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Allotments na Inglaterra

por Fernanda Rezende - publicado 09/12/2020 10:12 - última modificação 09/12/2020 10:12

Marcos Alcocer, BSc, MSc, PhD Professor em Bioquimica pela Universidade de Nottingham, UK (aposentado). Vive em Hathern, Inglaterra.

por Marcos Alcocer, BSc, MSc, PhD
Professor em Bioquimíca pela Universidade de Nottingham, UK (aposentado). Vive em Hathern, Inglaterra.

O termo “allotment” ou “jardins Victorianos” para terrenos urbanos cultivados e’ muito usado na Inglaterra. O mesmo conceito e’ conhecido como “community garden” nos EUA, “Schreber garden” em países Germanicos, parques hortícolas em Portugal, “leisure garden” em vários países escandinavos e muito divulgado na Russia onde baseia-se na cultura das famosas “Dachas” (Wikipedia, 1).

Com pequenas variações trata-se de uma terra pública (100-250 m2) alugada à população pela administração municipal a preços simbólicos (£20-25 /ano) visando o cultivo de vegetais e hortaliças. Um terreno no centro da cidade no qual moradores locais cultivem e mantenham hortas comunitárias.

Schwabing
Allotment em Schwabing, Munich, Alemanha como exemplo. Créditos: Dan Mihai Pitea - Own work. CC BY-SA 4.0 File:Kleingartenanlage am Ackermannbogen, Schwabing, München

Na Inglaterra allotment e’ um conceito muito antigo, anterior ao século 18, oficializado com o “ato de inclusão” assinado pelo rei George III em 1809, doando parte das terras da coroa em perpetuidade para os pobres. O nome do reverendo Stephen Demainbrau e sua demanda por terras para os pobres esta historicamente ligado ao favor real (2).

Com a mudança do sistema feudal para um modelo de propriedades privadas capitalista e acompanhando a ebulição criada pela revolução industrial muitas modificações, adendos e atos foram discutidos a nível municipal e no parlamento. Nos anos 50 as autoridades locais passaram a ser obrigadas a manter uma "provisão adequada" de terras então subdividida em jardins de loteamento de baixo aluguel para os residentes locais. Estas terras ao longo do tempo passaram a fornecer boa parte dos vegetais frescos consumidos pela camada mais pobre da população. Os allotments foram vitais à nutrição e sobrevivência da população durante os difíceis períodos de guerras mundiais (campanha do “Dig for Victory!”) e contribuíram como fonte de trabalho no retorno dos soldados no período pós guerra.

Garotos com pás
Garotos com pás e enxadas trabalhando nos destroços do bombardeio alemão no East End de Londres 1942. Créditos: Ministry of Information Photo Division Photographer - http://media.iwm.org.uk/iwm/mediaLib//39/media-39980/large.jpg Esta foto é de domino publico registarada como D 8956 na coleção do Imperial War Museums

Em números, após a primeira guerra mundial (1918) havia cerca de 1,5 milhões de allotments no Reino Unido e um numero um pouco menor após a segunda guerra (1948). Com a modernização do pais, retomada da industrialização e a chegada de outras formas de laser, durante os anos 50 a 70 houve um decréscimo grande no numero de allotments, com não mais do que 500.000 registrados em 1977. Estima-se que nos dias de hoje existam 300.000 allotments no pais (3) e segundo os últimos censos da Sociedade Nacional de Allotments (4) existam hoje 52 famílias em lista de espera para cada 100 lotes.

Recentemente, apesar da enorme pressão imobiliária, há um crescente questionamento e conscientização da população sobre problemas ambientais e mudanças climáticas o que resulta em uma maior auto-suficiência em quase todas as cidades pós-industriais do mundo desenvolvido. Esse debate é uma resposta direta à inflação dos preços dos alimentos, a um desejo de produzir ingredientes vegetais de alto valor nutritivo, alimentos mais seguros e acima de tudo da redução da milhagem agregada aos alimentos. Sāo estes temas atuais abordados em simpósios de agricultura urbana no mundo afora.

Em vista da recente pandemia, houve um inevitável aumento da busca de allotments mas infelizmente os dados revisados oficiais ainda não são conhecidos. Em março de 2020 a National Society of Allotment & Leisure Gardeners divulgou uma longa lista de medidas preventivas a serem adotadas pelos associados em vista da nova realidade(4).