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Boletim IEA — 177

por Marilda Gifalli - publicado 15/05/2014 16:55 - última modificação 16/01/2020 15:50

Julho de 2012
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LANÇAMENTO

Livro analisa as tensões e interações interculturais

PROPOSTAS
IEAs de Nova Delhi e de São Paulo
destacam importância do pensamento inovador

LANÇAMENTO
Livro analisa as tensões e interações interculturais

 

No contexto de globalização crescente, em que o Brasil figura entre as economias que mais crescem no mundo, o perfil das migrações envolvendo o país vem mudando. Se antes o movimento migratório caracterizava-se pela saída de pessoas, atualmente nota-se um aumento do número de estrangeiros entrando e de brasileiros retornando. Em sintonia com esse novo cenário, marcado pelas tensões que emergem do contato entre culturas, o Grupo de Pesquisa Diálogos Interculturais do IEA lança o livro "Diálogos Interculturais: Reflexões Interdisciplinares e Intervenções Psicossociais", editado pelo Instituto e já disponível para download gratuito.

Organizada por Sylvia Duarte Dantas, coordenadora do grupo, a obra consiste numa coletânea de 17 textos divididos em três partes, precedidos de prefácio escrito pela psicóloga Bader Sawaia, professora titular da PUC-SP e ex-conselheira do IEA, e de introdução de Dantas. A primeira parte compila debates travados no seminário Diálogos Interculturais: O Que Somos e o Que Revelamos, realizado em novembro de 2010 pelo grupo, com apoio do Curso de Serviço Social da Unifesp. São reflexões teóricas de pesquisadores que vêm investigando as interações entre culturas a partir de diferentes disciplinas, como literatura, sociologia, psicologia e antropologia.

A segunda parte reúne estudos apresentados no seminário Orientação Intercultural: Novas Reflexões e Campos de Intervenção, que aconteceu em junho de 2007 como parte do projeto Intervenção Psicossocial no Processo de Inserção Cultural, desenvolvido no Instituto de Psicologia (IP) da USP por Dantas e pelo professor Geraldo José de Paiva. Os textos, produzidos por pesquisadores que integraram a equipe do projeto, exploram casos de orientação e atendimento de pessoas confrontadas com novas culturas.

Dois textos independentes dos seminários compõem a terceira parte da obra. Eles ilustram a interculturalidade através do relato da experiência de imigrantes no Brasil. Trata-se do depoimento de um pesquisador coreano que conta sua vivência pessoal como estrangeiro vivendo no país desde os oito anos; e de um artigo com os resultados de uma pesquisa de mestrado sobre a realidade de imigrantes muçulmanas na cidade de São Paulo.


Sylvia Dantas: "O contato entre
culturas pode ser tanto
enriquecedor quanto endurecedor"

INTERDISCIPLINARIDADE

Segundo Dantas, o fio condutor de todo o livro é o contato entre culturas visto a partir de uma perspectiva interdisciplinar: "A coletânea de textos expressa a complexidade dessa questão, que não pode ser abordada com base em uma só disciplina. Ao olhar a interculturalidade através das lentes de uma única disciplina corre-se o risco de reduzir e engessar algo que é complexo e paradoxal, pois o contato entre culturas pode ser tanto enriquecedor, por desnaturalizar o que é tido como dado ao expor outras formas de ser, agir e pensar, quanto endurecedor, já que também resulta em manifestações de intolerância, dominação, imposição e violência".

GLOBALIZAÇÃO

A pesquisadora também destaca que a temática do livro é estratégica no contexto atual de globalização e, particularmente, de crise econômica mundial, que vem provocando alterações nos movimentos migratórios, como as que se observam no Brasil, e suscitando novas formas de interação entre as culturas. "É preciso compreender esses fenômenos para então pensar políticas que promovam relações mais igualitárias e humanizadas com os migrantes", alerta.

Na opinião da organizadora do livro, o que ocorre nesse momento de globalização é a desumanização de grupos e o acirramento de fronteiras: "Em qualquer lugar, o migrante sempre é visto como uma ameaça em uma situação de crise, e o Brasil não está isento disso. Nosso histórico de colonização e escravidão deixou marcas profundas, sobretudo na forma de uma hierarquização das etnias e nações. Imigrantes vindos de países do norte e do sul recebem tratamentos diferentes dos brasileiros. Nós sofríamos um preconceito que agora se reproduz aqui, com pessoas vindas da África negra ou do Haiti, por exemplo".

