Representantes de institutos de estudos avançados paulistas se reúnem em evento
Para estreitar o contato e inspirar a criação de laços colaborativos, o Instituto de Estudos Avançados e Convergentes (IEAC) da Unifesp realizou o encontro "Integração dos Institutos Avançados do Estado de São Paulo" no dia 19 de maio. O evento reuniu representantes de diferentes institutos de São Paulo para falar de suas missões, atividades e especificidades.
Segundo Ivo da Silva Junior, presidente do IEAC, a reunião foi uma forma de reforçar as iniciativas que vêm sendo tomadas com o Fórum Brasileiro de Estudos Avançados (Fobreav), criado em 2015 para fortalecer a rede de institutos avançados do país.
A Fobreav tem como modelo a rede University-Based Institutes for Advanced Study (Ubias), que já reúne institutos afiliados pelo mundo desde 2010. “Esta é uma rede bastante interessante pela diversidade da participação dos institutos”, acredita Guilherme Ary Plonski, diretor do IEA. A Ubias criou o projeto Intercontinental Academia (ICA), responsável por reunir pesquisadores de diferentes continentes – um exemplo de fomento ao trabalho convergente e interdisciplinar, apontou o diretor.
Helena Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciências, espera que o grupo de institutos brasileiros possa trocar ideias a partir do encontro. "Eu vejo que os institutos serão fundamentais para revermos como poderemos atualizar a universidade brasileira", afirmou.
Inspirando-se na atuação do IEA da USP, o mais antigo dos IEAs paulistas, Nader o citou como um exemplo de manutenção da independência intelectual de um instituto que está inserido em uma universidade. Ela comentou o funcionamento dos institutos de estudos avançados dos Estados Unidos financiados pela National Science Foundation, que difere dos brasileiros, os quais têm origem nas instituições de ensino.
O Instituto de Estudos Avançados de Princeton, por exemplo, fundado em 1746 e construído com base nas concepções de Abraham Flexner, é uma instituição autônoma e independente que está fisicamente muito perto da Universidade de Princeton, mas é uma instituição separada, apontou Plonski.
O primeiro instituto de estudos avançados conectado a uma universidade foi criado na Alemanha em 1968, em Bielefeld, conhecido pela sigla ZiF. Com universidades seculares, a Alemanha viu novas instituições serem gestadas nos anos 60, e o ZiF foi a matriz de uma universidade interdisciplinar. Este caso inverte o conceito de que universidades criam seus institutos, pois nesse caso a Universidade de Bielefeld nasceu do instituto, explicou o diretor.
Na USP, o IEA tem várias características que o diferenciam das unidades de ensino: interdisciplinaridade e convergência, que fazem parte da essência dos IEAs, e transgressão, acrescentou o diretor.
Criado em 1986 sob gestão de José Goldemberg, o IEA tem seu ethos definido por uma frase do ex-reitor da USP, como citou Plonski: "Favorecer novas ideias resultantes do convívio, do confronto e da interação entre as diversas áreas do trabalho intelectual". Segundo o diretor, uma das vontades do gestor na época era ter um espaço que pudesse ajudar a universidade a se internacionalizar, e que fosse convergente, desmilitarizado e acolhedor. Um aspecto importante de sua atuação é o de ser "incubadora" e gerar ideias que possam extrapolar o próprio tamanho dos institutos, que têm se ampliado em quantidade pelo país.
"Os institutos de estudos multidisciplinares são a melhor chance da universidade não ficar isolada e aumentar a porosidade com os problemas complexos que afrontam o país", acrescentou Paulo Saldiva, professor da Faculdade de Medicina (FM) da USP e ex-diretor do IEA.
Ele lembrou que no IEA foram instituídas possibilidades de pesquisa como: professores em ano sabático, pesquisadores colaboradores, participação em grupos de estudo e pesquisa e atuação nas cátedras, viabilizadas através de parcerias com diferentes entidades. O IEA ainda trabalha com outras categorias de pesquisa, como professores visitantes e seniores.
O Ieamar foi criado em 2011 e inaugurado em 2016 com apoio do Ministério de Ciência e Tecnologia e com financiamento para compor laboratórios multiusuários ligados a atividades na linha do pré-sal. A diretora Gabriela Hurtado apresentou a atuação do instituto, que trabalha com geologia marinha, oceanografia, gestão de recursos naturais e biologia, meio ambiente, recursos pesqueiros e áreas correlatas. Abrange não somente as ciências biológicas, como também as exatas e humanas. Hoje, conta com seis polos, com sede localizada em São Vicente.
Seus laboratórios multiusuário visam à criação de novos produtos a partir de estudos da biodiversidade e de impacto ambiental, e têm o intuito de trabalhar com o avanço das tecnologias de exploração mineral com alicerce em estudos oceanográficos e geológicos. Seus trabalhos também levam em conta o desenvolvimento sustentável aliado aos objetivos da Década do Oceano da ONU.
Na Unicamp, o IdEA apresenta dois eixos principais de atuação, apontou o diretor Christiano Lyra, e tem como uma de suas finalidades fomentar a discussão da ciência e da cultura por meio de pesquisadores, artistas e grupos temáticos.
Seu foco está na gestão do programa Hilda Hist do Artista Residente – que acolhe artistas brasileiros ou do exterior para o desenvolvimento de projetos relacionados à sua obra – e do programa Cesar Lattes do Cientista Residente – para divulgação das pesquisas dos cientistas acolhidos –, além dos grupos de estudo temáticos, projetos especiais e eventos acadêmicos.
Instituto de Estudos Avançados e Estratégicos (IEAE), da Ufscar
O IEAE tem como foco estudos que visam o futuro, sempre tendo em mente a relação entre memória, patrimônio e o legado que se pretende deixar não apenas para a Ufscar, mas para a sociedade como um todo, afirmou Sérgio Vannucchi. Para isso, o instituto pensa soluções para os chamados "problemas complexos", que se situam na fronteira entre áreas do conhecimento distintas. O IEAE está formando em 2022 os primeiros grupos de trabalho temáticos, do qual Vannucchi é coordenador.
Os desafios do instituto envolvem garantir atuações multi e extra-campi, implementar propostas de atuação diante da atual falta de recursos humanos e orçamentários e garantir que o IEAE se mantenha independentemente de quem estiver na gestão da universidade.
Instituto de Estudos Avançados e Convergentes (IEAC), da UnifespCom apenas dois anos, o IEAC tem a missão de promover os estudos convergentes em estudos avançados para contribuir com o avanço científico da Unifesp e o avanço social do país, apontou Ivo. "O IEAC é esse espaço que serve justamente para receber iniciativas que no primeiro olhar dificilmente teriam um lugar dentro da instituição."
Entre os grupos de estudos e pesquisa, há trabalhos voltados a avanços na saúde e seu impacto nas relações humanas; investigação sobre os espaços de difusão e circulação científica; e a relação memória-pandemia. Se a construção de grupos de pesquisa é um dos objetivos centrais, o fomento e incentivo para criação desses grupos se faz a partir de grupos de trabalho, os quais no IEAC estudam saúde mental, oncologia, inovação e longevidade e dilemas éticos.