Plataformas e Interfaces na Arte e Cultura Contemporâneas

por Rafael Borsanelli - publicado 28/01/2013 16:30 - última modificação 10/03/2015 16:50

Objetivo

Lançado em outubro de 2003 em parceria com o Goethe-Institut de São Paulo como ação cultural em rede e plataforma de práxis investigativa e de mediação crítica, o Fórum Permanente vem, desde então, promovendo a interação dos vários interesses e de atuações críticas e transformadoras associadas ao sistema da arte e da cultura nacional e internacional. Principalmente a partir do lançamento de seu primeiro site na Incubadora Virtual da FAPES, em 2005, o Fórum Permanente tem atuado como dimensão compartilhada para instituições culturais, seus dirigentes, corpo técnico e demais sujeitos que, direta ou indiretamente, conformam o campo cultural e artístico globalizado. Como uma plataforma para o debate crítico e um híbrido dos formatos de arquivo, centro de referência e museu, o Fórum Permanente documenta, observa e analisa criticamente as complexas dinâmicas do sistema da arte e da cultura, em particular as relações/tensões entre produção criativa e as instituições em tempos de espetacularização e virtualização da cultura. Este é o objetivo-chave, mas há, no entanto, um objetivo subliminar e formativo: o de contribuir, de forma significativa e mobilizadora, para o amadurecimento do contexto político-cultural das artes visuais em nosso país, por meio do incentivo de intercâmbios culturais, dentro e fora de suas fronteiras nacionais. Vemos como objetivo colocado a partir da incorporação do Fórum Permanente ao Instituto de Estudos Avançados da USP a criação e consolidação de um observatório crítico das produções artísticas e criativas na cultura e de suas políticas públicas.

Justificativa

O Fórum Permanente é uma plataforma de mediação cultural que se inspira nos museus-laboratório das décadas de 1960 e 1970 e em ações colaborativas na esfera da arte contemporânea que incentivaram, entre outros, práticas artísticas experimentais, novas formas de exposição, de comunicação e de divulgação, bem como revisões críticas das metodologias das instituições culturais tradicionais, como o museu. Na Europa, os principais condutores destes processos crítico-criativos, em particular em instituições de arte, foram Pontus Hulten, Harald Szeemann, Willem Sandberg, Jean Leering e, aqui no Brasil, Walter Zanini como primeiro diretor do Museu de Arte Contemporânea da USP de 1963 a 1978 e depois como curador da 16ª e 17ª Bienais de São Paulo.

Em meados da década de 1990, novas estruturas mediáticas e de informação motivaram investigações e experimentos no desenvolvimento de extensões virtuais dos equipamentos culturais existentes. Na Universidade de São Paulo, por meio de uma atuação crítica contextual-institucional pautada por demandas, questionamentos, dúvidas e ações de risco, foram desenvolvidas várias frentes, como a criação, em 1994, de um Laboratório Interdepartamental e Multidisciplinar de Interfaces Eletrônicas no NICA - Núcleo de Informática da Escola de Comunicações e Artes da USP e, em 1995, a criação e o desenvolvimento da primeira interface da USP na WWW, o projeto USPonline, um portal de informação online mas também uma metáfora de Universidade, que se conformou como interface cultural ao relacionar sistemas de cultura e conhecimento com sistemas de informação. Antes mesmo do lançamento do Fórum Permanente em 2003, a ideia de um museu na virtualidade foi extensivamente debatida em um workshop no NICA em março de 1996, por um grupo de artistas, produtores culturais e alunos de pós-graduação. Deste debate nasceu o museu do (in)consequente coletivo <www.eca.usp.br/prof/martin/in_consequente/>, cuja dinâmica em sua constituição como museu na virtualidade serviu de base na formulação inicial do Fórum Permanente.

