Aumento do discurso de ódio impacta agenda sobre direitos das mulheres no Legislativo
Há pelo menos dez anos, o Brasil tem visto uma ascensão de movimentos e ideias com perfil mais conservador. Paralelamente, houve aumentos frequentes nas estatísticas de crimes cometidos contra mulheres em função do gênero. O USP Analisa desta quinta (25) conversa com a professora da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da USP Fabiana Severi sobre uma possível relação entre esses dois fatos.
Segundo a docente, desde 2012 houve um aumento no discurso de ódio às mulheres e em discursos que legitimam mudanças legais prejudiciais às conquistas em termos de direitos, e isso impactou negativamente a agenda do Poder Legislativo.
“Já faz tempo que a gente não tem mudanças normativas significativas de avanço dos direitos das mulheres. Ao contrário, às vezes há até algumas medidas populistas. A lei do feminicídio, no final das contas, é uma mudança populista recente que colocou mais pena, mas o que a gente gostaria mesmo era ter aumento orçamentário e fortalecimento das políticas. A gente teve, sim, uma retomada leve de orçamento federal, de organização das políticas de enfrentamento à violência doméstica e de combate ao feminicídio, agora no início do governo do atual presidente, mas não ainda à altura daquilo que existia no governo Dilma”, explica Fabiana.
A professora destaca a importância da sociedade perceber alguns “cavalos de Tróia” escondidos em algumas propostas e debates que parecem favoráveis aos direitos das mulheres, mas que, na verdade, acabam trazendo prejuízos a eles. Ela cita como exemplo o debate sobre gênero nas escolas, que gera polêmica entre setores mais conservadores da sociedade.
“É um debate ainda presente e que as pessoas confundem muito. Quando se fala em gênero, não precisa ter medo da palavra. Ninguém vai mudar o sexo do outro ou fazer discussão sobre a vida íntima das pessoas. A gente está falando de papéis sociais, ou seja, como é construído o lugar social de homens e mulheres na nossa sociedade. A gente quer que as mulheres possam seguir suas vontades, fazer as suas escolhas independente desse papel. E também sensibilizar crianças e adolescentes de que algumas interações em relacionamentos afetivos ou na própria família não devem ser aceitas. Então, aumentar o vocabulário, aumentar a sensibilidade das pessoas para entender que aquela atitude do outro é uma violência, é uma intrusão. É isso que gênero nas escolas faz”, afirma.
O USP Analisa é quinzenal e leva ao ar pela Rádio USP às quintas-feiras, às 16h40, um pequeno trecho do podcast de mesmo nome, que pode ser acessado na íntegra nas principais plataformas de podcast.
O programa é uma produção conjunta do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP e da Rádio USP Ribeirão Preto. Para saber mais novidades sobre o USP Analisa e outras atividades do IEA-RP, inscreva-se em nosso canal no Telegram ou em nosso grupo no Whatsapp.