Inovação Tecnológica
ECONOMIA Richard Nelson e o papel das instituições no desenvolvimento econômico A partir da esquerda, Milton Campanário, Richard Nelson, João Steiner e Mário Sérgio Salerno |
O economista norte-americano Richard Nelson, da Universidade Columbia, esteve no IEA no dia 8 de novembro de 2005, quando fez a conferência O Papel das Instituições no Desenvolvimento Econômico. Segundo ele, o termo "instituições" tem sido adotado por grande parte dos economistas desde os anos 80 para caracterizar os fatores fundamentais que definem a produtividade econômica e sua progressividade. Considerado um dos maiores teóricos mundiais sobre inovação, Nelson concentra suas pesquisas no processo de mudança econômica de longo prazo, com ênfase particular nos avanços tecnológicos e na evolução das instituições econômicas. Nelson veio a São Paulo a convite do Instituto Fernando Henrique Cardoso (IFHC) e do IEA. Debaterão com ele os economistas João Furtado, professor do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP, e Milton Campanário, da Divisão de Economia e Engenharia de Sistemas do IPT e professor do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP. O evento foi em inglês, sem tradução. Em março deste mesmo ano foi lançado no Brasil um livro do qual Nelson é um dos organizadores. Trata-se de "Tecnologia, Aprendizado e Inovação - As Experiências das Economias de Industrialização Recente", primeiro volume da "Coleção Clássicos da Inovação" da Editora Unicamp. A obra contém 15 artigos de diferentes especialistas. Os trabalhos analisam os êxitos econômicos e processos de inovação tecnológica da Coréia do Sul, Tawain, Indonésia, Malásia, Cingapura e Hong Kong. As experiências dessas países são contrastadas com as da Índia, China e América Latina, com destaque para o exame das estratégias de inovação dos governos e empresas. Alguns de seus outros livros são: "The Sources of Economic Growth" (2000), "The Sources of Industrial Leadership" (1999), "National Innovation Systems: a Comparative Analysis (1993) e "An Evolutionary Theory of Economic Change" (1985). Nelson é professor de economia política internacional na Universidade Columbia, onde foi o primeiro diretor do Consórcio de Política Pública, criado em 1997. De 1956 a 1957, foi professor assistente do Oberlin College. De 1968 e 1986, lecionou na Universidade Yale, na qual obteve seu doutorado em 1956. Também trabalhou como economista na Rand Corporation (1957-1960, 1963-1968) e foi membro sênior (de 1961 a 1963) do Council of Economic Advisors, órgão de assessoramento econômico da Casa Branca. Entre 1981 e 1986, atuou como diretor da Institution for Social and Policy Studies. |
Luciano Coutinho, Eduardo Krieger, João Steiner, Hernan Chaimovich e Hermano Tavares
Dia 8 de março de 2006, Eduardo Krieger, presidente da Academia Brasileira de Ciências, fez a conferência "Perspectivas da Ciência e Tecnologia no Brasil", segundo evento do Ciclo Temático sobre Inovação Tecnológica.
O evento teve como debatedores Hermano Tavares, reitor pro tempore da Universidade Federal do ABC e ex-reitor da Unicamp; Luciano Coutinho, do Instituto de Economia da Unicamp; e Hernan Chaimovich, diretor do Instituto de Química da USP e conselheiro do IEA.
De acordo com Krieger, a produção científica tem crescido a uma taxa média de 8% ao ano e o Brasil aparece bem cotado como destino de investimentos de transnacionais em pesquisa e desenvolvimento. Ele considerou que é o momento de governo, academia e empresas se unirem para que o País utilize esses recursos de forma a transferir o conhecimento ao setor produtivo, de forma a aumentar a riqueza e melhorar a qualidade de vida dos brasileiros
INDÚSTRIA
a partir da esquerda, Roberto Vermulm, João Steiner, Glauco Arbix e Júlio Sérgio Gomes de Almeida
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O ciclo teve continuidade no dia 17 de março de 2006, com a conferência "Inovação Tecnológica e Desenvolvimento Industrial", de Glauco Arbix, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Um dos debatedores foi Roberto Vermulm, do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP.
Segundo Arbix, um dos indícios da existência de um novo padrão de competitividade da indústria brasileira é o fato de a inovação e a diferenciação de produtos fazerem parte das estratégias competitivas de um conjunto de empresas que representa 25,9% do faturamento industrial. Além disso, de acordo com pesquisa do Ipea, 23,1% das empresas que inovam e diferenciam produtos e 13,2% daquelas especializadas em produtos padronizados realizaram inovação para se adequar a normas e padrões internacionais. A pesquisa também apontou que as empresas que realizam inovação tecnológica possuem 16% mais chances de se tornar exportadoras.
