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Ciclo de Conferências "Humanos e Animais: Os Limites da Humanidade"

por Leila Costa - publicado 14/08/2013 22:50 - última modificação 28/10/2015 12:12

Ciclo de Conferências
“Humanos e animais: os limites da humanidade”

O objetivo deste Ciclo de Conferências é permitir a interação entre as várias perspectivas (da epistemologia, da antropologia, da biologia, da filosofia política e da ética contemporâneas) para discutir os fundamentos filosóficos e epistemológicos mais relevantes do humano, entendendo que o humano é indissociável de sua diferença e de sua relação com o âmbito do não humano, o âmbito do animal e/ou dos grupos que alguns tendem a considerar como sub-humanos (certas etnias, certos tipos físicos, certos gêneros sexuais). A diferença e a relação entre o humano, o animal e o sub-humano delimitam cada um desses grupos de seres vivos. O ciclo de conferências procura ocupar-se da origem de tal delimitação, de sua legitimidade e de suas consequências ético-políticas.

A importância de uma reflexão que exponha e analise os pressupostos fundamentais na delimitação dos três conceitos mencionados explica-se, no plano filosófico, a partir do enfraquecimento dos limites entre o humano, o animal e o sub-humano (e da polêmica sobre uma eventual superação deles pelo chamado trans-humano), e, no plano ético-político, das consequências que isso tem na sociedade atual. Os pesquisadores convidados terão a oportunidade de expor o ponto de vista de sua especialidade e gerar aproximações e confrontos críticos e produtivos. Os textos resultantes das diversas atividades serão submetidos para publicação em Scientiae Studia e/ou em Estudos Avançados.

Acesse a programação completa.


- 27 de março | 2013 – quarta-feira – 9:30 – 12:30 – primeira conferência:
Exposição – Lorenzo Baravalle – “Animalidade transcendental: o problema da naturalização do apriori em Konrad Lorenz”.

Resumo: Um dos aspetos característicos da fundamentação epistemológica do grande etólogo austríaco é a tentativa de síntese entre a teoria darwiniana e a gnoseologia kantiana. Essa combinação metodológica terá, embora não sempre de maneira explícita, grande sucesso em certos âmbitos da filosofia da biologia. Neste contexto, consideraremos alguns aspetos antinômicos da formulação de Lorenz, insuficientemente matizados pela tradição posterior. Em primeiro lugar, analisaremos a contribuição de Lorenz na compreensão da cognição animal, a qual consiste, poderíamos dizer, na implantação da estrutura transcendental em suas pesquisas etológicas, com uma consequente naturalização do conceito de a priori. Em segundo lugar, veremos como a atribuição de a priori próprios das espécies particulares implica o desdobramento da questão transcendental em uma série de problemáticas, tanto ontológicas como epistemológicas, dificilmente resolvíveis por meio de uma análise meramente naturalista. Finalmente, conferiremos se (e como) uma noção de a priori levemente remanejada, junto com uma diferente interpretação da relação entre naturalismo e transcendentalismo, poderiam contribuir principalmente para o entendimento das distintas modalidades de conhecimento, animal e humano.
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- 24 de abril | 2013 – quarta-feira – 9:30 – 12:30 – segunda conferência:
Exposição – Regina André Rebollo – “Homens e animais na tradição antiga”

Resumo: A questão geral que pretendo apresentar diz respeito aos pressupostos metafísicos que estariam na base de nossas convicções morais sobre as relações entre os humanos e os outros animais. Para tanto, vou tratar dos seguintes pontos: (1) Os conceitos de “identidade” e “pessoa”: o que é um homem? O que é um animal? (2) Demarcações: como semelhanças e diferenças fundamentais acerca dos homens e dos animais costumam ser estabelecidas; como se dá a relação entre os atributos e a definição de tais termos. (3) A tradição clássica: a teoria da metensomatose de Pitágoras e Empédocles e suas implicações morais; a teoria da besta interior de Platão e suas implicações morais; a chamada scala naturae de Aristóteles e suas implicações morais.
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- 22 de maio | 2013 – quarta-feira – 9:30 – 12:30 – terceira conferência:
Exposição – Eliane Sebeika Rapchan – Universidade Estadual de Maringá (UEM) – “Primatologia, "culturas" não humanas, novas alteridades e etnografia”

Resumo: De modo semelhante aos rompantes etnocêntricos de uma cultura humana frente a outras, as relações entre humanos e primatas não humanos incluem um estranhamento pontuado por atração e repulsão, identificação e diferenciação. A ciência, a arte e os mitos são expressões vivas e atualizadas disso. Desde 1960, a primatologia destaca-se nesse cenário por contribuir significativamente para a revisão das definições sobre o comportamento dos primatas e, consequentemente, para a redefinição do humano tendo, inclusive, apresentado a polêmica proposição de existência de “culturas” de animais não humanos. Na mesma direção, a aproximação entre humanos e primatas não humanos parece inexorável e irreversível. Constitui-se, assim, uma nova alteridade, um novo outro (não humano), carregado de significados. Isso inclui a reformulação das representações que fazemos deles, das categorias de classificação nas quais os inserimos e de seus direitos. Quando o desafio é dirigido a situações de pesquisa antropológica que enfocam as relações entre os seres humanos e os outros primatas, a consciência de que o registro etnográfico descreverá a relação humano-primata e será uma construção empírica, perceptual e teórica deve ser igualmente aguda. Dado o tipo particular de relação que os humanos estabelecem com os outros primatas, pautado em um universo fronteiriço de incômodas semelhanças e diferenças, constituem-se aí coletivos híbridos em que há interações possíveis, mas não se conhece ainda exatamente o seu alcance ou sua profundidade.
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- 6 de junho | 2013 – quinta-feira – 9:30 – 12:30 – Mesa redonda organizada e moderada por Lorenzo Baravalle (Fapesp/IEA/USP) – com a participação de Hernán Neira (USC-Chile), Gustavo Caponi (UFSC), Maurício de Carvalho Ramos (IEA/USP).


