Perfil Ricardo Ohtake

por Fernanda Rezende - publicado 28/02/2018 16:40 - última modificação 28/02/2018 19:10

Ricardo Ohtake

Nasceu em 24 de outubro de 1942, no bairro da Mooca, São Paulo, numa família de imigrantes japoneses. O pai Ushio Ohtake, filho de professor secundário, estudou agronomia em Tóquio para preparar a sua vinda ao Brasil, mas em São Paulo tornou-se pequeno industrial de laboratório de remédios. Nascida em Quioto, filha de madeireiros e beneficiadores de madeira, a mãe, Tomie Ohtake, veio ao Brasil visitar um irmão que já se encontrava aqui, mas não pode retornar ao Japão por ter se iniciado a Guerra do Pacifico. Tornou-se uma das maiores artistas do país.

Ushio e Tomie se conheceram e casaram no Brasil, e tiveram dois filhos. Ruy, o mais velho, é arquiteto, formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, e um dos mais reconhecidos e premiados profissionais da área no Brasil.

Ricardo também se formou em arquitetura pela FAU-USP, mas se dedicou desde os tempos da faculdade à comunicação visual (design gráfico).

Foi presidente do Grêmio XVI de Setembro da escola secundária, do GFAU Grêmio da Faculdade e o primeiro representante dos alunos quando foi formada a Congregação da FAU (1968).

Trabalhos gráficos: Galeria Ralph Camargo, Galeria Collection, Galeria São Paulo, Construtora Nelson Vitorino.

Projetos urbanos: Rua 25 de Março, Praças da Sabesp, Rua 13 de Maio.

Livros: Tomie Ohtake, Novos Horizontes - Pintura Mural nas Cidades Brasileiras, Paulista Símbolo da Cidade, Oscar Niemeyer - Obras até 1985, Minha Arquitetura 1937-2004, Portinari Devora Hans Staden, Danças Populares Brasileiras e Instrumentos Musicais, Athos Bulcão, Ruy Ohtake - La Arquitectura, Contemporaneidade da Arquitetura Brasileira, Bienal de São Paulo (XXII e XXIII), Brasil 500 Anos (13 livros), Livros, Catálogos e material gráfico do Instituto Tomie Ohtake.

Montou seu escritório profissional juntamente com Dalton de Luca, colega de Faculdade, e também com José Roberto Graciano. Com a saída de ambos, Ricardo continuou com o escritório, atuando com duas assistentes, ex-alunas, que o acompanham até hoje.

Durante aproximadamente 15 anos, paralelamente ao escritório, foi professor de faculdades de artes, arquitetura e desenho industrial, com destaque para o Colégio Iadê e a FAU São José dos Campos. Foram duas importantes experiências de estabelecimento secundário e superior, nas quais foram promovidas inúmeras inovações no currículo e na forma de abordar a educação. No primeiro, realizadas com professores e direção e, em São José dos Campos, com alunos também.

Neste período, continuou a experimentação de projetos culturais iniciados no curso colegial e na FAU. Atuou em projetos da Secretaria Municipal de Educação e Secretaria de Estado da Cultura, ao lado de Dalton de Luca, sob coordenação de José Luiz Paes Nunes. Na Coordenadoria Geral do Planejamento da Prefeitura (Cogep), posteriormente Secretaria Municipal de Planejamento, sob a coordenação de João Evangelista Leão, idealizou projetos culturais e urbanos, com Dalton de Luca e José Roberto Graciano.

No final da década de 1970, ingressou em uma fase mais institucional na área da cultura. Na Prefeitura de São Paulo, quando o secretário de Cultura era o poeta Mario Chamie, experimentou novas possibilidades como chefe do setor de pesquisa de artes gráficas no IDART - Departamento de Informação e Documentação Artísticas, e como organizador das exposições do IDART, na Casa das Retortas.

Foi coordenador da montagem do futuro Centro Cultural São Paulo (CCSP), em atividades que envolviam a elaboração do projeto de lei de criação do Centro Cultural e o projeto de ocupação, incluindo escolha e locação de mobiliário, programação do primeiro ano de funcionamento, escolha dos nomes para os cargos mais importantes.

Quando o Centro Cultural São Paulo foi inaugurado, tornou-se seu primeiro diretor. Ao final de um ano no CCSP, encerrou seu período na Prefeitura. Lá, de 1979 a 1982, com passagem por diferentes projetos, alcançou resultados muito efetivos.

Na década de 1980, foi Secretário Geral da Associação Cultural José Martí, reconhecida instituição cujos principais cargos foram ocupados por personalidades, entre outros como Florestan Fernandes, Fernando Morais, Antônio Cândido, Chico Buarque de Holanda e Itoby Alves Correa Jr (coordenador). A Associação foi basicamente a organização não oficial das relações entre Brasil e Cuba antes do reatamento das relações diplomáticas, o que levou Ricardo a Cuba por inúmeras vezes.

No final da década de 1980 até meados de 1990, foi diretor do Museu da Imagem e do Som (quando o jornalista Fernando Morais era Secretário da Cultura do Estado de São Paulo), diretor da Cinemateca Brasileira (quando o Ministério da Cultura era dirigido por Sergio Paulo Rouanet) e Secretário de Estado da Cultura de São Paulo. Nesses cargos, foi possível realizar grandes trabalhos de política cultural, com muita invenção, profundidade e que deram prestígio às instituições.

Ohtake foi ainda presidente da Câmara de Cultura da Associação Alumni, instituição que estabelecia as relações culturais e educacionais entre o Brasil e Estados Unidos, tendo realizado um trabalho em que se deu importância às atividades essencialmente culturais e não às de entretenimento. Foi diretor da ADG-Brasil, Associação dos Designers Gráficos, encarregando-se dos programas culturais, criação de exposições importantes para o traçado da história do design brasileiro e das atividades dos designers atuantes (Bienal da ADG).

No final da década de 1990, foi Secretário Municipal do Verde e do Meio Ambiente, quando criou e deu início ao Atlas Ambiental de São Paulo e realizou as restaurações do Parque da Luz e do Ibirapuera, entre outros.

Em 2001, criou o Instituto Tomie Ohtake, do qual é presidente até hoje. É a única instituição de tal porte no país sem apoio permanente e automático de grandes empresas ou governo, mantendo-se por meio de programa exclusivamente cultural via leis de incentivo, com rigorosa qualidade de exposições, complementadas por projetos e atividades de relacionamento com a população. O Instituto realiza cerca de 17 exposições por ano em seu espaço e faz 5 itinerâncias em outras cidades, estados ou países. O público, que no início era de 100 mil visitantes anuais, nos últimos cinco atingiu uma média de 1 milhão de pessoas por ano.

Foi curador do Brasil na Bienal de Arquitetura de Veneza em 2010 e um dos curadores da exposição de Arquitetura Brasileira, paralela à Feira do Livro de Frankfurt, em 2013. É presidente da Associação Brasileira de Entidades Culturais Não Lucrativas (Anec), integra o Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta (TV Cultura) e foi membro do Conselho Deliberativo do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo entre 2015 e 2016.

Ganhou o Prêmio Ciccillo Matarazzo para a Personalidade do Ano 2013, concedido pela Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA). Recebeu as condecorações da Orden de Isabel la Catolica (Espanha) e Ordem de Rio Branco (Brasil).