INDÚSTRIA Carlos Américo Pacheco defende a adoção de uma agenda de C&T voltada para a inovação |
De acordo com estudos recentes do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), há entre as empresas do País um subgrupo que se destaca pela inovação. São empresas com capacidade de competir nos mercados externos e obter preço prêmio em suas exportações, graças à sua capacidade de introduzir inovações de processo e de produto. Essas empresas pagam melhores salários, empregam mão-de-obra mais qualificada e tem maior presença nos mercados internacionais. Mas constituem exceção no panorama industrial brasileiro. Os indicadores sobre P&D e atividade inovativa disponíveis são claros quanto ao desempenho ainda insuficiente das empresas brasileiras em termos de inovação, segundo Carlos Américo Pacheco, do Instituto de Economia da Unicamp, que fez no dia 8 de novembro de 2006, a conferência "Uma Nova Agenda de Ciência e Tecnologia para o Brasil”, dentro do Ciclo Temático sobre Inovação Tecnológica. O evento teve como debatedores Claudio Vaz, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), e Vahan Agopyan, diretor presidente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) e professor da Escola Politécnica da USP. Pacheco lembrou que nos dois últimos levantamentos da Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (Pintec) do IBGE, menos de um terço das empresas declarou ter inovado nos dois anos anteriores à realização da pesquisa, "um percentual cerca de duas vezes menor do que o apontado em pesquisas similares para a média das empresas dos países desenvolvidos". O desempenho das empresas é fraco nas inúmeras dimensões da inovação, mas é mais grave na dimensão de produtos novos para o mercado. Segundo Pacheco, isso evidencia que as inovações mais relevantes ocorrem em processos que são inovadores para as empresas, mas já conhecidos pelo mercado: "Prevalecem inovações de processos induzidas pelos fornecedores das próprias empresas". P&D O economista ressaltou que é especialmente baixo o esforço interno das empresas em pesquisa e desenvolvimento (P&D), com dispêndio e recursos humanos exíguos, o que salienta "a enorme distância que existe entre essas empresas e as empresas líderes no mercado internacional". Em paralelo à baixa capacidade de inovação das empresas e em parte associada a ela, Pacheco vê uma segunda questão crítica da agenda brasileira: a natureza da estrutura setorial da indústria, "em que é reduzido o peso de setores de maior intensidade tecnológica, qualquer que seja a taxonomia empregada para definir o conteúdo tecnológico da indústria". Diante de um contexto de forte mudança tecnológica, onde há um peso crescente dos setores vinculados às tecnologias de informação e comunicação, biotecnologia, nanotecnologias etc., o País se depara com desafios que transcendem à melhora da performance inovativa das empresas, diagnostica Pacheco. "É preciso ter clareza sobre como aproveitar as janelas de oportunidades abertas pela mudança técnica e/ou como evitar atrasos maiores decorrentes de estratégias frágeis de adaptação a esses processos de mudança estrutural." ESTRATÉGIA Ele defendeu a adoção de uma estratégia tecnológica para a indústria que identifique oportunidades e construa uma capacidade industrial em novos setores e, ao mesmo tempo, contemple uma atualização permanente da base técnica, buscando especialmente agregar valor à produção, mesmo em setores tradicionais. Pacheco destacou que "é preciso saber escalar nas diversas cadeias de valor, inclusive em commodities nas quais o país é competitivo, em direção às atividades intensivas em conhecimento e inovação". Segundo ele, a indústria precisa saber tirar maior proveito dos investimentos que o Estado brasileiro fez na montagem da infra-estrutura acadêmica, que considera "bastante competitiva, mas subutilizada devido às várias limitações mencionadas de baixo esforço de inovação e pesquisa por parte do setor privado". Pacheco ressaltou que o quadro institucional brasileiro (ou ao menos a discussão sobre a dimensão institucional da política do setor) vem se alterando nos últimos anos, com o surgimento de novos modelos de organizações de pesquisa e novas possibilidades de parcerias públicas-privadas, a partir da aprovação da Lei de Inovação. "Mas, na sua essência, esse quadro institucional — herdado nas suas linhas gerais dos anos setenta — é obsoleto e não responde aos requisitos para uma nova política tecnológica." Ele defendeu maior ênfase na implementação e aplicação das possibilidades legais: "Esses novos instrumentos tiveram pouquíssimas consequências reais e, em razão da falta de experimentação, pouco se sabe acerca de sua eficácia jurídica e econômica e de sua adequação à realidade brasileira". INTERAÇÕES Há um consenso amplo da necessidade de estimular e fomentar uma