A divulgação científica como apoio a formação de professores

por Nelson Niero Neto - publicado 01/08/2019 18:05 - última modificação 20/08/2019 14:59

Em São Carlos, iniciativas do campus da USP na cidade aproximam graduandos da Educação Básica e dão apoio para o trabalho de professores dos ensinos Fundamental e Médio
Pontos-chave
  1. Na universidade, atividades de difusão científica podem ser boas iniciativas para que futuros professores se engajem no contato com a Educação Básica.
  2. É possível produzir materiais e exposições que possibilitem a aproximação dos estudantes das licenciaturas dos estudantes e das escolas.
  3. Projetos liderados por docentes da universidade e que permitem a participação de estudantes da graduação junto com professores da rede pública podem impulsionar tanto a aprendizagem dos futuros educadores quanto dos alunos da região.

Por Rodrigo Ratier e equipe

Como articular o conhecimento científico, a formação de professores e a Educação Básica? Na cidade de São Carlos, no interior de São Paulo, onde há um campus da USP e a Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), há diversas iniciativas que buscam tecer a relação entre esses três. A apresentação de um panorama dessas ações guiou a palestra "Formação Integrada: A experiência da USP/S.Carlos", dada pela professora Yvonne Mascarenhas, durante o terceiro encontro do Ciclo Ação e Formação do Professor, organizado pela Cátedra de Educação Básica da USP.

No campus da USP na cidade há dois cursos de formação de professores: a licenciatura em Matemática e a licenciatura em Ciências Exatas, oferecida em conjunto pelos institutos de Química, de Física e de Matemática e Ciências da Computação, além dos cursos de bacharelado nessas mesmas áreas. Os estudantes de graduação se engajam em diversas atividades e instituições que têm como objetivo a difusão científica, principalmente para alunos e professores da Educação Básica.

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"Uma coisa que nós falamos muito aqui no Brasil, pelo menos nesses últimos anos, é que nós acreditamos muito em novas metodologias", afirma a palestrante. A participação nessas iniciativas se insere justamente em uma proposta pedagógica para envolver os universitários no aprendizado e no ensino e, assim, explorar melhor seus interesses e suas aptidões. "A Educação é injusta quando ela é igual para todos, porque os talentos individuais não brotam, ficam perdidos", diz.

Difusão a partir da universidade

Há na cidade diversas instituições ligadas à USP e que desenvolvem ações de extensão voltadas a professores e estudantes da Educação Básica de São Carlos e da região. Uma das mais reconhecidas é o Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC), idealizado na década de 1980 por docentes da universidade. Há nele diversos espaços onde são demonstrados conceitos das ciências exatas e biológicas, como o jardim, onde é possível observar a vegetação típica do cerrado e um observatório astronômico. O local disponibiliza kits com materiais que docentes das escolas podem utilizar para realizar experimentos dentro das salas de aula.

Pergunta da plateia

Fala-se muito no trabalho com tecnologias, mas às vezes faltam recursos. É possível ensinar tecnologia sem as máquinas?

Mais do que pensar sobre as máquinas é importante pensar na relação da tecnologia com a sua aplicação. "Pelo menos um computador rudimentar, eu acho que deveria existir", pontua Yvonne. Ter pelo menos alguns recursos às vezes mais simples pode ser importante, mas o mais valioso é propiciar momentos para que estudantes relacionem teoria e prática. "Se fizer só elucubrações sem verificação experimental, pra mim não adianta. Fazer a teoria e depois vamos checar é o mote do método científico", destaca a professora.

Outra iniciativa, promovida pelo Centro de Ótica e Fotônica, é a gestão de um canal de televisão com visibilidade regional. Além de produções cedidas por canais estrangeiros, há uma parte da programação que é produzida na própria cidade, em uma parceria entre uma produtora de vídeo e pesquisadores da universidade. "O professor que coordena o projeto envolve seus alunos desde a iniciação científica até a pós-graduação", conta a professora Mascarenhas. O mesmo grupo desenvolveu os kits "Aventuras da Ciência", que apresentam experimentos que podem ser realizados nas escolas. Em parceria com a diretoria regional de ensino, o material é distribuído e a equipe promove uma formação mensal para que os os docentes da Educação Básica os utilizem.

Um grupo de extensão do Instituto de Ciências Matemáticas e Computação (ICMC) desenvolve a Technovation Summer School for Girls, um curso de férias dedicado a ensinar garotas da cidade a desenvolver aplicativos. O curso é coordenado por uma professora do instituto junto a um grupo de estudantes de graduação e pós-graduação e tem como objetivo atrair jovens de 10 a 18 anos para as carreiras de Ciências Exatas. "A maioria das pessoas que trabalham em informática são homens. Inicialmente, o número de alunas em curso de informática era igual ao de homens, mas foi decaindo com o tempo", explica Mascarenhas sobre a justificativa para a criação da iniciativa.

Universidade vai até a escola

Há também iniciativas desenvolvidas por professores e alunos da USP diretamente nas escolas de Educação Básica de São Carlos. Um exemplo foi desenvolvido entre 2003 e 2007, em que eles desenvolveram atividades no contraturno em parceria com professores de Matemática, Química, Física e Português. Parte desse trabalho auxiliou os estudantes na inscrição para o campeonato internacional Young Physicists Tournament, no qual eles foram escolhidos para representar o Brasil.

Quem é Yvonne Primerano Mascarenhas
É professora da Universidade de São Paulo. No Instituto de Estudos Avançados, foi coordenadora do polo de São Carlos e desde 2010 se dedica à difusão científica voltada para o apoio ao Ensino Fundamental e Médio. Coordena uma agência de difusão científica cujo principal veículo de comunicação é o portal Ciência Web.

Hoje, há ainda a proposição de projetos didáticos que professores de diferentes escolas podem realizar, com a orientação e a colaboração de professores e alunos da universidade. A cada ano, é proposto um novo tema. "O primeiro chamou-se 'Nosso céu' porque nós estávamos no Ano Internacional da Astronomia", conta Mascarenhas. Parte das produções realizadas nos colégios é transformada em jornais e publicada no site do projeto.

O conjunto de propostas desenvolvidas pela universidade permite uma maior aproximação entre os formadores de professores, futuros docentes e as próprias escolas e garante uma conexão maior entre todos eles, impulsionando a qualidade tanto dos cursos de graduação quanto da Educação Básica na região.