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Serviços dos Ecossistemas

por Aziz Salem - publicado 01/04/2013 14:55 - última modificação 01/08/2023 11:08

abelha melipona gcvDesde a década de 70, os serviços de ecossistema têm sido discutidos na literatura acadêmica. Schumacher (1973) foi provavelmente o primeiro a enfatizar o valor social dos serviços da natureza, enquanto que Westman (1977) discutiu como quantificá-los e avaliá-los. O artigo de Ehrlich e Mooney (1983) foi o primeiro a apresentar o termo "ecosystem service" em seu título, discutindo o impacto da perda de biodiversidade nos serviços prestados à humanidade pelos ecossistemas.

Já em 1997, dois trabalhos importantes foram publicados. Num deles, Constanza et al. (1997, p.253) definiram serviços de ecossistemas como sendo "os benefícios que as populações humanas obtêm, direta ou indiretamente, das funções de ecossistemas." Os autores sugeriram uma lista de serviços de ecossistemas, ampliando as discussões apresentadas por Westman (1977) e incluindo, por exemplo, os serviços de polinização e o controle biológico. Em outro trabalho, Daily (1997, p.3) definiu serviços de ecossistema como "as condições e processos através dos quais os ecossistemas naturais, e as espécies que os compõem, sustentam e satisfazem a vida humana." De acordo com o autor, esses serviços seriam os responsáveis por manter a biodiversidade e produzir bens, tais como, alimentos, madeira, combustíveis e muitos dos produtos farmacêuticos e industriais, bem como seus precursores.

Durante o período de 2001 a 2005, o Millennium Ecosystem Assessment (MEA) - um programa encomendado pelo então Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Anan, e composto por várias organizações de 77 países - dedicou-se a discutir as consequências da mudança do meio ambiente no bem estar humano. Foi então publicada uma síntese que apresentava os serviços de ecossistema divididos em quatro categorias: serviços de aprovisionamento, de regulação, cultural e de suporte (MEA 2005) (Figura 1). De acordo com essa síntese, as mudanças do uso da terra foram os fatores que causaram maior impacto nos serviços de ecossistemas. Apesar de muitos indivíduos terem se beneficiado da conversão de sistemas naturais para sistemas antrópicos, esse ganho foi feito à custa de perdas massivas de biodiversidade, degradação de serviços de ecossistema e em aumento da pobreza, em alguns casos. De acordo com os autores, mesmo em situações onde fosse difícil quantificar esses custos, eles deveriam ser considerados, especialmente quando as mudanças nos ecossistemas fossem muito acentuadas ou irreversíveis.

Por seus objetivos, o MEA inovou nas suas considerações sobre a biodiversidade, porque trabalhou com as ciências naturais e sociais, e focalizou não somente o status da biodiversidade, mas também seus produtos e funções, especialmente os serviços dos ecossistemas (Larigauderie e Mooney, 2010).

Paralelamente, em 2005, o governo Francês promoveu uma importante conferência internacional, intitulada “Biodiversity: Science and Governance”, para tratar dos resultados do MEA e das medidas a serem tomadas em seguida. Na abertura, o então presidente da França, Jacques René Chirac, mencionou que o Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) tinha demonstrado a importância das mudanças globais para o mundo, e que era necessário um sistema semelhante para a biodiversidade. Além das declarações geradas, a conferência produziu um documento que foi denominado de “Declaração de Paris sobre a Biodiversidade”. Seguiu-se a ela uma grande consulta pública chamada de International Mechanism of Scientific Expertise on Biodiversity (IMoSEB), visando dar continuidade ao trabalho do MEA.

Em dezembro de 2010, o ano internacional da biodiversidade, os resultados dos esforços consolidados do MEA e do IMoSEB resultaram na aprovação do Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services (IPBES), pela Organização das Nações Unidas (ONU) (Larigauderie e Mooney 2010). O estabelecimento do IPBES forneceu um vínculo importante para a política internacional, propondo uma relação entre organizações científicas, entidades ambientais e instituições que custeiam a pesquisa. Esse elo é um fator crítico para direcionar tanto a competência científica quanto a relevância da pesquisa, visando à capacitação e fortalecimento do uso da ciência no estabelecimento de políticas públicas.

MEA2005

Figura 1. Serviços de Ecossistemas (Fonte: MEA, 2005)

Referências

Costanza, R., d’Arge, R., de Groot, R.S., Farber, S., Grasso, M., Hannon, B., Limburg, K., Naeem, S., O’Neill, R.V., Paruelo, J., Raskin, R.G., Sutton, P. & van den Belt, M.  1997. The value of the world’s ecosystem services and natural capital. Nature, 387: 253-260.

Daily, G.C., 1997. Nature’s Services: Societal Dependence on Natural Ecosystems. Washington, Island Press, 412p.

Ehrlich, P. R. & Mooney, H.A. 1983. Extinction, Substitution, and Ecosystem Services. BioScience, 33: 248-254.

Larigauderie, A. & Mooney, H. A. 2010. The Intergovernmental science-policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services: moving a step closer to an IPCC-like mechanism for biodiversity. Current Opinion in Environmental Sustainability, 2: 9-14.

Millennium Ecosystem Assessment. 2005. Ecosystems and Human Well-Being: Synthesis. Washington, Island Press, 137p.

Schumacher, E.F. 1973. Small is Beautiful: Economics as if People Mattered. London, Blond and Briggs, 288p.

Westman WE. 1977. How much are nature's services worth? Science, 197: 960-963.