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Grupo de Estudos A Evolução das Universidades: Desafios Contemporâneos

por Marilda Gifalli - publicado 26/11/2013 14:45 - última modificação 29/01/2020 17:47

Carlos Alberto Barbosa Dantas - Perfil
Carlos Alberto Barbosa Dantas (IME-USP), coordenador

Grupo encerrado em setembro de 2019.

O presente projeto visa historiar e discutir, de maneira crítica, o papel das universidades desde sua criação até a contemporaneidade, com o objetivo de compreender as transformações mais recentes que vem impactando as instituições de ensino superior em todo mundo e, em especial, no Brasil. Isto se faz necessário em decorrência da velocidade das mudanças sócio-econômicas atreladas ao uso intensivo das tecnologias de informação e comunicação  (TICs) , que se aceleraram sobremaneira com o advento da internet  e da world wide  web e que vem causando grande impacto nos sistemas de ensino. A evolução de equipamentos e softwares no campo das comunicações nas últimas décadas – e sua utilização na internet – provocaram uma verdadeira revolução nos sistemas produtivos e propiciaram um modo de comunicação até então desconhecido por Estados, empresas e instituições de ensino superior.

Muitos trabalhos foram dedicados a entender o alcance e o efeito dessas tecnologias nos campos social e econômico. Destacam-se alguns autores como Pierre Lévy (1993), Milton Santos (1994; 1996), Armand Mattelart (1994) e Peter Dicken (2010), que nos mostram importantes aspectos do desenvolvimento das inovações técnicas e de sua influência no mundo atual. A obra de Manuel Castells, The Information  Age:  Economy, Society and Culture, publicada em três volumes entre 1996 e 1998, é uma referência básica, dada sua abrangência e fundamentação. O livro de Yohai Benkler (2006), The Wealth of Network, também merece destaque pelo balanço que apresenta do impacto das tecnologias de informação e comunicação e seu papel central na transformação da sociedade contemporânea.

O entendimento do impacto e das possibilidades geradas por essa revolução tecnológica é fundamental para que se possa aquilatar o papel e as perspectivas abertas para a pesquisa, o ensino e as atividades de extensão, bem como o papel das universidades no mundo contemporâneo.  Desta feita, torna-se essencial, para o desenvolvimento da pesquisa que ora se propõe, a compreensão das transformações das universidades no tempo e no espaço, com ênfase no estudo do caso brasileiro. Para a consecução deste estudo, será também de fundamental importância cotejar o caso brasileiro com a evolução recente das instituições de ensino superior na Europa ocidental, nos Estados Unidos,na América Latina  e mais recentemente seu crescimento, em tamanho e importância, nos países asiáticos.

Objetivos e justificativa

Para compreendermos melhor estas transformações recentes do sistema de ensino superior no Brasil, o fio condutor do trabalho levará em conta o exame das condições históricas e sociais em que foram criadas as Universidades e sua interação com a sociedade. Os estudos serão iniciados partindo do surgimento das primeiras universidades na Europa, com destaque para as universidades de Bolonha, Paris, Salamanca, Cambridge e Oxford. Será realizado então um arrazoado da expansão do ensino superior na Europa, desde o século XIII até a contemporaneidade, buscando ressaltar as principais mudanças que atingiram as instituições e as diferentes formas de relação entre as universidades e as sociedades em que se inseriam.

A seguir buscar-se-á tratar da criação das primeiras universidades nas Américas, dando-se, contudo, especial destaque àquelas surgidas nas colônias britânicas e na América hispânica. Em seguida, pretende-se discutir com minúcia as Land-grant Universities, criadas por decreto de Abraham Lincoln em 1862, que estabelecia a doação de terras federais para o financiamento de novas instituições universitárias nos diversos estados americanos. Os recursos obtidos com a exploração das terras doadas pelo governo federal para os Estados seriam utilizados para criar um fundo para os Estados que seria revertido para financiar as universidades. As primeiras Land-grant Universities tinham como objetivo principal ensinar a agricultura e a engenharia, porém não era excluída a possibilidade de serem ensinadas disciplinas de humanidades. Muitos Land-grant Colleges ou Land-grant Universities transformaram-se em prestigiosas instituições públicas dos Estados Unidos (FOGEL, 2012). Se inicialmente essa medida possuía um caráter essencialmente pragmático-utilitário, em razão das áreas de concentração de seus cursos, posteriormente seus objetivos foram ampliados, tornando o acesso ao ensino superior público muito mais eficaz.

Esta seção será encerrada com uma apresentação de um panorama contemporâneo da educação superior nos Estados Unidos e em alguns países selecionados da América Latina (México, Argentina, Peru e Uruguai) países onde, devido à crise econômica e as posturas neoliberais presentes em algumas políticas públicas, vem ocorrendo uma elitização e/ ou privatização do sistema de educação superior ( KINSER, 2004; RAMA, 2006; FOGEL, 2012).

Finalmente, deter-nos-emos na realidade brasileira, partindo primeiramente de uma historicização de suas instituições de ensino superior, com o fim de ressaltar a mudança no escopo de atuação das universidades no século XX, uma vez que anteriormente apenas os cursos de Direito, Medicina e Engenharia estavam disponíveis no país (KWASNICK, 1985).