maior interação universidade–empresa e entre empresas, com o objetivo de ampliar a cooperação entre os atores do sistema de inovação, a exemplo do que revelam as melhores práticas internacionais. Entretanto, "há aqui um enorme esforço a ser realizado, em função da fragilidade das interações, da carência de uma cultura de colaboração, ainda que se destaque o ensaio recente de iniciativas públicas de estímulo a essas modalidades de parcerias". Na avaliação de Pacheco, apesar dos avanços dos últimos anos, com a clara indicação de que inovação é componente fundamental da política industrial e da política de C&T, ainda há muito a fazer para que se dê consistência e concretude às ações públicas e privadas nessa área. Além da urgência em atribuir-se ênfase e conseqüência às políticas industriais de apoio à inovação e ao desenvolvimento tecnológico das empresas, ele destaca também que é especialmente relevante orientar os recursos disponíveis para o suporte às atividades de P&D e inovação do setor privado, ampliando-se o caráter indutor do gasto público. "Quando comparado com outros países, o gasto público brasileiro em P&D não é baixo, em termos relativos ao PIB. Mas é evidente que esse gasto não é um bom indutor do gasto privado, esse sim muito baixo em relação ao PIB, comparativamente à média internacional." COORDENAÇÃO Em sua opinião, a nova agenda da política de CT&I é complexa e de difícil implementação: "Requer uma forte capacidade de coordenação intragovernamental e de articulação de atores; requer, especialmente, uma capacidade de renovação institucional que esbarra na falta de agilidade do governo, em uma série de conflitos de interesses e, especialmente, na falta de clareza de quais são as possibilidades futuras de inserção competitiva do Brasil, em termos das principais atividades econômicas". Para Pacheco, a política de CT&I deveria ser o corolário de uma estratégia de transformação produtiva, que fizesse frente às rápidas mudanças internacionais (a emergência da China como grande centro de manufatura mundial e a evolução da fronteira tecnológica). "Temos uma grande dificuldade de vislumbrar qual é essa estratégia, quanto mais de alinharmos uma agenda de política coerente com essa estratégia." PERFIL Professor do Instituto de Economia da Unicamp, onde tornou-se mestre e doutor em economia, Pacheco fez pós-doutorado na mesma área na Universidade Columbia (EUA). Graduou-se em engenharia elétrica no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). É consultor especial do Sistema de Parques Tecnológicos do Estado de São Paulo. Foi secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia e coordenador do Núcleo de Economia Social, Urbana e Regional da Unicamp. Produziu mais de 50 trabalhos, entre artigos publicados em revistas especializadas, livros, capítulos de livros, relatórios técnicos e de pesquisa. Suas linhas de pesquisa são: dinâmica econômica regional; desenvolvimento tecnológico; competitividade industrial; e demografia e urbanização. |
a partir da esquerda, Carlos Alberto Schneider, João Steiner, Flávio Grynspan e Antonio Carlos M. Robazzi
No dia 23 de novembro de 2006, o Ciclo sobre Inovação Tecnológica teve continuidade com o painel "Parques Tecnológicos e Incubadoras como Instrumentos de Inovação", com a participação de Antonio Carlos Robazzi (ARC Controle de Investimentos), Flávio Grynspan (Grynspan Projetos e Serviços Empresariais), José Eduardo Azevedo Fiates (Centro de Referência em Tecnologias Inovadoras da Universidade Federal de Santa Catarina) e João Steiner (diretor do IEA e coordenador do Sistema de Parques Tecnológicos do Estado de São Paulo). Instrumentação Médica O último evento do ciclo foi a conferência "Desafios da Inovação Tecnológica em Instrumentação Médica", com o cirurgião e empresário Domingo Braile, no dia 28 de novembro de 2006. Professor da Unicamp e da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, ele criou no final do anos 70 a empresa Braile Biomédica, em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, para produzir válvulas cardíacas de pericárdio bovino, por ele idealizadas no Brasil. A partir do sucesso com as válvulas, a empresa se transformou num centro fabricante de cerca de 250 produtos, entre os quais válvulas biológicas porcinas, bomba de circulação extracorpórea, termômetros de agulha e retal, stents, cronômetro triplo, oxigenadores de membrana e bolha, reservatórios e filtros de sangue. A Braile Biomédica exporta 15% de sua produção para 21 países da América Latina, Europa, Oriente Médio e sul da Ásia. Livre docente em cirurgia cardíaca desde 1994, Braile orientou 35 dissertações e teses. É editor chefe da Revista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular. Publicou 17 capítulos, editou um livro e tem 229 artigos publicados em periódicos especializados. |