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Cenários para o Brasil do futuro

por Flávia Dourado - publicado 03/04/2006 00:00 - última modificação 02/06/2015 17:57

Dossiê "Brasil: O País no Futuro - 2022", da edição 56 da "Estudos Avançados", traz diagnósticos em áreas essenciais para o desenvolvimento do país nos próximos anos.

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Um país capaz de estabilizar o regime democrático, ampliar a fiscalização popular das decisões políticas, voltar a crescer a taxas históricas (pré-anos 1980), enfrentar com sucesso as disparidades regionais e de renda, investir na educação e no desenvolvimento tecnológico, tornar suas cidades mais organizadas e seguras e de exercer influência mundial, sobretudo na América Latina, sempre lidando de forma eficaz e criativa com os desafios ambientais e os efeitos políticos e econômicos da globalização. Esse é o cenário desejado para o Brasil nos próximos 16 anos. Mas como identificar os pontos críticos que dificultam o caminho para que esse cenário se concretize?

Com esse fim, o IEA criou em 2005 o projeto "Brasil: O País no Futuro — 2022". A primeira atividade da iniciativa foi um ciclo de seminários em agosto e setembro para a produção de diagnósticos em áreas essenciais ao desenvolvimento do País.

As exposições do ciclo foram editadas e agora estarão disponíveis em dossiê do nº 56 da revista Estudos Avançados. O dossiê conta também com apresentação escrita por Alexandre Polesi, secretário executivo do projeto, e artigo sobre a metodologia Delphi empregada no tratamento de dados obtidos em consultas a especialistas, produzido por James Wright, coordenador metodológico do projeto, com assistência de Renata Spers.

Os seminários de 2005 e os respectivos textos do dossiê são:

Instituições Políticas — expositor: Bolívar Lamounier; debatedores: Gildo Marçal Brandão, Rogério Arantes, Brasílio Sallum Jr. e Antônio Octávio Cintra;

Texto — "O Futuro da Democracia: Cenários Político-Institucionais até 2022" — Amaury de Souza e Bolívar Lamounier;

Relações Internacionais e Território — expositor: Sebastião Velasco e Cruz; debatedores: Ricardo Sennes, Oliveiros Ferreira, Antônio Carlos Robert de Moraes, Nina Ranieri e Sérgio Fausto;
Texto — "O Brasil no Mundo: Conjecturas e Cenários" — Sebastião Velasco e Cruz e Ricardo Sennes;

Segurança Pública e Desenvolvimento Urbano — expositor: Luiz Eduardo Soares; debatedores: Regina Meyer, Eduardo Marques e Bruno Paes Manso;
Texto — "Segurança Pública: Presente e Futuro" — Luiz Eduardo Soares;

Economia e Seguridade — expositor: Guilherme Dias; debatedores: Hélio Zylberstajn, Leda Paulani e Paulo Furquim de Azevedo;
Texto — "Brasil: O Futuro da Economia" — Guilherme Leite da Silva Dias;

Conhecimento — expositor: João Steiner; debatedores: Simon Schwartzman, Angela Uller e Naércio Aquino Menezes Filho;
Texto — "Gargalos para o Brasil no Futuro" — João Steiner

Meio Ambiente — expositor: Eneas Salati; debatedores: Pedro Leite da Silva Dias e Jacques Marcovitch;
Texto — "Temas Ambientais Relevantes" — Eneas Salati, Ângelo Augusto dos Santos e Israel Klabin.

A próxima fase do projeto, em 2006, compreenderá a realização de uma segunda pesquisa Delphi, que permitirá a atualização dos cenários desenhados no final de 2004 —durante a participação do grupo de pesquisa do IEA no projeto Brasil 3 Tempos, do governo federal — e a preparação de uma base de dados de um programa sistemático e permanente de prospecção de cenários. O projeto "Brasil: O País no Futuro — 2022" tem coordenação geral de Geraldo Forbes, pesquisador visitante do IEA.

ÁGUAS DO SÃO FRANCISCO

Outro destaque do nº 56 é a discussão sobre o projeto de transposição das águas do rio São Francisco. Participam Dom Luiz Cappio, bisco de Barra (BA), que em 2005 fez uma greve de fome de 12 dias contra o projeto, e o governador do Ceará, Lúcio Alcântara, defensor da proposta.

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Dom Luiz Cappio e Lúcio Alcântara

Em entrevista concedida a Marco Antônio Coelho, editor executivo da revista, e Paulo Nogueira Batista Jr., professor da FGV-SP, Dom Cappio fala de sua formação intelectual e religiosa, seu envolvimento com os problemas enfrentados pela população que vive às margens do São Francisco e do porquê de sua decisão de fazer a greve de fome, de como ela se desenrolou e da abertura do diálogo com o governo federal. (Assista ao vídeo com uma seleção dos principais trechos da entrevista.)

Dom Cappio considera o rio São Francisco "a mãe e o pai de todo o povo, de onde tiram o peixe para comer, a água para beber e molhar suas plantações — principalmente em suas ilhas e áreas de vazantes. Mesmo não sendo o maior rio brasileiro em volume d'água, talvez seja o mais importante do País, porque é a condição de vida da população. Sempre dizemos: rio São Francisco vivo, povo vivo; rio São Francisco doente e morto, população doente e morta".

Para ele, esse componente ecológico se reflete numa intenção social e antropológica: "Um rio com toda sua riqueza passa a ser importante na vida de um povo e na sua maneira de se organizar".

Por sua vez, o governador do Ceará critica em seu artigo os opositores ao projeto de transposição que alegam riscos de males ecológicos e econômicos ao País. Alcântara diz que esses opositores desconsideram que já estão em andamento ações de controle da erosão na bacia do rio; monitoramente da qualidade da água; reflorestamento das nascentes, margens e áreas degradadas na bacia; e estudos para a conformação do leito navegável.

"Hoje sabemos que é possível erguer obras estruturantes fundamentais de forma planejada, responsável e conseqüente, evitando desperdícios de verba pública, estorvos para a população e danos ao meio ambiente."

Alcântara afirma que, com a transposição, "alguns açudes estratégicos poderiam multiplicar a sua vazão regularizada, sendo que apenas nos anos críticos de estiagem a transposição ocorreria nos limites máximos". Além disso, avalia que a execução do projeto permitiria a expansão da irrigação no Vale do São Francisco em 800 mil hectares nos próximos anos, o que significaria "maior produtividades agrícola, incentivo à fruticultura, criação de novos empregos e geração de renda para milhares de famílias, especialmente na região do semi-árido, a mais penalizada pelas estiagens e pelo descaso público".

OUTRAS SEÇÕES

Estudos Avançados nº 56 tem também as seções "Políticas Públicas: Nova Abordagem", "Universidade", "Cultura e Sociedade", "Resenhas" (inaugurada nesta edição) e uma homenagem a Gilda de Mello e Souza, morta em dezembro de 2005.

Fotos: Mauro Bellesa/IEA-USP e Governo do Ceará