A primeira tentativa de criação de uma universidade no país foi, como se sabe, a implantação, no Rio de Janeiro, da Universidade do Brasil que teve, contudo, uma história atribulada e breve (BERGER, 1980). Desta feita, a primeira instituição universitária brasileira a ter um funcionamento constante foi a Universidade de São Paulo, fruto da integração das faculdades já existentes na cidade e a criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, em 1934 (LEOPOLDO e SILVA, 1999; KWASNICK, 1985). Nas condições em que foi criada a USP merece destaque especial o papel do Estado de São Paulo. A instalação da USP visava, entre outras finalidades, preparar quadros qualificados ao Estado. No  processo de criação da USP a vinda das missões estrangeiras de professores da França, Itália e Alemanha teve um papel fundamental.

De lá para cá, com especial destaque para a última década, o ensino universitário do país cresceu significativamente, de maneira que todos os estados da federação encontram-se hoje com uma ou mais instituições de ensino superior públicas (CUNHA, [1988] 2007). Tal crescimento ressentiu-se, contudo, de um plano nacional de objetivos e metas, e de uma avaliação criteriosa acerca das necessidades reais e das formas de enfrentar tal desafio. Mesmo no caso da Universidade de São Paulo faz-se necessário destacar também a ausência de um planejamento cuidadoso no que concerne à criação de novas unidades e cursos.

É dentro deste quadro que se pretende investigar como as ferramentas e  novas tecnologias de informação e comunicação colocam questões importantes que desafiam o ensino superior atualmente, e merecem ser analisadas num estudo minucioso. Este estudo das tecnologias da informação é importante também pois é sabido que elas propiciaram o aumento da eficiência de uma série de agentes econômicos e de processos produtivos. É o caso, por exemplo, de todos aqueles setores industriais que se utilizam intensivamente das tecnologias da informação para automatizar seus processos produtivos e seus sistemas operacionais. É o caso também de todos os agentes financeiros, que são atualmente aqueles que mais se beneficiaram desta “revolução informacional” propiciada por essas novas ferramentas (DICKEN, 2010).

Estas mesmas ferramentas afetaram também os sistemas universitários, pois ao  mesmo tempo em que produziram um grande ganho para a o acesso e troca de  informações – como por exemplo através de mecanismos de buscas e bibliotecas virtuais – criaram facilidades para a expansão indiscriminada de instituições de ensino superior de baixa qualidade. Simultaneamente, o crescimento lento das universidades públicas e a crescente demanda pelo ensino de terceiro grau gerou no país um resultado perverso, a expansão de um rede privada de ensino de baixa qualidade e de caráter essencialmente mercantil.

Todos os aspectos anteriormente elencados formarão a espinha dorsal da pesquisa que se pretende realizar e que se espera possa auxiliar no planejamento e racionalização das universidades no país, atentando sempre para a importância central do caráter público do ensino em todos os níveis, assim como para a valorização do papel do professor na sociedade contemporânea (FERNANDES, 1979; RIBEIRO, 2003).

Referências bibliográficas

BENKLER, Yohai. The Wealth of network. Yale: Yale University Press. 2006.

BERGER, Manfredo. Educação e dependência. São Paulo: Difel. 1980.(*)

CASTELLS, Manuel. The Information  Age:  Economy, Society and Culture Cambridge, MA; Oxford, UK: Blackwell (3 vols.) 1996/1998.

Center of Studies in Higher Education. (CSHE) University of California , Berkeley 2012

CUNHA, Luiz Antonio (1980). A Universidade temporã. O ensino superior, da colônia è era Vargas. São Paulo: Editora Unesp (3ª ed). 2007.

__________(1988). A Universidade reformanda. O Golpe de 1964 e a modernização do ensino superior. São Paulo: Editora Unesp (2ª ed.). 2007.

DICKEN, Peter. Mudança global. Mapeando as novas fronteiras da economia mundial. Porto Alegre: Bookman. 2010.

DOUGLASS, John Aubrey. Money,Politics and thre rise of for-profit higher education in thr US- A Story of Supply, Demand and the Brazilian Effect

__________. Tales of university devolution: Organizational Behavior in the Age of Markets. Center of Studies in Higher Education(CSHE) University of California , Berkeley 2012.

FERNANDES, Florestan. Universidade brasileira: reforma ou revolução? São Paulo: Editora Alfa-Ômega. 1979.

FOGEL, David Mark and Malson-Hudle editors “Precipice or crossroads-Where America´s Great Public Universities stand and where  they are going midway through their second century.” State University of New York Press, 2012

KINSER, Kevin. “Estados Unidos da América: estrutura e inovação na educação superior”. In MORHY, Lauro (org.). Universidade no mundo. Universidade em questão (Volume 2). Brasília: Editora UnB. 2004. pp. 221-241.

KWASNICK, Eunice Lacava (Coord.). A  Universidade de São Paulo- Subsídios para uma Avaliação. São Paulo: Codac/USP. 1985

LEOPOLDO E SILVA, Franklin. “A experiência universitária entre dois liberalismos”. In Tempo Social Vol. 11, no. 1. 1999. pp. 1-47.

LÉVY, Pierre. As Tecnologias da inteligência. O Futuro do pensamento na era da informática. São Paulo: Editora 34. 1993.

MATELLART, Armand. Comunicação-mundo. História das idéias e estratégias. Petrópolis: Editora Vozes. 1994.

RAMA, Claudio. La Tercera reforma de la educación superior en América Latina. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica. 2006.

RIBEIRO, Renato Janine. A universidade e a vida atual. Fellini não via filmes. Rio de Janeiro: Editora Campus. 2003.

RIDDER-SYMOENS, Hilde (Ed.) A History of the University in Europe.Vol . 1Universities in the middle ages. Cambridge University Press 1992.

SANTOS, Milton. Técnica, espaço, tempo. São Paulo: Hucitec. 1994

___________. A Natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec. 1996.

Foto: Sandra Codo/IEA-USP

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