: Mauro Bellesa/IEA-USP