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Para pesquisador, países desenvolvidos têm capacidade de usar mais o soft power

por Matheus Nistal - publicado 22/05/2023 17:15 - última modificação 23/05/2023 14:21

Sergio Vale lançou livro sobre os impactos das instituições e da economia no soft power e no hard power

Mesa 1 - 16/05/2023
Sergio Vale, Cristiane Lucena e Pedro Motta Veiga

Os países usam diferentes mecanismos para defender seus interesses e influenciar o comportamento de outras nações. Para Sergio Rodrigo Vale, pesquisador do IEA e autor do livro “Impacto da Economia e das Instituições no Soft Power e no Hard Power”, quanto mais desenvolvido, sustentável e institucionalmente sólido for um país, maiores as condições de usar o soft power, que são estratégias de persuasão baseadas em métodos de cooptação e atração. Em evento que marcou o lançamento do livro no IEA, Vale argumentou que “é provado que o fortalecimento das instituições democráticas tem efeito positivo na economia e esse, por sua vez, favorece o soft power”.

O seminário aconteceu no dia 16 de maio, com as participações de Cristiane Lucena, doutora em ciência política pela New York University; Pedro da Motta Veiga, senior fellow do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri); Amâncio Oliveira, vice-diretor do Museu Paulista; e Eduardo Viola, pesquisador associado sênior do IEA.

No livro, Sérgio Vale relacionou dados e formulou uma relação teórica entre PIB per capita, preservação ambiental e soft power. “Quando um país melhora seu desempenho econômico ao mesmo tempo que não degrada o meio ambiente, seu soft power aumenta. Ao passo que quando ele o faz sem respeitar as questões climáticas, esse método de influência tende a não aumentar”, afirmou.

Sobre os gastos em hard power, que são normalmente investimentos militares, Vale relaciona a sua necessidade com o clima democrático no mundo. Ele observou que a sociedade americana progressivamente perdeu interesse em gastos militares nos últimos anos, preferindo que o Estado faça investimentos sociais. O pesquisador observou que "à medida que a democracia no mundo se fortaleceu, os americanos diminuíram os gastos com hard power e investiram mais em soft power”.

Os índices que medem a democracia no mundo têm indicado sucessivos aumentos nas últimas décadas. Enquanto 77% dos países tinham um regime autoritário em 1980, em 2022 esse número caiu para 30%, segundo o portal Our World in Data. Contudo, Vale projeta que os próximos dados devem mostrar uma recessão democrática no mundo e, por isso, acredita que haverá um aumento do uso do hard power por parte dos americanos nos próximos anos.

Um dos desafios enfrentados por Vale na realização do livro foi a falta de dados que mensurassem essas dimensões do poder. Os conceitos de soft power e hard power ganharam tração nas últimas décadas da geopolítica, mas ainda são recentes. “O livro é basicamente um estudo empírico e ainda tem muito campo para se estudar no futuro”, explicou o autor.

A falta de limites entre o que é soft power e hard power foi uma questão enfrentada na pesquisa. Segundo Pedro da Motta Veiga, é nítido que sanções econômicas são uma tática de hard power, contudo, outras manobras e regimentos econômicos podem ser difíceis de classificar. Até mesmo gastos militares no bojo da Guerra da Ucrânia estão sendo apresentados como soft power pelas nações europeias, segundo Veiga.

Países em desenvolvimento

 Sergio Vale livroPara Veiga, os acordos comerciais propostos por americanos e europeus para países em desenvolvimento no início dos anos 90 começaram no âmbito econômico e foram se expandindo, até se transformarem em propostas de difusão de regulação da sociedade pelo Estado em moldes liberais. “Esses acordos foram claramente instrumentos de acumulação de soft power” por parte dos países desenvolvidos, disse.

Enquanto países como Chile e Colômbia aceitaram esse tipo de modelo, o Brasil não foi tão receptivo. Ele cita a proposta de criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) como exemplo, rejeitada por diferentes governos brasileiros. Veiga afirma que conversou com os negociadores do governo de Fernando Henrique Cardoso à época e que eles já tinham a tendência de serem contra à proposta. Alguns anos depois, durante o primeiro governo Lula, a ideia de criação da Alca foi definitivamente rejeitada.

Países da África e da Ásia “buscam sua influência historicamente a partir do soft power, e pouco fazem pesquisa na internet sobre o termo hard power”, afirmou Sergio Vale. Um eixo da pesquisa abordada no livro trata das diferenças de interesse das populações sobre esse assunto. Grande parte do mundo pesquisa sobre soft power, mas as procuras por hard power se concentram nas nações ocidentais.