 

PROPOSTAS
IEAs de Nova Delhi e de São Paulo
destacam importância do pensamento inovador

 


Aditya Mukherjee e Martin Grossmann apresentaram as
propostas dos dois institutos a grupo de convidados
Alguns institutos de estudos avançados funcionam apenas com pesquisadores estrangeiros sem atividades predeterminadas, como é o caso do IEA da Universidade Jawaharlal Nehru (JNU), de Nova Delhi, Índia. Outros, como o IEA-USP, atuam com pesquisadores nacionais e estrangeiros em projetos individuais ou inseridos em grupos temáticos. Os perfis são variados, mas uma diretriz é comum a esse tipo de instituto: o estímulo à reflexão livre, interdisciplinar e inovadora.

Em encontro realizado em 25 de junho, essa característica marcante ficou evidente na apresentação das propostas de trabalho do Instituto de Estudos Avançados Jawaharlal Nehru (JNIAS) e do IEA-USP por seus diretores, Aditya Mukherjee e Martin Grossmann, respectivamente.

INSTITUTO GLOBAL

Para situar o contexto da criação do JNIAS em 2004, Mukherjee destacou que a JNU surgiu em 1969 para estimular o desenvolvimento das ciências sociais na Índia de forma semelhante ao crescimento apresentado pelas ciências naturais nos anos 50 e 60.

"A JNU é uma universidade pública e gratuita criada com o objetivo de ser um centro de pensamento independente, que não replicasse os centros de reflexão do Ocidente; de abrangência nacional, com o recrutamento de estudantes de toda a Índia; e secular, no sentido indiano do termo: não avessa à religião, mas sem ligação com nenhuma delas."

O JNIAS tem por meta ser um instituto global. Todos os residentes são estrangeiros e de preferência de lugares do mundo com pouco intercâmbio acadêmico com a Índia. Já contou com a participação de pessoas de 25 países, inclusive um microbiologista brasileiro. "O desafio é conseguir um bom pesquisador. Quando isso acontece, basta sua presença no instituto. Todos o convidarão e ele ficará ocupado o tempo todo com palestras, seminários e contatos com os estudantes," comentou.

Para estimular a troca de ideias e experiências, o JNIAS funciona em um prédio próprio, com apartamentos onde vivem seus integrantes e espaços para convivência e eventos. Atualmente há 14 pesquisadores residentes e o objetivo é atingir 30, de acordo com Mukherjee. O instituto procura sempre contar com a participação de pelo menos uma pessoa das áreas de criação (artes visuais, cinema, teatro, literatura etc.), "que é sempre quem faz as perguntas mais difíceis nas apresentações de cientistas".

Mukherjee disse que um dos casos mais bem sucedidos foi a residência do dramaturgo, poeta e ativista social sul-africano Ari Sitas, que trabalhou com Nelson Mandela no movimento de reconciliação da África do Sul: "Não lhe pedimos para ensinar. Ele simplesmente veio e foi convidado a trabalhar no país inteiro. Isso é o melhor que podemos fazer. A universidade, a cidade, o país devem se beneficiar das pessoas que conseguimos trazer".

TRANSIÇÃO

"O IEA-USP é vanguarda no sistema conservador que é a Universidade. Não que ela seja do passado. De forma alguma. Ela é o bastião do conhecimento. Mas para se atualizar, estar em sintonia com novas realidades, precisa de agentes como o IEA", comentou Grossmann na sua apresentação.

Ele considera que o Instituto está numa fase de transição, depois de seus primeiros 25 anos com um perfil de atuação tipicamente modernista, baseado nas contribuições de grandes nomes da ciência e da cultura. "É preciso resgatar o seu papel de lugar do debate, da troca de experiências, onde encontros impossíveis se tornem possíveis e aqueles irreconciliáveis confrontem suas ideias."

A preocupação de Grossmann na passagem para uma conjuntura pós-modernista é como o Instituto poderá agir de forma mais metacrítica, mais consciente da constituição de novas centralidades: "É preciso promover mudanças no sistema operacional do IEA, não só para ele se relacionar com o que acontece, mas também para ter a ambição de promover transformações".

Foi com esse espírito que Grossmann apresentou seu Projeto de Gestão 2012-2017 ao Conselho Deliberativo do Instituto em maio. Nele, propôs a instituição de um novo modo de organização das atividades: a organização de temáticas que "permitam uma melhor ideia de identidade do IEA, deixando mais claros os objetivos e metas e aprimorando a comunicação entre os grupos de pesquisa".