Exposição Gustavo Caponi – “Tipologia e filogenia do humano”

Resumo: Se pensarmos filogeneticamente, o termo “animal” designa um grupo monofilético, isto é, uma entidade histórica individual da qual ficaria excluída qualquer espécie que não derive da espécie fundadora desse grupo. Mas também poderíamos considerar que “animal” simplesmente designa todo organismo heterotrófico, diploide e multicelular, sem examinarmos a questão filogenética de se essas características são verdadeiras autopomorfias de um grupo monofilético ou simples homoplasias compartilhadas por um grupo parafilético. Nesse caso, para determinar se um ser vivo é ou não um animal, nada precisaríamos saber de sua filogenia, bastaria saber se ele tem ou não essas características. Em tal caso, pensaríamos tipológica e não filogeneticamente. Os erros e as confusões começam quando misturamos o modo tipológico e o modo filogenético de pensar. Isso é o que parece acontecer sempre que se coloca a oposição entre o animal e o humano. O tópico costuma ser encarado como se fosse um problema de biologia evolucionária, mas, interpretado desse modo, a discussão acaba atolada em uma questão tipológica da qual a perspectiva evolucionista não permite sair. Não porque a questão seja muito profunda para ela, mas simplesmente porque, do ponto de vista evolucionista, a polaridade entre o animal e o humano não tem maior sentido. Mas isso não tem a ver só com o fato de todas as sub-linhagens do gênero Homo serem, ou terem sido, espécies zoológicas, e não botânicas, mas também com o fato de que, filogeneticamente falando, não existem os conceitos de animalidade e de humanidade.


Exposição Maurício de Carvalho Ramos: “A relação entre animais e humanos concebida como um contínuo biocultural e ético-epistêmico”

Resumo: Apresentarei para discussão a conjectura de que uma perceptiva continuista que conceba a indissociabilidade de juízo éticos e epistêmicos e das dimensões biológicas e culturais como uma via adequada para entender as diferenças e as semelhanças entre animais e humanos. Tal adequação é gerada principalmente pela capacidade que a proposta tem de contornar tanto os reducionismos fisicalistas (biológicos, darwinistas, neurocognitivistas etc.) quanto os “culturalistas” (sociológicos, antropológicos etc.) quanto as posições dualistas que propõem rupturas radicais entre humanidade e animalidade e entre cultura e biologia. A perspectiva teórica da conjectura será a de uma epistemologia histórica capaz de realizar esses dois contornos sem rejeitar as diferentes que existem, e devem existir, entre humanos e animais.


Exposição Hernán Neira: “Sensibilidad y soberanía: Descartes y Condillac ante los animales”
Resumo: En la modernidad, especialmente francesa, la comparación entre animales y humanos juega un papel central para comprender lo humano, como lo demuestran los trabajos de Descartes y de Condillac. El examen de esas obras permite ver cómo en la modernidad se constituyen dos interrogantes sobre lo animal. La primera: ¿cómo podríamos fundar o, al contrario, deslegitimar una semejanza entre animales y humanos?; y, la segunda: ¿cómo podemos hablar filosóficamente de los animales si parte de la esencia de ellos pareciera consistir en ser impenetrables para el conocimiento humano? La reflexión sobre la postura que estos filósofos tienen sobre lo animal nos permite clarificar algunos de los desafíos que la zoofilosofía actual debe resolver.

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- 28 de agosto | 2013 – quarta-feira – 9:30 – 12:30 – quarta conferência
Exposição – Stelio Marras (Instituto de Estudos Brasileiros/USP) – “Animais e humanos como ontologias emergentes”

Resumo: Como encarar a dicotomia animalidade e humanidade tendo em vista a crise das práticas e das concepções contemporâneas que recai sobre a oposição – que agora podemos reconhecer como tão marcadamente ocidental – entre a natureza e a cultura? Refletir sobre essas crises pode levar ao reconhecimento de que humanos e não humanos apenas se afirmam como realidades emergentes nas relações que travam entre si – renunciando, assim, à operação de corte (ou purificação pré-estabelecida) ontológica e epistemológica já improdutiva entre os diferentes seres. O desafio que se nos apresenta parece ser o de conceber as diferenças em continuidade umas em relação às outras e a partir dos processos pragmáticos das relações – como entre animais e humanos. Talvez estejamos mesmo deparando-nos agora com aquilo que antes os modernos havíamos expulsado: o animismo dos povos ditos selvagens ou primitivos, a participação constitutiva dos seres entre eles. Mas como caracterizar a espécie moderna de animismo? Decerto que tal tarefa deverá revolver pensamentos centrais dessa mesma modernidade. É como eu gostaria de retomar o pensamento de Charles Darwin e os estudos contemporâneos de antropologia da ciência.
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- 25 a 26 de setembro | 2013 - Colóquio Internacional “Humanos e animais: os limites da humanidade"