Pandemia agregou valor à cultura, mas financiamento do setor enfrenta dificuldades
A pandemia de covid-19 e a necessidade de distanciamento social trazida por ela tornaram ainda mais difícil a vida de quem trabalha com projetos culturais. Embora música, arte, cinema e literatura tenham ajudado muitas pessoas a passarem pelos períodos de isolamento, o financiamento dos grupos que atuam nessa área enfrenta cada vez mais problemas. Para discutir a situação do setor cultural, o USP Analisa exibe uma entrevista em dois episódios com a coordenadora de projetos na Associação Pró-Esporte e Cultura de Ribeirão Preto Mariana Souza e o presidente do Cineclube Cauim, Fernando Kaxassa.
Para Mariana, a oferta de apresentações e conteúdos culturais por meios digitais somada a um maior tempo livre em virtude do isolamento foram fundamentais para a formação de plateia nesse período, já que muitas pessoas tiveram contato com formas de arte que desconheciam e acabaram descobrindo afinidades. Além disso, houve uma maior percepção da relação entre cultura e saúde.
“Para algumas pessoas, é difícil fazer esse link. Para outras, isso só ficava evidente no contexto terapêutico, trabalhar com arte como forma de terapia. Mas a pandemia vem para mostrar, num momento em que muita gente está com a saúde, especialmente a saúde mental, fragilizada, o tanto que o contato com a arte ressignifica o conceito de saúde. Poder consumir e ter contato com arte e cultura mostra como o exercício da criatividade ou a sensibilidade que só a arte traz têm muito a ver com saúde”, explica ela.
Eles destacam ainda os prejuízos que o desmonte do próprio Ministério da Cultura e de estruturas fundamentais na análise de projetos culturais, como a Ancine, trouxeram para o setor. Segundo Kaxassa, isso gera dificuldades para conseguir executar processos simples, como a troca de público-alvo de um projeto durante a pandemia.
“Nós temos projetos que atingem 25 cidades na região trazendo escolas para o cinema. Aí vem a pandemia, não tem aula. Você liga lá e pergunta: olha, nós podemos mudar o público-alvo? Porque nós temos uma série de ONGs, as crianças estão na rua. O Cauim tem uma experiência agora, acontece diariamente, de chegar num bairro para pegar as crianças, as crianças estão todas na praça, sem máscara, porque não tem onde ficar. O Cauim dá a máscara, o álcool gel, traz pro cinema. Mas, para isso, nós precisamos de três, quatro meses para conseguir mudar esse público-alvo, coisa que a gente fazia antes com uma carta, um telefonema, porque tinha um ministério, tinha 12 ou 13 pessoas lá dentro para quem você ligava e essa pessoa sabia o que era o Cauim. Hoje está dificílimo”.
A primeira parte da entrevista vai ao ar nesta quarta (30), a partir das 18h05, com reapresentação no domingo (4), às 11h30. O programa também pode ser ouvido pelas plataformas de áudio iTunes e Spotify.
O USP Analisa é uma produção conjunta do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP e da Rádio USP Ribeirão Preto. Para saber mais novidades sobre o programa e outras atividades do IEA-RP, inscreva-se em nosso canal no Telegram.