Para especialistas, crescimento do número de refugiados é crise sem fim
Conflitos armados já resultaram em pelo menos 110 milhões de refugiados em todo o mundo, segundo estimativas do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). O número vem crescendo a cada ano e pode ser ainda maior, já que não contabiliza os que vivem em campos de refugiados e as próprias mortes que acontecem em muitas travessias. Sobre essa triste situação, o USP Analisa desta sexta (3) conversou com a professora da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da USP, Cynthia Soares Carneiro, e a professora do Instituto de Artes da Unicamp Ana Carolina de Moura Delfim Maciel, que também está à frente da Cátedra Sérgio Vieira de Mello da Unicamp.
Embora existam pelo menos sete conflitos armados atualmente, nem todos recebem tanta atenção da mídia, como o entre Rússia e Ucrânia ou entre Israel e o grupo palestino Hamas. “Existem conflitos que simplesmente não saem ali de um circuito um pouco mais restrito, porque nós somos, infelizmente, muito influenciados por uma mídia que é bastante excludente”, lamenta Ana Carolina.
Ela explica que só no caso da Palestina, em menos de um mês pelo menos 340 mil pessoas já foram forçadas a abandonar suas casas, seus pertences e toda a vida que tinham antes. “É um número que infelizmente a gente não vê um horizonte de término. É uma situação realmente crítica e que eu costumo dizer que não dá para chamar de crise, porque crise é uma coisa circunscrita, que teoricamente tem começo, meio e fim. O que a gente está vendo aí é um mal crônico”, diz ela.
Cynthia explica que o tratado criado para acolher os europeus refugiados em virtude das grandes guerras do início do século XX hoje é utilizado para bloquear o acesso dos atuais refugiados graças a uma cláusula que restringe a acolhida por um estado central caso o refugiado esteja em um terceiro país considerado seguro. Segundo ela, isso tem sido usado para justificar a retenção de refugiados em locais como Turquia, Líbia, Marrocos, México e até mesmo o Brasil - como é o caso dos venezuelanos recebidos pela Operação Acolhida.
“Hoje, depois da queda do Muro de Berlim, levantaram-se uma infinidade de muros, de bloqueios físicos e uma legislação de refúgio e migratória extremamente restritiva. Os refugiados sofrem duas violências: a violência de ter que deixar os seus lares e a violência de ter uma resistência na acolhida dessas pessoas, que estão em um estado lastimável de vulnerabilidade”, afirma ela.
O USP Analisa é quinzenal e leva ao ar pela Rádio USP nesta sexta, às 16h45, um pequeno trecho do podcast de mesmo nome, que pode ser acessado na íntegra nas plataformas de podcast Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts, Deezer e Amazon Music.
O programa é uma produção conjunta do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP e da Rádio USP Ribeirão Preto. Para saber mais novidades sobre o USP Analisa e outras atividades do IEA-RP, inscreva-se em nosso canal no Telegram ou em nosso grupo no Whatsapp.