Em São Paulo, as principais instituições culturais voltadas à arte contemporânea integram esta rede, inclusive galerias de arte comerciais. O Fórum Permanente concentra suas atividades em São Paulo, mas apoiou eventos em outras cidades como Recife, Salvador, Madrid, na Espanha, e Arnhem, na Holanda. Envolve em suas atividades os principais articuladores da arte contemporânea no Brasil e do cenário internacional nos mais de 150 eventos presenciais realizados até hoje, cujos registros e relatos se encontram disponíveis em nosso arquivo online <www.forumpermanente.org>. Realizou nestes últimos 10 anos, em média, 15 eventos presenciais anuais, que vão de palestras, workshops a encontros e seminários, em grande parte disponíveis na IPTV da USP. O site hoje é uma referência não só nacional como internacional. Com seus mais de 5.000 mega bits de tamanho, 2.500 páginas, 2.120 imagens, o site é acessado em média por 250 visitantes diários que folheiam 980 páginas, usuários estes provenientes de mais de 100 países, 480 cidades no Brasil e de 950 cidades no mundo (dados referentes a 2012/2013). A abrangência internacional inclui países como Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Guatemala, Cuba, México, Angola, Moçambique, Ilha da Madeira, Coreia, Suécia, Noruega, Inglaterra, Irlanda e outros países da Europa Continental, bem como os Estados Unidos e o Canadá. Há dados curiosos, como o fato de Paris ser a 13ª cidade, Londres a 15ª, Lisboa a 16ª, Berlim a 27º, Nova Iorque a 28ª, Buenos Aires a 42ª, Madri a 43ª e Barcelona a 50ª  no ranking das cidades que mais acessam o site. No Brasil as 20 primeiras cidades neste ranking são: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Brasília, Salvador, Campinas, Recife, Fortaleza, Goiânia, Vitória, Ribeirão Preto, Florianópolis, Londrina, Belém, Natal, Santos, Manaus, São Bernardo do Campo, Osasco, São José dos Campos, Diadema, Presidente Prudente, Santo André. Nos últimos cinco anos assistimos uma verdadeira interiorização no acesso do site, principalmente no sul do País.

Considerando que o Fórum Permanente, desde sua criação, desenvolve uma plataforma híbrida interdisciplinar por definição, em sintonia com o princípio estruturante do IEA, uma colaboração entre os saberes mais diretamente ligados a esta prática deve representar um intercâmbio rico e com possibilidades de desenvolvimento da transdisciplinaridade enquanto competência central para atividades ligadas à pesquisa. Para além disso, o arquivo do Fórum Permanente, produzido a partir da problematização de sistemas e produções culturais, pretende contribuir com a diversidade metodológica e de objetos relativos a pesquisas fundadas no Instituto.

O Fórum Permanente pretende, no ambiente acadêmico, dar continuidade ao modo de produção critica que o caracteriza desde sua fundação. O contexto da universidade hoje representa um meio com a isenção necessária para a criação de um observatório crítico da produção artística contemporânea e suas conexões com a cultura, guardando distância estratégica - embora em conversa - dos sistemas e circuitos mercadológicos em que circulam estas produções e que também são meio de reformulação de nossa identidade e possibilidades de reelaboração de nossa cultura.

Tendo sido pioneiro no emprego das novas tecnologias de informação e comunicação na constituição de uma ação em rede, compartilhada e globalizada, o Fórum Permanente foi, na USP (e assim no Brasil), um dos primeiros grupos de pesquisa nas Humanidades a utilizar de forma sistemática a transmissão tempo-real pela internet (webcast) associada a uma plataforma virtual de livre acesso e, assim, pública, desenvolvida em um sistema de código aberto em CMS-Content Management System.

A partir deste contexto de atuação, se estabelece o objetivo, quando da integração ao IEA, de uma ampliação de campo de investigação, que até agora esteve mais focado na crise das instituições de arte no Brasil. Tendo como base explorações já em curso, como o do debate crítico em relação a curadoria e da mediação em arte em geral (que inclui os setores educativos formalizados e circuitos não oficialmente tomados pelas metodologias do campo da educação), e o da produção da arte contemporânea.

A oportunidade de termos o apoio do IEA dará mais consistência a estes investimentos principalmente pelo fato de entendermos que estes precisam explorar a interdisciplinaridade em sua mais completa potência.

Impactos Científicos, Culturais e Sociais

Atualização, desenvolvimento e manutenção de uma plataforma ampliada de livre acesso para a pesquisa, memória e divulgação do conhecimento gerado na interação destes universos.

O Fórum Permanente já funciona, desde sua criação em 2003, como plataforma de alcance social no âmbito cultural ao propor e produzir debates, oficinas, ciclos, seminários, palestras, eventos discursivos em geral, produção de textos críticos (relatoria), a produção e publicação de uma série de livros, a criação e manutenção de uma revista digital com periodicidade de 3 meses (Periódico Permanente). Este trabalho de socialização e produção de conhecimento já desenvolvido pretende motivar o trabalho colaborativo em rede e a formalização de meios de produção e circulação do conhecimento (creative commons), promovendo fonte e material para a pesquisa tornada acessível nacional e internacionalmente.

