Pesquisadores debatem efeitos perniciosos dos desreguladores endócrinos
Alimentos industrializados e produtos de higiene pessoal são fontes de desreguladores endócrinos |
Presentes em inúmeros produtos vendidos no comércio varejista, os desreguladores endócrinos (DEs), conhecidos internacionalmente como EDCs (do inglês endocrine disruptors compounds), são substâncias e compostos químicos que interferem em glândulas, como pâncreas, tireoide, hipófise, suprarrenais, ovários e testículos. Essas glândulas são responsáveis pelo controle do metabolismo, funções reprodutivas, funcionamento do sistema nervoso, crescimentos e outros processos do organismo humano.
A questão que se impõe é "se não estão sendo por demais subestimados os efeitos desses desreguladores", segundo o economista José Eli da Veiga, professor titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) e professor sênior do Instituto de Energia e Ambiente (IEE), ambos da USP.
O tema será debatido no evento Conversa sobre Desreguladores Endócrinos, no dia 12 de novembro, às 15h, no IEA, com moderação de Veiga. As expositoras serão Elaine Maria Frade Costa (do IEA, Faculdade de Medicina da USP e Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) e Maria Izabel Chiamolera (da Escola Paulista de Medicina da Unifesp). O encontro é gratuito e aberto a todos os interessados, sem necessidade inscrição. Haverá transmissão ao vivo pela internet.
Riscos
Veiga ressalta que os DEs são extremamente comuns nos alimentos industrializados, cosméticos, produtos de higiene pessoal (principalmente sabonetes, loções, desodorantes e dentifrícios), plásticos, tecidos sintéticos, colchões, materiais de construção, produtos de limpeza e praguicidas domésticos. "Tudo isso é vendido sem qualquer tipo de cuidado e informação, ao contrário do que ocorre com muitos remédios e alguns agrotóxicos, que estão, em princípio, sujeitos a receituário e instruções de uso, além de explícitos alertas sobre os riscos", afirma o pesquisador.
Segundo ele, os DEs podem provocar diversas doenças, como diabetes, obesidade, hipotireoidismo, afetando não só a pessoas exposta a eles, mas também o desenvolvimento cerebral de sua prole. "As crianças são mais sensíveis aos efeitos adversos, uma vez que suas vias metabólicas são imaturas, especialmente nos primeiros meses de vida". A vida intrauterina também é um período de maior suscetibilidade. "O pior é que os efeitos muitas vezes só poderão ser observados em anos posteriores", diz Veiga.
Em 2009, "as cinquenta páginas do 'Endocrine-Disrupting Chemicals: An Endocrine Society Scientific Statement' já haviam enfatizado o quanto os DEs podem ser deletérios, em especial quanto à altíssima probabilidade de dano à formação do cérebro do feto sempre que uma grávida tenha contato com tais poluentes." Veiga destaca que esse alarme foi ratificado há quatro meses na metanálise "Thyroid-Ddisrupting Chemicals and Brain Development: An Update”, uma revisão de 433 trabalhos publicada no periódico "Endocrine Connections".
A liderança dessa metanálise foi da endocrinologista britânica Barbara Demeneix. Ela trabalha há muitos anos na França, é autora do livro "Cocktail Toxique" e teve participação de destaque no documentário "Demain, Tous Cretins?" [amanhã, todos cretinos], que "precisa com urgência ser legendado em português", afirma Veiga.
Conversa sobre Desreguladores Endócrinos
12 de novembro, às 15h
Sala Alfredo Bosi, rua da Praça do Relógio, 109, térreo, Cidade Universitária, São Paulo
Evento gratuito, sem necessidade inscrição e com transmissão ao vivo pela internet
Mais informações: Sandra Sedini (sedini@usp.br); telefone (11) 3091-1678
Página do evento
Foto: PxHere