METACURADORIAS

As temáticas serão tratadas como metacuradorias, uma concepção de gestão mais crítica e mais transparente em termos das linguagens utilizadas, segundo Grossmann. "Em vez de dar voz a um sujeito, empoderar um curador, a metacuradoria já parte do princípio de que os organizadores são vários: um grupo interdisciplinar que dê conta de temáticas urgentes que merecem atenção científica ou cultural". As metacuradorias previstas no projeto são quatro: O Comum, Transformação, Glocal e Abstração.

O Comum será o espaço da coletividade, do acesso, do bem-estar, da democracia, dos direitos humanos, da justiça social, das ambiências e interfaces socioculturais. "A escolha dessa temática surgiu de uma análise crítica da USP, sobre como tratar a questão da democracia e do diálogo entre os setores que a compõem, sobre como dialogar com a sociedade e a ela prestar contas." Grossmann informou que o desembargador José Renato Nalini, conselheiro do IEA, já propôs um tema de análise: a judicialização da vida brasileira, com todas as disputas entre os indivíduos sendo levadas aos tribunais.

A metacuradoria Transformação tem por objeto a educação e sua capacidade de transformar. "Os governos do país desde a redemocratização não apresentaram projetos claros de educação. Se o Brasil pretende se tornar uma centralidade e atrair conhecimentos e experiências, tem de passar por uma transformação imbricada no social e aí a educação torna-se fundamental para transformar a sociedade."

Para Grossmann, essa metacuradoria poderia inclusive abrigar as discussões sobre o futuro da USP.
O Glocal é em si um paradoxo, com a presença de contradições, desigualdades e impropriedades: "É um conceito que os pensadores pós-modernistas têm utilizado com frequência para entender as relações entre a globalização e os processos locais e como estes são neutralizados por aquela. Nesse aspecto, o IEA pode ser um parceiro na elaboração da política de internacionalização da USP, inclusive na identificação de outros parceiros além de universidades norte-americanas e europeias".

A metacuradoria Abstração volta-se para as especulações teóricas, filosofia, pensamento abstrato em geral, uma vez que é a partir dessas reflexões que a ciência define seus rumos e, no final, possibilita aplicações diversas do conhecimento. Grossmann destacou que esse ponto de reflexão, de pensamento do novo e de novas interfaces é fundamental no desenvolvimento de um instituto como o IEA.

Ele pensa inclusive na possibilidade de uma Academia IEA e citou como prenúncio disso um projeto formulado no âmbito da Ubias, rede de IEAs vinculados a universidades, da qual o JNIAS e o IEA fazem parte. Nesse projeto, 30 jovens pesquisadores com potencial para serem líderes nas suas áreas de conhecimento passarão por uma imersão de um mês na IEA-USP e depois mais um mês no Instituto de Pesquisa Avançada da Universidade de Nagoya, Japão, sob a tutoria de três cientistas de prestígio internacional.

APLICAÇÃO

Em complemento às metacuradorias, Grossmann propõe a criação de um Programa de Altos Estudos Dirigidos: "A USP recentemente ampliou as atividades  em Santos, tendo em vista as descobertas de petróleo e gás no pré-sal. A USP está dando respostas à formação de profissionais e ao desenvolvimento de tecnologias para a área. Mas será que não existem outras demandas reprimidas ou que se possam imaginar para o futuro próximo?"

Por fim, destacou que o IEA pretende fazer pleno uso das transmissões em alta definição possibilitadas pela internet 2 e com isso propiciar a existência de residências virtuais:  "Um formato previsto é o de debates com telepresença, com a participação de pessoas ao redor do mundo em um cenário digital avançado".

 

EXPEDIENTE

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Reitor: João Grandino Rodas
Vice-Reitor: Hélio Nogueira da Cruz
Vice-Reitor Executivo de Administração: Antonio Roque Dechen
Vice-Reitor Executivo de Relações Internacionais: Adnei Melges de Andrade
www.usp.br

INSTITUTO DE ESTUDOS AVANÇADOS
Diretor: Martin Grossmann
Vice-Diretor: Luiz Roberto Giorgetti de Britto
Coordenador do Polo de Ribeirão Preto: Oswaldo Baffa Filho
Vice-Coordenador do Polo de Ribeirão Preto: André Lucirton Costa
Coordenador do Polo de São Carlos: Roberto Mendonça Faria
Conselho Deliberativo: Euclides Ayres de Castilho, João Palermo Neto, José Renato Nalini, Luiz Roberto Giorgetti de Britto, Martin Grossmann, Oswaldo Baffa Filho, Renato Janine Ribeiro, Roberto Mendonça Faria, Ruby Rudy Arellano e Silvio R. Salinas
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