Áreas do Conhecimento

Fundamentos e Crítica das Artes / História, Teoria, Crítica das Artes / Fundamentos de Arquitetura e Urbanismo / Ciência da Informação / Teoria da Comunicação / Políticas Públicas / Relações Internacionais / Interdisciplinar: Sociais e Humanidades

Referências Bibliográficas

BELTING, Hans & Buddensieg, Andrea (eds.), The Global Art World. Audiences, Markets and Museums, Hatje-Cantz, Ostfildern, May 2009.

BENJAMIN, Walter. Sobre o Conceito da História, in "Obras Escolhidas; Magia e Técnica, Arte e Política", Volume 1, São Paulo, Brasiliense, 1985, pp 222-232.

BISHOP, Claire. (ed.) Participation – Documents of Contemporary Art. Cambridge, MIT, 2006

CANCLINI, N., Culturas Hibridas, Grijalbo, Mejico D.F.,1989

CANCLINI,Néstor. A Globalização Imaginada, Ciudad de México, Paidos, 2000.

CASTELLS, M. A Sociedade em Rede, vol. I, S. Paulo, Paz e Terra, 2000.

COELHO, Teixeira. Dicionário Crítico de Políticas Culturais, São Paulo, Iluminuras, 1997.

CHIARELLI, Tadeu Grupo de Estudos de Curadoria, São Paulo, MAM, s/d

GILLICK, Liam and Maria Lind (eds.) (2005) Curating with Light Luggage, Kunstverein Munchen/Revolver.

GREENBERG, Reesa, Ferguson, Bruce and Nairne, Sandy (eds), Thinking about Exhibitions, London, Routledge, 1996

GROSSMANN, Martin & Mariotti, Gilberto (org.) MUSEU ARTE HOJE, São Paulo, Forum Permanente & Hedra, 2011

HANNULA, Mika (1998) Stopping the Process: Contemporary views on art and exhibitions, Helsinki: Nifka

KWON, Miwon. (2002) One Place After Another: Site-specific Art and Locational Identity. Cambridge, Mass. and London.

LIND, Maria and Raimund Minichbauer 9eds.) (2005) European Cultural Policies 2015: A report with Scenarios on the Future of Public Funding for contemporary Art in Europe, IASPIS & EIPCP

MANIFESTA (2003 - ) Manifesta Journal: journal of contemporary curating, Amsterdam: International foundation Manifesta.

MOURA, Rodrigo Políticas Institucionais, Práticas Curatoriais, Belo Horizonte, MAP, 2004

Müller, Vanessa Joan and Schafahusen, Nicholas [Eds.] (2006) On Construction Perspectives of Institutional Practice, Cologne: Verlag der Buchhandlung Walther König.

OBRIST, Hans Ulrich Uma Breve Historia da Curadoria, São Paulo, BEI, 2010

O´DOHERTY, Brian. No interior do cubo branco: a ideologia do Espaço da Arte. São Paulo, Martins Fontes, 2002

O’NEILL, Paul [Ed.] Curating Subjects, London: Open Editions. 2007

O´NEILL, Paul & Wilson, Mick (eds), Curating and the Educational Turn, London: Open Editions, 2010

RAMOS, Alexandre Dias (org) Sobre o Ofício do Curador, Porto Alegre, Zouk, 2010

SANDER, Katya and Shekh, Simon [Eds.] (2001) We Are All Normal (and we want our freedom), London: Black Dog Publishing Limited.

SCOTT, Kitty, Raising Frankenstein (2001): Curatorial Education and its Discontents, London, Koenig Books,

STANISZEWSKI, Mary (1998) The Power of Display: A History of Exhibition Installations at the Museum of Modern Art, Cambridge, Massachusetts: The MIT Press.

TENNERT, Christoph and Ute Tischler (eds.) (2004) Men In Black: Handbook of Curatorial practice, Frankfurt am Main: Revolver.

WEIBEL, Peter & Buddensieg, Andrea (eds.), Contemporary Art and the Museum. A Global Perspective, Hatje Cantz Verlag, Ostfildern, 2007.

WU, Chin-Tao Privatização da cultura: a intervenção corporativa nas artes desde os anos 80, São Paulo, Boi Tempo- SESC, 2006