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Pesquisa analisa a família brasileira no século passado por meio da literatura

por Nelson Niero Neto - publicado 14/08/2019 12:25 - última modificação 14/08/2019 12:29

Belinda Mandelbaum - verticalA compreensão das transformações e dilemas pelas quais a família brasileira passou ao longo do século passado pode ser apoiada na obra de grandes nomes da literatura deste período. Baseada nesta premissa, Belinda Mandelbaum trabalhará no projeto “Figurações da Família na Literatura Brasileira do Século 20” entre agosto de 2019 e janeiro de 2020, como participante do Programa Ano Sabático do IEA.

A professora do Instituto de Psicologia (IP/USP) investigará as concepções sobre família e seus vínculos e dinâmicas presentes em textos de Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Manuel Bandeira, Mário de Andrade e Raduan Nassar. O projeto é um desdobramento da disciplina de pós-graduação Figurações da Família: Psicanálise e Literatura Brasileira, ministrada por Belinda e pela professora Yudith Rosenbaum, do Departamento de Literatura Brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH/USP).

Segundo Belinda, aprofundar a pesquisa iniciada na disciplina pode trazer contribuições tanto para os estudos sobre a família na atualidade, que se debruçam sobre as formações da sociedade brasileira moderna, quanto para o aprofundamento da crítica literária.

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“A relevância desse tema é indiscutível para o conhecimento das transformações das relações familiares, bem como das modalidades de vínculo familiar na contemporaneidade”, diz o projeto de pesquisa apresentado. Nele, Belinda sustenta que o conceito “família” passou a ocupar um lugar de destaque no discurso político atual — “seja em sua vertente conservadora ou a partir dos movimentos sociais que questionam a família tradicional e propõem novos arranjos”.

Belinda Mandelbaum

Livre-docente em psicologia social,  Belinda Mandelbaum é professora desde 2005 do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia (IP) da USP.  Como psicóloga, trabalhou no Centro de Saúde Geraldo de Paula Souza da Faculdade de Saúde Púbica (FSP) da USP e no Laboratório de Estudos da Família, Relações de Gênero e Sexualidade do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do IP-USP. É autora dos livros "Psicanálise da Família" (2010) e "Trabalhos com Famílias em Psicologia Social" (2014) e coautora de outros dois publicados em 2017: "Família, Contemporaneidade e Conservadorismo", com Luís Fernando Saraiva, e "Desemprego: Uma Abordagem Psicossocial", com Marcelo Afonso Ribeiro.

Para a pesquisadora, o núcleo familiar tem sido, muitas vezes, um último reduto de acolhimento e reconhecimento diante da desagregação do tecido social gerada pela violência e pelas dificuldades econômicas. Por outro lado, formas violentas de relação presentes na sociedade também penetram esse ambiente privado. “Apresentar e problematizar a família a partir dos textos literários, onde ela aparece em sua pluralidade de arranjos, conflitos, sofrimentos e potencialidades, pode contribuir para este debate em pauta na sociedade brasileira contemporânea”.

A análise dos textos terá dois momentos distintos. No primeiro, Belinda pretende fazer uma leitura o mais desarmada possível, buscando as representações de família e suas relações e dinâmicas. Em um segundo momento, já com o referencial teórico, baseado no círculo hermenêutico proposto pelos críticos brasileiros Antonio Candido (em 1975) e Davi Arrigucci (em 2010) e pelo francês Paul Ricouer (em 2000), ela pretende colocar a leitura em diálogo com os conhecimentos das ciências humanas. Com o suporte da psicanálise, psicologia social, sociologia, antropologia e história, a pesquisadora buscará situar as concepções familiares em seus contextos históricos, sociais e culturais específicos.

Além da organização de seminários ao longo do semestre para discussão de temas emergentes da pesquisa, Belinda pretende escrever um livro com as análises efetuadas ao longo do estudo.

Foto: Leonor Calasans/IEA-USP