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Clubes de Biologia Sintética

por Fernanda Rezende - publicado 22/12/2021 16:16 - última modificação 22/12/2021 16:16

por Filipe Albuquerque Russo, pós-graduando em Computação Aplicada à Educação pelo ICMC-USP. Graduado em Licenciatura em Matemática pelo IME-USP. É CEO da SagaPro, a edtech do bem-estar escolar, startup incubada na incubadora Cietec IPEN-USP.

por Filipe Albuquerque Russo, pós-graduando em Computação Aplicada à Educação pelo ICMC-USP. Graduado em Licenciatura em Matemática pelo IME-USP. É CEO da SagaPro, a edtech do bem-estar escolar, startup incubada na incubadora Cietec IPEN-USP.

22 de dezembro de 2021

Clubes de biologia sintética
Jing Ke, Bing Wang and Yasuo Yoshikuni, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons

 

Desde pelo menos 2016, equipes formadas em clubes de biologia sintética associados às diversas universidades públicas brasileiras têm desenvolvido projetos transdisciplinares de bioengenharia com o apoio de financiamento coletivo. Pode-se entender por biologia sintética uma interseção de várias ciências que ambiciona projetar e construir novos componentes, funções e sistemas biológicos a fim de solucionar desafios contemporâneos da humanidade, por exemplo, pode-se projetar células para a produção de bioprodutos de alto valor agregado, tais como insulina ou biodiesel.

Os projetos dos clubes de biologia sintética são construídos por equipes multidisciplinares, por membros de diversos institutos e faculdades, chegando até mesmo a estabelecer parcerias com mais de uma universidade pública simultaneamente. Dentre as plataformas de financiamento coletivo utilizadas vale ressaltar o Catarse, a Benfeitoria e a Vakinha. Observando os históricos de arrecadação das três plataformas tem-se que houveram projetos que arrecadaram de R$ 1.000 a 32.000, em geral se pautam em subsídios necessários à execução do projeto, à aquisição de licenças de software, à inscrição e ao envio para os EUA de uma subequipe de representantes a fim de competir na iGEM, uma competição internacional de engenharia de sistemas biológicos criada em 2003 pelo MIT. Maiores detalhes sobre a competição, prêmios e projetos inscritos ao longo dos anos podem ser encontrados em diversas matérias do Jornal da USP.

Em 2016, o projeto AlgAranha do time iGEM USP/UNIFESP/UNESP objetivou a produção de um supercurativo para vítimas de queimaduras composto por proteínas de teia de aranha e proteínas antimicrobianas efetivo até mesmo contra bactérias resistentes a antibióticos.

Em 2018, a equipe USP-EEL-Brazil do CBSin buscou criar um método para a remoção dos hormônios estrógenos despejados nos esgotos, numa etapa adicional nas estações de tratamento de águas e efluentes. O projeto Insubiota da equipe iGEM UNESP Brazil 18 visou desenvolver um tratamento alternativo para diabetes tipo 1 com o uso de um probiótico geneticamente modificado capaz de produzir e secretar insulina de maneira apropriada para ser absorvida, obtendo-se assim uma biofábrica no intestino humano.

Em 2019, o projeto Noxcycler (UFPR) buscou desenvolver um projeto para detectar e reduzir a emissão de gases de efeito estufa no meio ambiente. O projeto Glyfloat (UFRGS) visou a criação de um filtro capaz de degradar glifosato em rios e lagos. O projeto DeliveryBots da equipe iGEM Amazonas Brazil buscou utilizar bactérias para identificar tumores e matá-los. A equipe iGEM UFMG objetivou o desenvolvimento de um método de detecção molecular de doenças específico, barato, adaptável para diversas doenças e de fácil interpretação. A equipe da UFSCar ambicionou a criação de uma linhagem de leveduras fermentadoras resistentes às condições marcianas para possibilitar a produção de pão e outros alimentos fermentados numa possível ocupação de Marte. O projeto IARA da equipe iGEM São Carlos arquitetou a utilização de um biofiltro bacteriano para a biorremediação das águas contaminadas com metais pesados, tais como chumbo e mercúrio.

Em 2020, o time da Unicamp objetivou uma esterilização por radiação UV associada a um fungo fermentador resistente a essa mesma radiação, de forma a combater a contaminação por outros microorganismos. O projeto DiagSyn da equipe Osiris (UFRJ) buscou desenvolver uma plataforma versátil de diagnóstico de arboviroses, tais como dengue, zika e chikungunya.

Em 2021, a equipe Gillux (UnB) ambicionou a criação de microrganismos através da biologia sintética, para transformar em eletricidade o chorume e os resíduos advindos de aterros sanitários. O Lovelace’s Note in Gene do time iGEM UNESP Brazil encarou o desafio de baratear a tecnologia de armazenagem de informação em DNA. A equipe SynBio UFBA buscou desenvolver bactérias capazes de converter o gás carbônico atmosférico em um tecido baseado na seda de aranha. O projeto Honorato do time iGEM USP-EEL Brazil objetivou a produção de um inibidor para a enzima fosfolipase A2, presente na peçonha. O projeto PhytoCare do time UTPrimers (UTFPR) buscou desenvolver um protetor solar a base de carotenoides.

Os jovens pesquisadores, engenheiros e artistas desenharão o futuro do planeta e das humanidades. Não restam dúvidas de que a biologia sintética será, se já não o é, um dos complexos eixos do Sistema Terra e do seu Antropoceno.