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Pesquisadores do IEA comentam questão climática brasileira e presença do país na COP 27

por Beatriz Herminio - publicado 16/11/2022 19:05 - última modificação 17/11/2022 12:05

Brasil entrou na conferência em um momento de transição política favorável para a questão climática, mas mudanças globais dependem do financiamento de países desenvolvidos, avaliam os pesquisadores


O país sempre teve uma presença importante no contexto ambiental global, sobretudo pelo destaque da Amazônia. Nos últimos quatro anos, contudo, seu papel na COP foi "praticamente nulo", e não houve compromisso com a agenda proposta nas diferentes conferências, afirma Pedro Jacobi, coordenador do grupo de pesquisa Meio Ambiente e Sociedade. A partir da presença do presidente eleito, Lula, e sua equipe na COP 27, o pesquisador acredita que o Brasil tem chance de retomar seu protagonismo nas questões ambientais.

A 27ª edicão da COP, que acontece de 6 a 18 de novembro em Sharm el-Sheik, no Egito, tem como pautas centrais as metas nacionais de redução de emissão de gases de efeito estufa (GEEs) e o fundo de investimento climático para países em desenvolvimento.

No Acordo de Paris, em 2015, foi definida a meta global de atingir um aumento de temperatura de, no máximo, 1,5ºC até 2100. Mas, para Metzger, esse objetivo está difícil de ser alcançado. "A projeção, se mantidos os compromissos atuais, é de caminharmos para um aquecimento superior a 2,4ºC até o final do século”, afirma. Segundo o relatório “The closing window” do PNUMA, para atingirmos a meta de 1,5ºC seria preciso reduzir as emissões até 2030 em mais de 45% em relação às propostas atuais, e intensificar essa redução após 2030, completa.

“As condições ambientais, econômicas e políticas para essas transformações existem e devem ser aproveitadas nos próximos 8 anos”, acrescenta. “É mais barato investir agora numa economia de baixo carbono do que reparar os danos futuros de eventos climáticos extremos num clima superaquecido.”

Carlos Nobre, ambientalista e pesquisador colaborador do IEA, é um dos presentes na COP 27. Em entrevista ao jornal Hoje no dia 10 de novembro, ele falou sobre a contribuição brasileira na geração de energia elétrica por meio de fontes renováveis. “Temos um dos maiores potenciais do mundo, e o Nordeste já produz muito dessa energia”, afirmou o coordenador do projeto Amazônia 4.0. No setor energético – o segundo que mais contribui para as emissões de GEEs –, os custos de instalação de parques solares e eólicos no Brasil estão entre os mais baratos do planeta, ressalta Metzger.

Jean Paul Walter Metzger
Jean Paul Metzger, diretor do Biota Síntese
Dado que dois terços da contribuição nacional na emissão dos gases provêm do uso do solo, essa é uma área prioritária de ação do país, aponta o pesquisador. Em outubro, os alertas de desmatamento totalizaram 904 km². Esse é o pior número registrado para o mês desde 2015, quando teve início o Deter, programa de levantamento de alertas de alteração da cobertura florestal na Amazônia do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Reduzir substancialmente o desmatamento e as emissões de metano da pecuária, implementar uma agricultura de baixo carbono e promover uma política de estímulo à restauração e regeneração da vegetação nativa, em particular em áreas de pastagens degradadas, são algumas das ações necessárias apontadas por Metzger.

Pedro Jacobi - Perfil
Pedro Roberto Jacobi, coordenador do Grupo de Pesquisa Meio Ambiente e Sociedade

“O estímulo à restauração, que impacta de forma positiva a biodiversidade, o suprimento de água e a produtividade agrícola através da polinização e do controle de pragas têm amplo potencial de não apenas zerar as emissões líquidas, como tornar esse balanço negativo em algumas regiões rurais, conforme projetado pelo Plano de Ação Climática do estado de São Paulo”, lembra Metzger. Para o setor de transportes, o terceiro mais poluente em termos climáticos, ele aponta que a redução das emissões passa pela eletrificação da frota de caminhões, ônibus e veículos leves.

Sem os recursos dos países desenvolvidos, estaremos mais uma vez postergando toda a agenda proposta nas conferências, acredita Jacobi. Países em desenvolvimento, sobretudo aqueles que têm sofrido impactos com a ocorrência de eventos climáticos extremos, não dispõem de recursos para investir em mudanças em favor do clima, e necessitam de compensação por perdas e danos causados. A criação de um fundo de investimento nessa área tem sido tema de urgência para países pobres e, pela primeira vez, foi incluída na agenda da conferência.